Petra Zacek venceu última edição da Copa do Mundo de Mercados Futuros com rentabilidade de 257% (Robbins/Divulgação)
Guilherme Guilherme
Publicado em 9 de outubro de 2019 às 12h45.
Última atualização em 28 de abril de 2022 às 08h57.
Com performance que impressiona qualquer gestor de fundos, Petra Zacek venceu a última edição da Copa do Mundo de Mercados Futuros, a World Cup Championship of Futures Trading. Uma das mais respeitadas e tradicionais do mercado financeiro, a competição já foi vencida pelo famoso trader Larry Williams é é organizada desde 1984 pela Robbins Trading Company, que oferece serviços de automação de investimentos.
Nascida na República Tcheca, Zacek foi campeã em 2018 com uma rentabilidade de 257% no ano, muito superior à obtida pelo segundo colocado, o americano Paul Skarp, que alcançou "somente" 65% de retorno. O campeonato tem duração de um ano e possui algumas exigências para mitigar o fator sorte, como a obrigação de fazer um número mínimo de operações no período.
Petra foi a terceira mulher a vencer a competição e a segunda em menos de dez anos. O tabu foi quebrado ainda em 1997, pela filha de Larry Williams, Michelle Williams, que foi campeã aos 17 anos. Hoje ela é conhecida por sua carreira em Hollywood, que além de dinheiro já lhe rendeu Globo de Ouro e indicações ao Oscar.
A tcheca, por outro lado, tem uma vida inteira dedicada ao mercado financeiro. O contato veio cedo. Ainda jovem, ela passou por diversos bancos de investimento. Entre os maiores, se destacam Merrill Lynch e Credit Suisse. Após atuar por 15 anos no setor, ela decidiu usar a experiência para operar suas próprias economias. Para isso, precisou deixar o trabalho, já que a situação implicaria em possível conflito de interesse, segundo ela.
Atualmente, Petra vive nos Estados Unidos, onde investe em diversos tipos de ativos, que vão desde ações a artigos colecionáveis. Sua especialidade, no entanto, é o mercado de futuros, onde aplica em índices acionários, moedas e commodities, principalmente as com maior liquidez. Uma de suas principais táticas é o spread futuro, técnica de arbitragem que consiste na compra e venda simultânea de contratos futuros com relação entre si. Um exemplo disso seria o spread futuro intra-mercado, que envolve produtos diferentes, mas relacionados, como milho e trigo. O outro seria o inter-mercado, que visa a diferença de preço de contratos de um mesmo produto, mas com datas de vencimento diferentes. A estratégia também é usada para fazer hedge.
Em entrevista a Exame, Petra Zacek contou sobre como foi participar da Copa do Mundo de Mercados Futuros e deu dicas para quem está começando a investir. Confira:
Trabalhei por 15 anos em mesas de operações dos maiores bancos de investimento, como Merrill Lynch, Credit Suisse, Credit Agricole e Natixis. Eu era responsável por clientes institucionais de toda Europa, Oriente Médio e África.
Sim, eu comecei a operar meu próprio dinheiro quando deixei os bancos de investimento. Grandes bancos, normalmente, não deixam seus operadores fazerem trade com seu próprio dinheiro devido a potenciais conflitos de interesse e informação privilegiada.
Eu sou, basicamente, uma trader de spread futuro. Então, opero intra-commodity e inter-commodity. Eu acredito que isso me ofereça uma relação lucro/risco muito melhor se comparado a outras operações.
Eu participei do Campeonato de Ações e Índices Futuros [da Robbins] do quarto trimestre de 2017 como um teste para descobrir como eu iria me sair e como isso impactaria minhas operações, meu sono e outros aspectos da minha vida. Eu terminei em sexto naquela vez.
Não. Antes disso, eu nunca havia pensado em competir em algum evento desses. Até porque quando se trabalha na mesa de operações de [investidores] institucionais, participar de qualquer tipo de campeonato é, geralmente, fora de cogitação.
De tempos em tempos eu recebo essas ligações. No entanto, ainda estou esperando pela oportunidade certa. Fazer trade no mundo institucional é bem diferente de operar dinheiro privado, mesmo que seja de alto nível.
No geral, eu me envolvo com colecionáveis, ativos imobiliários, ações, renda fixa e futuros. Na frente de futuros, opero a maioria das commodities mais líquidas, índices de ações e moedas futuras, basicamente, qualquer futuro desde que caibam na minha carteira.
Eu não opero muito moedas, embora eu tenha feito varias grandes transações durante meu tempo no mundo institucional. Riscos corporativos e hedge para grandes empresas de petróleo e gás eram uma das minhas especialidades. Mas opero moedas no mercado de futuros, principalmente em oportunidades especiais, que tendem a ser mais fundamentalistas e de longo prazo.
Eu não tenho sistemas de algoritmos funcionando e operando compra e venda de dólar australiano, como as pessoas tendem a fazer. Mas uso sistema de operação automatizado se a operação exigir o uso do método. Por exemplo, quando não tem outro jeito de entrar em posições simultâneas e não quero correr o risco de deixar pontas soltas. Também uso bastante sistemas automatizados para análises de séries históricas e para emitir alertas especiais, que são mais complexos e exigem a inserção de códigos extensos.