Bolsa desaba e dólar dispara no México: por que o mercado não gostou do resultado das eleições
Partido do atual presidente López Obrador garante mais seis anos na Presidência e amplia poder no Legislativo
Repórter
Publicado em 3 de junho de 2024 às 14h55.
Última atualização em 3 de junho de 2024 às 19h27.
Uma tempestade perfeita arrasa o mercado mexicano nesta segunda-feira, 3, com a bolsa do México caindo próximo de 5,6% e o dólar subindo perto de 4% frente ao peso mexicano. A forte desvalorização da bolsa e da moeda mexicana ocorre em reação do mercado ao resultado das eleições do fim de semana.
A corrida presidencial foi vencida por Claudia Sheinbaum, do Morena, mesmo partido do atual presidente López Obrador. Embora o mercado já esperasse que Sheinbaum vencesse o pleito, a larga margem de vitória do Morena, especialmente nas eleições estaduais e para o Congresso, impressionou. A projeção, no Legislativo, é de que o Morena tenha alcançado uma fatia próxima de 2/3 das cadeiras, o suficiente para mudanças na Constituição. A vantagem é maior que a registrada quando Obrador foi eleito, em 2018. No México, as eleições presidenciais são realizadas a cada seis anos e as legislativas, a cada três anos.
Com a oposição enfraquecida, um dos principais temores é de que a nova conjuntura da política mexicana facilite propostas controversas que já vinham sendo levantadas pelo Morena durante o mandato de López Obrador. Uma delas é o desmonte de toda a Suprema Corte do país, com os futuros juízes passando a ser eleitos por voto popular. A possibilidade chegou a ser sondada por Obrador, mas não teve apoio político suficiente.
Paralelamente, também há preocupações sobre a indicação de Sheinbaum para a Suprema Corte em novembro, quando um dos 11 juízes irá se aposentar. O temor é de que o tribunal passe a agir a favor dos interesses do Morena. No México, para a suprema corte determinar que uma lei é inconstitucional são necessários oito dos 11 votos. Com a indicação de Sheinbaum, o Morena passará a ter quatro juízes indicados para a corte, o suficiente para barrar qualquer iniciativa de classificar uma nova lei como inconstitucional.
"Um resultado claramente negativo"
"Do ponto de vista dos mercados, o resultado é claramente negativo", afirma o BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME). Na avaliação do banco, qualquer reforma mais radical, como a da corte suprema, deve sofrer modificações, "mas são diretamente negativas para os mercados e para o setor privado".
De viés mais à esquerda, o governo de Obrador foi marcado pelo aumento de programas sociais, embora o país tenha gastado menos que seus pares durante o período mais crítico da pandemia. Alberto Ramos, head de economia latino-americana no Goldman Sachs, avalia que os programas sociais e a alta aprovação de Obrador tiveram papel decisivo na grande vitória do Morena.
A bolsa do México, até o início do pregão, vinha rodando com um preço/lucro de 12,2 vezes, 20% abaixo da média dos últimos dez anos. Apesar do desconto, analistas do Bradesco BBI recomendam maior cautela em investimentos no México diante dos riscos legislativos, taxas de juro mais altas e "algumas nuances domésticas".