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Da Redação
Publicado em 17 de março de 2011 às 21h15.
São Paulo - A Bolsa de Tóquio opera com queda superior a 3% no pregão de quinta-feira (17), afetada pela preocupação dos investidores locais de que a valorização da moeda japonesa (iene) frente ao dólar, para seu nível mais alto na história, afetará as exportações do país asiático, tornando os produtos menos competitivos no cenário internacional.
O índice Nikkei 225, principal benchmark da Bolsa Tóquio, abriu a sessão com baixa de 1,98%, aos 8.913,35 pontos. Já o índice Topix, que reúne todos os valores da primeira seção, perdía 2,05%, aos 800,88 pontos. Há pouco, a moeda japonesa atingiu 76,25 ienes por dólar, o maior valor já visto desde a Segunda Guerra Mundial, provocando a queda imediata das ações de companhias exportadoras, assim como a fabricante de produtos eletrônicos Sony (-2,57%) e a produtora de veículos Toyota (-2,99%), por exemplo.
A baixa na sessão desta quinta-feira já faz com que o índice Nikkei 225 acumule uma perda superior a 13% apenas nesta semana. Para tranquilizar os investidores, o Banco do Japão (BoJ, central) injetou há instantes 5 trilhões de ienes (US$ 63 bilhões) em mais uma medida para proteger o sistema bancário do país.
É o quarto dia consecutivo em que o BoJ atua para acalmar os mercados e ajudar os bancos e as instituições financeiras que estão em áreas devastadas pelo terremoto a levantarem fundos. No total, foram 33 trilhões de ienes já injetados na economia apenas nesta semana.
"Os investidores estão monitorando de perto a variação do iene frente ao dólar. O rápido movimento da moeda está evitando de certa forma uma baixa mais brusca do Nikkei 225, mas ainda não é suficiente para conter a queda", afirmou Yumi Nishimura, analista de mercado da Daiwa Securities, em declaração à Reuters.
Os demais pregões na Ásia também operam em queda na sessão de hoje, com os investidores preocupados de que a terceira maior economia do mundo seja fortemente afetada pela crise nuclear no Japão. Os mercados em Taiwan, Austrália e Coreia do Sul, entre outros, operam no vermelho.
Batalha
Os japoneses enfrentam uma batalha duríssima para tentar interromper a crise nuclear na central de Fukushima, que sofreu uma série de explosões desde o terremoto da semana passada. Os trabalhos para tentar impedir que a radioatividade que escapa dos reatores aumente e contamine uma área maior transformaram-se numa verdadeira operação de guerra.
Um helicóptero militar partiu da vizinha cidade de Sendai para jogar água do mar sobre o reator 3, numa nova tentativa de resfriá-lo. Não conseguiu: os níveis de radioatividade eram tão grandes que a operação teve de ser cancelada, e o helicóptero precisou voltar.
De acordo com a rede de TV NHK, fontes do Ministério da Defesa revelaram que o helicóptero teria de lançar sua carga de água passando rapidamente pelo reator - permanecer muito tempo sobre ele poderia ser fatal para a equipe envolvida na operação. A agência de notícias Kyodo informa que há relatos de um vazamento significativo de vapor radioativo, em função de danos no sistema de contenção da usina. O edifício que abriga o reator 3 ficou danificado depois de uma explosão de hidrogênio, na segunda-feira.
Economia
O terremoto devastador que atingiu o Japão, seguido de um maremoto e de uma crise nuclear, poderá gerar uma perda de até 200 bilhões de dólares na terceira maior economia do mundo, embora o impacto global seja díficil de ser avaliado poucos dias após o tsunami que devastou a costa noroeste do país e deixou milhares de mortos e feridos.
"O custo econômico do desastre será grande", informaram economistas do JPMorgan & Chase em declaração à Reuters. "Houve uma perda substancial nos recursos econômicos e a atividade sofrerá com os obstáculos gerados pelos danos em infraestrutura nas próximas semanas ou meses", acrescentou a fonte.
O banco UBS reduziu hoje a projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do Japão em 0,5 ponto percentual. Agora, a estimativa dos economistas é de que o país cresça 1% em 2011. “As falhas de energia elétrica ao leste do Japão irão limitar o crescimento neste ano”, explicou Paul Donovan, economista global do UBS, em relatório.
Ações
Nesta quarta-feira, o banco britânico Barclays alertou que há ativos que caíram demais no Japão e que os investidores deveriam aproveitar esta oportunidade. Esse foi o recado dos analistas Fumiyuki Takahash e Arisa Mori, em relatório enviado aos clientes.
Segundo eles, existem mais de 30 companhias que apresentaram resultados “saudáveis” e bom crescimento nas margens durante o último trimestre de 2010, e que agora estão com preços pressionados por conta do terremoto que atingiu o Japão e das ameaças radioativas.
Os investidores temem que o risco da devastação do terremoto que atingiu o Japão na última sexta-feira (11) e os acidentes ocorridos nas usinas de energia nuclear possam prejudicar a atividade corporativa e a economia, já que muitas fábricas e estabelecimentos comerciais tiveram que suspender suas operações.
Para os analistas do Barclays, contudo, “ainda é muito cedo para qualificar o impacto do incidente sobre os ganhos das empresas, apesar de que os prejuízos serão limitados, especialmente pelo fato de que as áreas industriais próximas à Tóquio não foram afetadas”, afirmam.