Banco médio paga caro para captar após resgate do Panamericano
Custo para os bancos Cruzeiro do Sul e Daycoval levantarem recursos no exterior subiu para o nível mais alto em seis meses
Da Redação
Publicado em 13 de janeiro de 2011 às 09h46.
Nova York - As captações externas do Banco Cruzeiro do Sul SA e do Banco Daycoval SA irão testar o apetite dos investidores por papéis de bancos de médio porte após a crise do Banco Panamericano SA. Desde o resgate à instituição do Grupo Silvio Santos, o custo para esses bancos levantarem recursos no exterior subiu para o nível mais alto em seis meses.
O Cruzeiro do Sul emitiu ontem US$ 400 milhões em títulos com vencimento em 2016 a uma taxa de 8,375 por cento, 51 pontos- base acima da taxa paga por sua dívida existente de cinco anos. Os juros pagos pelas notas do banco com vencimento em 2015 atingiram 7,98 por cento esta semana, nível máximo desde junho, e que equivale a uma alta de 165 pontos-base desde 9 de novembro, quando o Fundo Garantidor de Crédito resgatou o Panamericano com um empréstimo de R$ 2,5 bilhões. Os juros da dívida corporativa de mercados emergentes subiram 33 pontos-base durante o mesmo período.
A investigação criminal sobre irregularidades contábeis no Panamericano reduziu a demanda de investidores por títulos de bancos brasileiros, cujas emissões atingiram um recorde de US$ 17 bilhões no ano passado e corresponderam a mais da metade das ofertas de dívida corporativa do País. Os bancos médios dependem do financiamento de longo prazo do mercado internacional para suprir a crescente demanda por empréstimos no País.
“Os bancos menores sofreram por causa do Panamericano”, disse Ricardo Leoni, chefe da divisão de dívida em mercados de capitais do Banco Santander Brasil SA em uma entrevista por telefone de Cancún. “Alguns bancos tinham emissões que estavam prontas para ir a mercado, mas decidiram adiá-las e esperar até que as condições melhorassem.´´
O Banco Industrial e Comercial SA e o Banco BVA SA cancelaram ofertas de bônus após o resgate do Panamericano.
Encontros com investidores
O Banco Daycoval SA contratou o Goldman Sachs Group Inc., o Standard Chartered Plc e o HSBC Holdings Plc para organizar reuniões com investidores a partir de hoje, disse uma pessoa familiarizada com as conversas que não quis se identificar por não estar autorizada a falar publicamente.
O Banco Bradesco SA, segundo maior do País em valor de mercado, foi o primeiro banco brasileiro a vender títulos no exterior desde que o Panamericano foi resgatado, emitindo, na semana passada, US$ 500 milhões em notas com vencimento em 2021, com taxa 262,5 pontos-base acima de títulos semelhantes emitidos nos Estados Unidos. O Banco Santander Brasil SA também levantou no mercado internacional US$ 650 milhões em títulos de cinco anos na última semana, com rendimento de 4,42 por cento.
Crescimento econômico
A taxa dos títulos do Daycoval com vencimento em 2015 subiu 53 pontos-base, ou 0,53 ponto percentual, desde 9 de novembro, quando o Banco Central abriu a investigação das irregularidades contábeis relacionadas à venda das carteiras de crédito do Panamericano.
A economia brasileira cresceu 7,5 por cento no ano passado, o ritmo mais acelerado em duas décadas, segundo a mediana das estimativas de 17 analistas consultados pela Bloomberg.
“As perspectivas para crescimento de longo prazo no Brasil ainda são muito altas; bancos estão tentando usar o mercado de dívida para financiar esse crescimento” disse Miguel Crivelli, analista do Barclays Plc em Nova York, em entrevista por telefone. “Acessar o mercado internacional tem o benefício de vencimentos mais longos.”
Crédito consignado
O Cruzeiro do Sul, especializado em crédito consignado, foi um dos três bancos brasileiros que tiveram a perspectiva da nota de crédito cortada para negativa no último mês pela Moody’s Investors Service por preocupações com os efeitos do aumento do compulsório pelo Banco Central.
O BC aumentou o compulsório sobre depósitos a prazo de 15 para 20 por cento em dezembro como parte de um esforço para conter a inflação.
“O Cruzeiro é um dos bancos médios mais atuantes no mercado de capitais internacional”, disse Ceres Lisboa, analista de bancos da Moody´s, em entrevista por telefone. “Eles precisam de financiamento desesperadamente, porque precisam continuar gerando empréstimos e defendendo suas fatias de mercado no crédito consignado, que é um segmento muito competitivo no Brasil.”