Após denúncia, Via Varejo terá que resgatar confiança do investidor
Ação chegou a cair 9% após empresa revelar investigações sobre possíveis irregularidades contábeis
Tais Laporta
Publicado em 13 de novembro de 2019 às 17h30.
Última atualização em 13 de novembro de 2019 às 17h40.
Na melhor fase de sua concorrente, a Via Varejo (VVAR3) terá que provar ao mercado que tem capacidade de contornar mais uma crise. O papel da varejista chegou a cair mais de 9% nesta quarta-feira (13), após a empresa comunicar que está investigando possíveis fraudes em seus balanços financeiros. Com a forte baixa, o papel foi retirado do pregão por volta do meio dia e voltou a operar com uma queda menos intensa. Perto das 16h, o ativo recuava 3,53%, a 6,84 reais.
O fato veio a público meses após a companhia anunciar uma mudança no controle, com a saída do grupo francês Casino, dono do GPA. A expectativa de que o comando sob o chapéu de Michael Klein desse um novo vigor ao grupo dono das Casas Bahia deu um grande impulso aos papéis na B3. Na ocasião, gestores aumentaram a posição na empresa apostando na valorização dos papéis. Desde o começo do ano, a Via Varejo acumula uma valorização de 56% em suas ações ordinárias. Em novembro, contudo, recua acima de 7%.
A denúncia foi anunciada no mesmo dia em que a empresa divulga seu balanço financeiro do terceiro trimestre, após o horário de fechamento do mercado. A expectativa é de que a varejista confirme o quinto trimestre consecutivo de prejuízo. Segundo analistas ouvidos pela Bloomberg, o resultado deve ficar negativo em 11,9 milhões de reais entre julho e setembro. Para analistas do mercado, a empresa terá um árduo trabalho para provar que está apta a evitar e combater irregularidades.
Investidor vai cobrar novas explicações
Parao presidente da consultoria Mesa Corporate, Luiz Marcatti, mesmo que a Via Varejo consiga comprovar que a irregularidade não existe, a empresa terá trabalho em provar sua capacidade de evitar inconsistências contábeis. O fato de a investigação ter ido a público no mesmo dia da divulgação do balanço é um agravante, em sua avaliação.
"Com certeza o mercado vai cobrar um resultado seguro desse processo de investigação, seja qual for o resultado. Se existe ou não irregularidade, a empresa terá que assegurar que ela foi sanada e que seus órgãos têm controles para impedir isso", afirma Marcatti. A investigação está em sua segunda e última fase, segundo a empresa.
Luis Salles, analista de mercado da Guide Investimentos, diz que a queda de quase 10% nos papéis veio pelo susto inicial com a denúncia. O anúncio de que a empresa iniciou uma investigação e não encontrou irregularidades ajudou a amenizar as perdas na Bolsa, mas caso a denúncia venha a ter algum fundamento, acredita, a empresa deve sofrer pressão no curto prazo.
O time da corretora diz que o fato não altera sua visão positiva sobre a empresa. "Vemos com bons olhos a nova gestão. Apesar de estar bem atrás de Magazine Luiza, vemos esforço para modernizar a companhia", afirma Salles.
Corrida pelo crescimento
Nos últimos três anos, a Via Varejo foi ultrapassada em tamanho por sua maior concorrente, o Magazine Luiza, que passou a valer seis vezes mais que a rival na bolsa.
A dona das Casas Bahia e do Ponto Frio já chegou a ser uma gigante perto da empresa até então comandada por Luiza Helena Trajano. Mas a disparidade de tamanho entre as duas companhias que competem no mesmo segmento se inverteu neste intervalo. Enquanto Magalu tem um valor de mercado em torno de R$ 64 bilhões, Via Varejo é avaliada em R$ 9 bilhões.
Enquanto o Magazine Luiza manteve uma consistência na gestão, a Via Varejo mostrou um eterno vai e vem que começou em 2009, quando a família Klein, fundadora das Casas Bahia, vendeu seu negócio ao Grupo Pão de Açúcar.
Desde 2016, quando o Grupo Pão de Açúcar decidiu vender sem sucesso os 36% que detém no controle da Via Varejo, a empresa vinha colecionando resultados aquém de sua rival em volume de vendas, receita e balanço financeiro. Só recuperou o fôlego na bolsa após a venda do controle para Michael Klein, da família que fundou as Casas Bahia.
*Colaborou Guilherme Guilherme