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Antecipação do pagamento da dívida pode elevar dólar

O governo brasileiro pode acelerar o pagamento de dívida externa do país como instrumento de combate à valorização do real

Notas de dólar (Getty Images)

Notas de dólar (Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 20 de março de 2012 às 10h24.

São Paulo - O mercado doméstico de câmbio tem dois motivos para começar o dia negociando o dólar em alta em relação ao real. O primeiro é a repercussão das declarações dadas ontem pelo secretário do Tesouro, Arno Augustin, em entrevista à Agência Estado, de que o governo brasileiro vai acelerar o pagamento de dívida externa do país como instrumento de combate à valorização do real. O segundo é a trajetória de alta do dólar no exterior, num dia em que todas as expectativas do mercado internacional de câmbio se dirigem para o pronunciamento do presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, marcado para as 13h45.

A fala de Augustin só reforça a convicção do mercado de que o governo está unido e convicto em continuar tomando qualquer medida que seja necessária para impedir a valorização excessiva do real. Anteriormente, o secretário do Tesouro já tinha falado na possibilidade de antecipar os pagamentos da dívida externa, mas ontem ele apresentou números e o impacto foi imediato.

Augustin informou que o governo já está negociando para breve o pagamento de US$ 2,9 bilhões de dívida externa junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Mas o potencial de quitação antecipada de dívida externa é superior a US$ 15 bilhões. Além disso, ele reiterou que várias medidas cambiais estão sendo discutidas no governo para evitar a continuidade do processo de valorização do real. "Elas vão continuar", afirmou.

Com isso, no mercado futuro, o dólar abril encerrou o pregão com ganho de 1,02%, a R$ 1,8275. No mercado à vista, que estava com as atividades praticamente encerradas quando Augustin falou, o dólar fechou com alta de 0,22%, a R$ 1,8060 no balcão, e 0,32%, a R$ 1,8062 na BM&F. Essa diferença tende a ser ajustada na abertura de hoje.

Lá fora, o reforço está no fato de que, nos últimos dias, os mercados vêm mantendo expectativas de que a economia norte-americana entrou numa rota de recuperação mais consistente e duradoura, ao mesmo tempo em que experimentam um sentimento de maior alívio com relação à Europa, depois da última injeção de recursos por parte do Banco Central Europeu e da reestruturação da dívida grega. Para as moedas, esse mix, embora resulte numa percepção de redução de risco, tem fortalecido o dólar, visto que diminui as chances de afrouxo monetário nos EUA. É isso que os investidores esperam ver ratificado no discurso de Bernanke hoje.

Além disso, o dólar beneficia-se da queda das commodities que tem o noticiário chinês por trás. O presidente da divisão de minério de ferro da mineradora australiana BHP Billiton, Ian Ashby, disse que a demanda da China por minério de ferro está "se achatando" e isso repercute fortemente nos mercados.


Até porque, vem junto com outras informações. Uma delas, não é exatamente oficial, mas também merece atenção. O ex-conselheiro do Banco Popular da China (PBOC, banco central chinês, na sigla em inglês) Xia Bin disse que espera crescimento médio de 7% na economia chinesa nos próximos 5 anos. Afirmou, porém, que a taxa relativamente mais lenta de crescimento não significa que Pequim deva relaxar a política monetária.

"O governo da China não deve afrouxar sua política monetária, mesmo com a economia a abrandar... isso não seria bom para o desenvolvimento do país a longo prazo", disse Xia durante Conferência de Investimento do Credit Suisse asiático, realizada em Hong Kong. Ao mesmo tempo, Xia disse que considera improvável que a taxa anual de crescimento da China caia abaixo de 6%, mesmo com a desaceleração do crescimento global, dado o aumento do poder aquisitivo local.

Ainda na China, o presidente do banco central chinês (PBoC, People's Bank of China), Zhou Xiaochuan, afirmou que as condições estão "basicamente maduras" para que o país avance na liberalização dos juros e que o governo vai trabalhar nisso ao longo deste ano. Acrescentou também que a China vai abrir mais seus mercados financeiros e ampliar a flexibilidade do yuan. Segundo Zhou, o país pretende avançar de modo estável na direção da conversibilidade do yuan na conta de capitais e reduzir as restrições ao investimento de indivíduos no exterior.

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