Ano com mais IPOs no Brasil desde 2013 termina morno
Dez IPOs levantaram 5,55 bilhões de dólares, ante 8,35 bilhões em nove ofertas em 2013.
Reuters
Publicado em 17 de dezembro de 2017 às 13h14.
São Paulo - O ano mais intenso para ofertas públicas iniciais de ações no Brasil desde 2013 terminou morno nesta semana, depois que uma empresa cancelou seu IPO e a operação que prometia ser a maior de 2017 foi concluída com preço no piso da faixa indicativa.
Investidores se mostraram interessados por ações da operadora da rede de franquias Burguer King e da BR Distribuidora, compondo um volume de 7,2 bilhões de reais nesta semana, a mais movimentada para IPOs no país desde abril de 2013.
Mas os resultados não tão positivos sinalizaram o apetite limitado por novas ofertas, bem como aumento da ansiedade sobre a agenda econômica do país e o cenário político incerto.
O Ibovespa atingiu um recorde mais cedo neste ano em meio a expectativas de aprovação de reformas que incluíram a da Previdência. Dez IPOs levantaram 5,55 bilhões de dólares, ante 8,35 bilhões em nove ofertas em 2013.
A Petrobras levantou 5 bilhões de reais com a listagem da BR Distribuidora, mas investidores disseram que a demanda não foi tão intensa quanto esperado.
A precificação ficou no piso da faixa indicativa de 15 a 19 reais e o valor da companhia equivaleu a cerca de sete vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda).
O múltiplo é menor que o de 11,4 vezes da rival Ultrapar Participações, principal rival da BR Distribuidora por meio da rede de postos de combustível Ipiranga.
"Claro, em um ambiente macro melhor, a transação seria maior", disse uma fonte na Petrobras.
Minimizando um pouco o mau humor, as ações da distribuidora fecharam em alta de quase 7 por cento na estreia ocorrida na sexta-feira, a 16 reais.
"A Petrobras decidiu precificar no piso da faixa indicativa para ter investidores de qualidade, de longo prazo, e não um monte de fundos de hedge de curto prazo", disse uma fonte com conhecimento do processo.
O entusiasmo dos investidores pela oferta diminuiu nos últimos meses conforme ia ficando claro que o governo não venderia ações suficientes para ceder o controle da BR Distribuidora.
"O risco político é muito maior em uma companhia estatal, considerando as próximas eleições", disse um investidores que participou do IPO.
Enquanto isso, a Neoenergia, empresa de energia elétrica controlada pela espanhola Iberdrola, cancelou o IPO programado para quinta-feira, quando acionistas se recusaram a diminuir o preço das ações.
Um sócio em um grande fundo citou uma abundância de outros IPOs: "Investidores não têm capacidade de analisar tantas ofertas, então tiveram que fazer escolhas. Isso teria sido bem sucedido se não houvesse tanta competição."
No início do mês, o presidente da operadora da bolsa paulista B3, Gilson Finkelsztain, já havia alertado que a precificação das três ofertas poderiam fazer as empresas competirem pelos mesmos investidores.
O Banco do Brasil, um dos principais acionistas da Neoenergia, queria um múltiplo de pelo menos oito vezes o Ebitda da companhia. A CPFL Energia, comprada pela chinesa State Grid no ano passado, tem um múltiplo de nove.
Próximo ano
A série de IPOs deste ano deve se prolongar nos primeiros meses de 2018, conforme as companhias correm para evitar volatilidade antes das eleições.
"A expectativa é de um volume de ofertas de ações menor em 2018 ante 2017", disse Roderick Greenlees, chefe de investment banking do Itaú BBA.
"O mercado será mais ativo no primeiro semestre, o que é comum em anos eleitorais."
A Algar Telecom, que adiou planos de IPO no mês passado para evitar ser pega na semana mais movimentada do ano, está planejando IPO para janeiro. A listagem da processadora de pagamentos PagSeguro e uma oferta subsequente da companhia aérea Gol, podem vir na sequência.
"Os investidores estão seletivos, mas dispostos a comprar empresas com bom histórico de resultados, perspectiva consistente de crescimento e acionistas engajados", disse Leandro Miranda, chefe de investment banking do Bradesco BBI.
A participação de estrangeiros nos IPOs do Brasil tem crescido e alcançou cerca de 60 por cento nas últimas operações, acrescentou.