Amadorismo do governo fará dólar ultrapassar os R$ 4, diz economista
Briga entre governo e Câmara dos Deputados tem impactado no mercado de câmbio
Karla Mamona
Publicado em 27 de março de 2019 às 14h45.
Última atualização em 27 de março de 2019 às 14h45.
São Paulo - A crise política instaurada no país após os desentendimentos entre o presidente Jair Bolsonaro e presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia fez com que o dólar subisse mais de 5% em uma semana.
Desde a última quarta-feira, a moeda americana passou de R$ 3,75 e alcançou a máxima de R$ 3,95 na manhã de hoje. E o cenário não é nada otimista. A perspectiva é que o dólar ultrapasse os R$ 4 reais se o governo não voltar seus esforços para a aprovação da reforma da Previdência.
Ontem, a Câmara dos Deputados votou a PEC do Orçamento que obriga o governo federal a executar todos os investimentos previstos no orçamento. A medida reduz a margem de manobra do governo e aumenta os gastos obrigatórios, o que vai na contramão do ajuste fiscal tão esperado pelo mercado financeiro.
“O amadorismo do governo está surpreendendo todos. O mercado está alarmado desde quinta-feira e em compasso de espera. O investidor está pronto para tirar dinheiro do país”, afirma Fernando Bergallo, economista e diretor de Câmbio da FB Capital.
Ele acrescenta ainda que desde a semana passada houve uma redução de 90% nas operações relacionadas ao câmbio na consultoria. “Todo mundo colocou o pé no freio.”
Para o economista, a preocupação dos investidores com governo começou logo no início do mandato de Bolsonaro com a saída de Gustavo Bebiano, um dos principais articuladores do governo no Congresso. “Foi ali que acendeu o sinal amarelo. ”
O cenário só se agravou após as declarações do Rodrigo Maia dando a entender que sairia da articulação da reforma da Previdência. “A gota d'água foi o Bolsonaro dizer que ao entregar a reforma já tinha feito a parte dele. Para mim, a reforma subiu no telhado. ”
No início do ano, a FB Capital projetava que o dólar ficaria abaixo de R$ 3,50, com a aprovação da reforma da Previdência. A estimativa estava bem abaixo das projeções do banco Itaú e o Santander, por exemplo, que apontam que a moeda deve encerrar o ano entre R$ 3,80 e R$ 4.
Já o último relatório Focus projeta que o dólar ficará em R$ 3,70 no final deste ano. O relatório do Banco Central foi divulgado na última segunda-feira, antes da crise do governo se agravar.