Gripe mata 200 milhões de porcos. E segue ajudando BRF e JBS
Nesta segunda, a JBS também anunciou amortização de parte da dívida, enquanto a BRF foi considerada "outperform" por analistas do Itaú BBA
Natália Flach
Publicado em 22 de julho de 2019 às 15h17.
Última atualização em 26 de agosto de 2019 às 17h37.
São Paulo - É uma tragédia sem precedente para os porcos. É uma oportunidade única para duas gigantes brasileiras. Na segunda-feira (22), as ações dos frigoríficos BRF e JBS subiram 3,29% e 3,97%, respectivamente, impulsionadas pela notícia de novos casos de febre suína, desta vez na Europa. A doença acaba beneficiando as empresas brasileiras que podem exportar mais para o continente e para as demais regiões do mundo.
Segundo relatório do banco Itaú BBA, a gripe suína deve dizimar no mínimo 25% da criação de porcos do mundo, algo como 200 milhões de animais. O maior atingido é a China, dona de mais de metade do rebanho suíno do mundo, e que deve ter que sacrificar metade de seus animais.
Em junho, as exportações brasileiras de carne suína (considerando todos os produtos, entre in natura e processados) totalizaram 63,6 mil toneladas, de acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). O número é 81% superior ao registrado no mesmo período do ano passado, quando foram exportadas 35 mil toneladas.
A JBS também anunciou, nesta segunda, o pagamento de 750 milhões de reais relativos à amortização de parte das dívidas da companhia com bancos. Os recursos utilizados são provenientes da geração de fluxo de caixa livre do frigorífico, e o endividamento em aberto passa a ser de 5,7 bilhões de reais.
"Esse pagamento reflete a estratégia da JBS de reduzir o montante das suas dívidas que possuem garantias, além de reduzir suas despesas financeiras", escreve Guilherme Perboyre Cavalcanti, diretor de relações com investidores da JBS, em fato relevante.
A JBS é a queridinha do setor, para os analistas do Itaú BBA, com preço-alvo de 32 reais. Mas a BRF não fica tão atrás. Os analistas Antonio Barreto, Gustavo Troyano e Renan Moura escrevem, em relatório distribuído para clientes, que elevaram a recomendação da BRF para "outperform" pela primeira vez em quatro anos. O preço-alvo é de 37 reais.
"A trajetória da BRF foi sinuosa, e agora está em seu melhor momento (fluxo de notícias e resultados), graças ao bilhete premiado da gripe suína africana", escrevem os analistas. O frigorífico ainda enfrenta desafios, "mas estamos apostando que a nova administração preparou a empresa para se beneficiar desse momento".
O Bradesco BBI, por sua vez, elegeu a BRF como sua preferida. A avaliação é de que os papéis da companhia são "outperform", cujo preço-alvo é 44 reais. Isso tudo em meio a um tremendo vácuo de gestão, que levou a empresa a dois anos de prejuízo e a uma naufragada tentativa de se juntar ao frigorífico Marfrig.
Para a BRF e a JBS, há gripes que vêm para o bem.