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Ações da América Latina têm melhor início de ano em 3 décadas

O índice regional da MSCI acumula alta de 26% no primeiro trimestre e analistas apontam as perspectivas para os próximos meses

Prédio da B3, a sede da bolsa brasileira: no Brasil, o Ibovespa subiu mais de 30% em dólar no trimestre (Patricia Monteiro/Bloomberg/Getty Images)
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Bloomberg

Publicado em 1 de abril de 2022 às 06h30.

Quem investe em ações da América Latina há mais de uma década assistiu à lenta corrosão do valor de sua carteira. Desde a época de maior entusiasmo no início de 2008 até o fundo do poço atingido com a chegada da pandemia, o índice MSCI que é referência para a região desabou 73% em dólar.

Agora, quatorze anos depois do topo, o mercado finalmente começa a dar sinais de vida. A motivação maior de hoje é a mesma daqueles tempos: a disparada na demanda global pelas exportações latino-americanas de petróleo, cobre, soja, milho e minério de ferro.

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A invasão da Ucrânia pela Rússia comprimiu ainda mais a oferta global de commodities indispensáveis, acelerando a alta dos preços e um fluxo constante de dólares que banha economias há muito tempo estagnadas, como México e Brasil.

O índice regional da MSCI, conhecido pelo ticker MXLA, acumula alta de 26% no primeiro trimestre, seu melhor início de ano desde o começo da década de 1990. A título de comparação, o mercado acionário dos EUA teve queda de 3,7%, o da Europa Ocidental recuou 5,6%, e os mercados emergentes como um todo recuaram 6,7% no mesmo período.

É um sinal de que, se o atual movimento de valorização das commodities de fato representar o início do segundo superciclo de commodities do século, como muitos especialistas acreditam, o potencial de ganhos é muito maior.

“Ainda temos visão positiva da região”, disse Pablo Riveroll, chefe de renda variável para América Latina da Schroders em Londres. Ele ressalta que o avanço nas exportações de commodities está fortalecendo moedas, enchendo os cofres públicos e ajudando a conter uma inflação que reduz o poder de compra dos consumidores. Os múltiplos das ações “ainda são atraentes”, segundo ele.

No Brasil, o Ibovespa subiu mais de 30% em dólar no trimestre. No Chile, na Colômbia e no Peru, os índices de referência saltaram mais de 20%.

Um recuo nos preços das commodities poderia esfriar esse ímpeto nascente nas economias da região -- e nas bolsas desses países.

Mas, para um número crescente de investidores e analistas, os múltiplos das ações compensam o risco. O MXLA é negociado a 8,5 vezes a projeção de lucro futuro, abaixo da média histórica de dez anos de 12,7 vezes, segundo dados da Bloomberg.

No Brasil, investidores estrangeiros colocaram R$ 90 bilhões líquidos (ingressos menos resgates) em ações nos primeiros três meses de 2022.

O Ibovespa deve avançar mais 8% até o fim do ano e chegar a 130.000 pontos, de acordo com a estimativa mediana de uma sondagem da Bloomberg com 13 especialistas. As projeções deles para o índice variam de 115.000 a 144.000.

Com o Banco Central sinalizando que o ciclo de aperto monetário deve terminar em maio, os investidores agora debatem se não é hora de migrar de ações ligadas a commodities em direção a nomes mais sensíveis à economia doméstica.

“Não queremos passar da hora com uma posição comprada em ações de empresas produtoras de commodities” no Brasil, afirmou Guilherme Paiva, estrategista do Morgan Stanley, em relatório divulgado no início do mês.

Os ativos de risco devem se beneficiar de um “plano de política macroeconômica relativamente ortodoxo” e do início de um ciclo de flexibilização monetária após as eleições neste ano, escreveu Paiva, que tem preferência por ativos do Brasil e do Chile.

“As perspectivas de curto prazo são binárias” para a região, avalia Malcolm Dorson, gestor da Mirae Asset Global Investments em Nova York. “Se os preços das commodities se sustentarem, os mercados acionários latino-americanos devem continuar favorecidos pelo crescimento dos lucros, da força cambial e dos fluxos”, explicou Dorson.

“Se houver redução significativa da tensão geopolítica”, as ações mais líquidas de grandes empresas podem sofrer reversão parcial dos ganhos recentes, alertou.

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