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Investidor ganha nova opção com forte retomada do crédito privado

Depois do susto em 2020, emissão de dívida corporativa cresce 70% neste ano em condições mais atraentes para o investidor na comparação com outras classes de ativos

Lojas Renner: emissão de dívida neste ano em condições mais favoráveis do que em 2020 (Renner/Divulgação)

Lojas Renner: emissão de dívida neste ano em condições mais favoráveis do que em 2020 (Renner/Divulgação)

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Bloomberg

Publicado em 4 de maio de 2021 às 12h50.

Última atualização em 4 de maio de 2021 às 13h18.

O mercado local de emissão de dívida corporativa no Brasil está crescendo de novo após o colapso do ano passado.

Parece ser um retorno aos dias de glória de alguns anos atrás, quando os fundos de crédito estavam entre os investimentos de crescimento mais rápido à medida que os brasileiros se afastavam da poupança e dos títulos do governo em busca de rendimento.

Esse mercado parou no ano passado, quando o coronavírus se instalou e os cotistas dos fundos de crédito correram para retirar dinheiro. Neste ano, a venda de papéis de dívida de empresas aumentou 70% em relação ao mesmo período de 2020, segundo dados compilados pela Bloomberg, com os investidores estimulados pelas expectativas de juros mais altos.

O renascimento do mercado ainda está em estágios iniciais, após apenas três meses de captação positiva líquida dos fundos de crédito desde que a pandemia começou, mas já abre o caminho para um boom no financiamento de projetos de infraestrutura. Depois que os resgates do ano passado levaram gestores a fechar fundos de crédito, a indústria está levantando dinheiro em meio a sinais de que a economia pode estar saindo de sua pior fase.

“Não há mais pressão de venda, já que os maiores vendedores, os fundos de crédito mais frágeis, simplesmente desapareceram”, disse Alexandre Muller, sócio e gerente de portfólio da JGP Gestão de Recursos no Rio de Janeiro, que tem 29 bilhões de reais em ativos sob gestão. “Teve um efeito de limpeza,” disse.

A recuperação está chegando depois de um doloroso 2020. Enquanto os mercados de crédito em todo o mundo sofreram perdas acentuadas no início da pandemia, na maior parte do mundo desenvolvido eles se recuperaram no terceiro e quarto trimestres.

Não foi assim no Brasil, onde a emissão de títulos de dívida no mercado local caiu 41% no ano passado, com os investidores retirando dinheiro de fundos de crédito por 11 meses consecutivos.

Os preços despencaram com apenas alguns bancos como compradores, queimando investidores que só recentemente se sentiam confortáveis ​​com a ideia de comprar fundos mais arriscados.

O total de ativos sob gestão nos fundos de crédito havia disparado para um pico de 100 bilhões de reais em junho de 2019, saindo de 15 bilhões de reais em 2014, de acordo com a JGP, que contabiliza apenas gestoras independentes.

Uma das razões para a popularidade crescente foi que cerca de metade dos fundos passou a permitir que os investidores retirassem seu dinheiro quase sem aviso prévio. Isso transformou esses fundos em uma fonte de dinheiro imediato para os cotistas que tiveram de enfrentar as consequências da crise do coronavírus.

Os fundos de crédito registraram saídas recordes de 9,6 bilhões de reais em março de 2020, seguidas por 4,1 bilhões de reais em abril, de acordo com a JGP. As retiradas só pararam em fevereiro agora, quando o total de ativos sob gestão nos fundos de crédito atingiu 60 bilhões de reais.

A retomada começou em março, quando os fundos de crédito captaram 486 milhões de reais. Em abril, outros 2,1 bilhões de reais foram levantados.

“A demanda está voltando à normalidade, com foco em papéis líquidos e com um bom yield”, disse Rogerio Monori, diretor corporativo e de banco de investimento do Banco BV em São Paulo.

É claro que o mercado ainda não retornou ao seu pico e continua minúsculo em relação ao total de dívida do governo no mercado local, que era de 5 trilhões de reais em março. Também há o risco de a pandemia que ainda dilacera o país minar o renascimento do mercado.

Por enquanto, porém, os juros do Brasil encontraram um ponto ideal para encorajar a emissão de dívida. Os prêmios de risco de crédito médios sobre a taxa de referência do CDI caíram para 2% depois de chegarem a 5% no ano passado, de acordo com um índice calculado pela JGP. Essa é uma taxa atraente para os emissores.

A varejista de roupas Lojas Renner (LREN3) vendeu em março títulos com vencimento em 2025 com prêmio de risco de 160 pontos-base, abaixo do prêmio de 300 pontos-base que pagou em maio do ano passado por notas de vencimento um pouco mais curto.

A concessionária Aegea Saneamento e Participações vendeu notas com vencimento em 2027 em abril a um prêmio de 215 pontos-base, em comparação com um prêmio de 300 pontos-base nas notas de curto prazo vendidas em setembro.

Embora o prêmio de risco de crédito tenha encolhido, a taxa de referência deve subir nos próximos meses, aumentando o apelo da dívida corporativa em relação a ações ou outros investimentos mais arriscados.

O Banco Central elevou a taxa básica de juro em 75 pontos-base, para 2,75% em março, e indicou outro aumento do mesmo tamanho em maio, em decisão que será anunciada nesta quarta-feira, 5 de maio. O mercado já está com a expectativa de aumentos adicionais de 250 pontos-base ainda neste ano, o que levaria a taxa básica para 6% ao ano.

“Os spreads ainda estão bons para o comprador em relação ao risco de crédito das companhias”, disse Laurence Mello, gestor de fundos de crédito da AZQuest Investimentos, que administra 17 bilhões de reais.

As empresas também estão encontrando mais facilidade para vender dívidas de mais longo prazo, com vencimentos de até dez anos para os títulos indexados à inflação e de seis anos para aqueles indexados ao CDI, de acordo com Felipe Wilberg, diretor-gerente responsável pela área de renda fixa e produtos estruturados do Itaú BBA, líder na emissão de títulos corporativos no mercado local brasileiro neste ano, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A maioria das empresas brasileiras emitiu dívida no ano passado para comprar rivais menores, disse Wilberg. Neste ano, as operadoras de aeroportos, ferrovias e rodovias passam a fazer parte do mix, em meio a novas concessões leiloadas pelo governo e se aproveitando do tratamento tributário favorável aos títulos vinculados à infraestrutura.

À medida que o mercado continua a se normalizar, espera-se que mais empresas emitam títulos no mercado local. A concessionária de água do estado do Rio de Janeiro Cedae foi privatizada na semana passada e vai precisar de mais de 22,7 bihões de reais em investimentos, com possível financiamento no mercado de capitais local.

Mais emissão de dívida corporativa é uma boa notícia para os investidores que estão com altos níveis de caixa e procurando oportunidades de colocar seu dinheiro para trabalhar.

“Estamos bastante animados com a classe de ativos”, disse Artur Nehmi, gestor de renda fixa em São Paulo da Sparta Fundos de Investimento, que administra 3 bilhões de reais. “Os preços ainda estão bons.”

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