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Ibovespa cai 3,78% e tem maior queda desde março com crise política

Atos de 7 de setembro reduzem perspectivas de avanço de reformas; dólar sobe 2,8%, para R$ 5,32

Painel com cotações na bolsa brasileira, a B3 | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)

Painel com cotações na bolsa brasileira, a B3 | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 8 de setembro de 2021 às 17h30.

Última atualização em 8 de setembro de 2021 às 22h40.

O Ibovespa despencou 3,78%, para 113.412,8 pontos, nesta quarta-feira, 8, com a reação de investidores às declarações de ataque do presidente Jair Bolsonaro ao STF em atos realizados em 7 de setembro e às suas repercussões em Brasília. Foi a maior queda desde 8 de março, quando o principal índice da B3 caiu 3,98%.

Na véspera, Bolsonaro renovou seus ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e afirmou que não irá cumprir decisões do ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo inquérito das fake news. Nesta tarde, o presidente do STF, ministro Luiz Fux, foi contundente ao declarar que "ninguém" irá fechar a Corte e que o desprezo por decisões judiciais representa um crime de responsabilidade -- algo que, segundo a Constituição, pode levar ao impeachment.

Na Câmara, a pressão pela abertura de um impeachment aumentou, mas o presidente da Casa, Arthur Lira, colocou panos quentes sobre a questão em pronunciamento na tarde de hoje. Lira fez críticas indiretas à Bolsonaro e afirmou que é preciso dar um “ basta nessa escalada [de tensão] em um infinito looping negativo”.

Ainda assim, o presidente da Câmara não citou a palavra impeachment e pediu serenidade e respeito às leis até as eleições de 2022. Já o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), afirmou em suas redes sociais que a abertura do processo de impeachment de Bolsonaro seria algo "inevitável".

Para investidores e analistas, a crise institucional, que já vinha fazendo preço na bolsa, aumenta as incertezas e pode inviabilizar a aprovação de reformas econômicas até a próxima eleição. “O resultado [das manifestações] será mais incerteza e volatilidade e, provavelmente, menos crescimento e mais inflação", avaliou a corretora Genial.

No câmbio, o dólar disparou 2,84% e fechou sendo negociado a 5,324 reais. A performance do real foi a pior entre as principais moedas emergentes, que caíram em meio ao clima externo levemente negativo.

"A sensação de piora da crise institucional deve continuar aumentando tanto a volatilidade quanto a aversão ao risco no Brasil, o que pode continuar provocando pressão na nossa moeda", afirmou Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest.

Nos Estados Unidos, o S&P 500 caiu 0,10%, o Nasdaq 0,57%, e o Dow Jones, 0,20%. A queda ocorreu em meio a preocupações com a capacidade de valorização das bolsas dos Estados Unidos, motivada pela desaceleração do crescimento em meio a uma esperada redução dos estímulos monetários do Federal Reserve (Fed, banco central americano), efeitos de uma nova onda da pandemia com a variante Delta e um cenário de inflação em alta.

Na Europa, o Stoxx 600 fechou em queda de 1,06%, na véspera da decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), nesta quinta-feira, 9. No radar estão discussões sobre o início da retirada de estímulos, o chamado tapering. A expectativa é que o BCE anuncie o tapering até o fim do ano, assim como os Estados Unidos.

Quarta vermelha

Entre os principais componentes do Ibovespa, as ações dos grandes bancos e da Petrobras (PETR3/PETR4) tiveram as maiores contribuições para a queda do índice.

Com a segundo maior peso do Ibovespa, as ações PETR3 e PETR4 tiveram respectivamente perdas de 5,55% e 5,63%, com riscos de ingerência do governo na estatal em meio às manifestações de caminhoneiros -- uma das bases de apoio de Bolsonaro. A desvalorização ocorreu na contramão do barril do petróleo, que subiu no mercado internacional.

Do mesmo setor, a PetroRio (PRIO3) caiu menos, 1,46%. Entre os bancos, o Bradesco (BBDC3 e BBDC4) puxou a queda, recuando 6,35% e 5,76%. Itaú (ITUB4) caiu 4,71%, Santander (SANB11), 4,95%, e Banco do Brasil (BBAS3), 4,22%.

Já a maior queda do índice ficou com as ações da Méliuz, que caíram 11,35%. Para o analista Henrique Esteter, o setor de tecnologia tende a ser um dos mais afetados pelo atual cenário de incerteza, que afeta o mercado de juros.

"A curva de juros está abrindo cada vez mais. Isso gera um impacto generalizado em empresas de capital intensivo para o desenvolvimento de longo prazo", afirma. Na sequência, Via (VIIA3), Eletrobras (ELET6) e Americanas (AMER3) despencaram 9,35%, 9,29% e 9,15%, respectivamente. 

Apesar das fortes perdas, houve espaço para valorização, com os papéis da Localiza (RENT3) subindo 8,03%, e os da Unidas (LCAM3), 7,23%, com a divulgação na segunda-feira do parecer da Superintendência-geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que recomendou a aprovação da fusão das empresas.

O saldo foi positivo na visão de analistas, que foram surpreendidos pelo parecer favorável.

“A recomendação é um sinal positivo, pois muitos investidores esperavam a reprovação do negócio nesta primeira revisão do processo, devido ao recente fluxo de notícias desfavoráveis (o mercado migrou para nosso pior cenário recentemente)”, destacam analistas da Necton Research em relatório. 

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