Analistas afirmam que alta da Selic ainda não é suficiente para tirar a atratividade da renda variável | Foto: triloks/GettyImages (triloks/Getty Images)
Beatriz Quesada
Publicado em 5 de agosto de 2021 às 06h25.
Como era amplamente esperado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros em 1 ponto percentual. A decisão, tomada na noite desta quarta-feira, 4 de agosto, aumenta a Selic de 4,25% para 5,25% ao ano. Para o final de 2021, a expectativa é que a taxa chegue aos 7% ao ano.
A quarta elevação consecutiva da Selic faz com que um número maior de investidores comecem a se questionar se não é a hora de rebalancear a carteira de ativos, resgatando parte de aplicações em renda variável para aumentar a posição em renda fixa. A resposta, segundo analistas, é não.
“A Selic está passando por um ajuste esperado, que é pertinente com o aumento da inflação em um momento de recuperação econômica. O investidor que já está alocado não deve desfazer posições de longo prazo porque a alta é pontual, e não uma tendência”, afirma Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.
Abdelmalack reforça que usar o cenário macroeconômico como único norte na tomada de decisões pode trazer prejuízos. “Estamos em um momento sensível no mercado acionário, com o Ibovespa recuando 4% em julho. Não é hora de realizar lucro. O investidor precisa entender a relação entre risco e retorno de cada aplicação para não comprar na alta e sair na baixa”, diz.
Outro ponto a se considerar é que a alta da Selic ainda não é suficiente para tirar a atratividade da renda variável. As últimas projeções do boletim Focus apontam que a Selic deve terminar o ano em 7% ao ano para acompanhar a alta da inflação, que deve fechar 2021 em 6,79%. Para 2022, o IPCA deve ficar em 3,81%, com a Selic ainda em 7% ao ano.
“Desmontar posição em bolsa é algo que só entraria no radar se a Selic voltasse para o patamar de dois dígitos, de 10% a 14%, como esteve no passado. Esse cenário não está desenhado, então não há razão para montar um portfólio tão avesso a risco”, explica Juliana Machado, analista de fundos de investimento do BTG Pactual digital.
Aqui, o que está em jogo é o chamado custo de oportunidade. Aplicações de renda fixa atreladas ao Tesouro Selic são as mais seguras do mercado e remuneram o investidor acompanhando a taxa de juros. Se a Selic estiver muito alta, não compensaria tomar o risco de renda variável, uma vez que uma aplicação mais segura traria um retorno semelhante (ou até maior). “Apenas neste cenário valeria a pena rebalancear a carteira tirando uma parte considerável da renda variável para voltar a renda fixa”, argumenta Machado.
Isso não significa, no entanto, que o investidor deve necessariamente deixar o portfólio como está. A orientação dos analistas é que o rebalanceamento seja feito de tempos em tempos, observando o perfil do investidor para além do momento de mercado.
“A recomendação para um investidor moderado é deixar 20% do patrimônio em renda variável. Se ele alocou esses 20% no pico da crise, já deve estar com um patrimônio de 30% nesse segmento, considerando apenas a valorização dos últimos meses. Nesse caso, vale fazer algumas alterações para equilibrar as fatias de acordo com o que é recomendado para o perfil”, defende Lucas Radd, superintendente de portfólio e aconselhamento do Inter Invest, divisão de investimentos do Inter.
É possível também aproveitar o momento de alta da Selic para fazer novos investimentos em renda fixa mirando os pós-fixados, que seguem o CDI como benchmark. A indicação é apostar em títulos de dívida corporativa e bancária, como debêntures, CDBs e fundos de crédito privado que compram esses ativos. Isso porque eles tendem a se beneficiar do processo de reprecificação causado pela elevação da Selic.
Opções atreladas à inflação também são boas alternativas para compor o portfólio. A indicação principal dos analistas é que o investidor busque montar uma carteira diversificada, mesclando ativos de renda fixa e variável.