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Bolsa dobrou mas total de agentes autônomos não acompanhou, diz EQI

Profissionais que fazem assessoria de investimentos aumentaram em apenas 34% em 12 meses, ampliando o espaço para essa carreira no mercado

A expectativa é que o interesse pela carreira de agente autônomo de investimento continue alto em 2021, diz Juliano Custodio, CEO da EQI (Divulgação/Divulgação)

A expectativa é que o interesse pela carreira de agente autônomo de investimento continue alto em 2021, diz Juliano Custodio, CEO da EQI (Divulgação/Divulgação)

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Beatriz Quesada

Publicado em 18 de dezembro de 2020 às 06h05.

Última atualização em 18 de dezembro de 2020 às 12h55.

Quando a taxa Selic iniciou sua trajetória de queda em 2016, o mercado de agentes autônomos de investimentos (AAIs) contava com apenas 630 profissionais habilitados. O número baixo era um espelho da demanda do mercado. Na época, a taxa básica de juros da economia estava na casa dos 14% ao ano, patamar pouco convidativo para atrair participantes para a bolsa de valores e, consequentemente, clientes para os AAIs.

Quatro anos depois, a situação é diametralmente oposta. A taxa Selic está em sua mínima histórica de 2% ao ano, o que atraiu uma enxurrada de novos investidores para a bolsa em meio à maior crise financeira do século. O fluxo foi tão grande que nem mesmo a EQI Investimentos, maior escritório de assessoria de investimentos do Brasil, conseguiu acompanhar o ritmo.

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A EQI contratou neste ano 110 novos assessores -- número hoje equivalente a um terço de sua força de trabalho total -- e ainda assim não foi suficiente. “Trabalhamos mais do que o normal em 2020 porque o número de investidores entrando na bolsa foi superior à capacidade do mercado de oferecer profissionais para atendê-los”, explica Juliano Custodio, sócio e CEO da EQI, empresa ligada ao banco BTG Pactual (do mesmo grupo que controla a EXAME). 

A incompatibilidade aconteceu porque, neste ano, o número de investidores na bolsa quase dobrou. Em novembro de 2020, a B3 atingiu a marca de 3,17 milhões de contas cadastradas, enquanto, um ano antes, o número era de 1,6 milhão. Considerando apenas as pessoas físicas, a quantidade de investidores passou de 1,22 milhão para 2,34 milhões -- crescimento de 91,8%.

O número de agentes autônomos, por outro lado, cresceu 34% entre setembro de 2019 e o mesmo mês deste ano. Os dados são os mais recentes disponibilizados pela Ancord (Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias), entidade que certifica a atividade dos AAIs. 

Segundo a associação, o primeiro boom de crescimento do mercado de agentes autônomos aconteceu em 2017, quando a Selic foi cortada pela metade e o número de AAIs habilitados saltou 126%. O crescimento entre 2018 e 2019 também foi expressivo (111%), mas a tendência de alta arrefeceu neste ano com a chegada da pandemia. Os testes para certificação de AAI, por exemplo, ficaram completamente paralisados em abril e só voltaram a ser completamente restabelecidos em junho. 

A expectativa, no entanto, é a de que o interesse pela carreira continue alto e os números voltem a subir em 2021 conforme os investidores continuem migrando para a bolsa em busca de maiores retornos. A própria EQI pretende aumentar sua equipe de AAIs treinando mensalmente 50 novos colaboradores em vez dos atuais 20. 

“É uma profissão que vai crescer demais no Brasil. Perto dos Estados Unidos, ainda existe um déficit muito grande desses profissionais no país. O número de assessores per capita ainda é baixo”, afirma Custodio. Segundo dados da Ancord, atualmente existem 10.433 AAIs no Brasil. Desse universo, 8.300 estão vinculados a algum escritório, o que sugere que eles estão efetivamente atuando como assessores financeiros.

Existe, porém, um risco em meio ao cenário de prosperidade. “Os juros baixos são ótimos para atrair investidores para a bolsa, mas os produtos de renda variável [os mais rentáveis e arriscados] trazem uma receita muito baixa para os AAIs, próxima de zero. A valorização desses produtos estrangula muito as margens de lucro desses profissionais”, avalia o executivo.

A consequência, segundo o executivo, é o fortalecimento de grandes escritórios de agentes autônomos, como a própria EQI, em detrimento dos profissionais que atuam em organizações menores. “A corretagem zero veio para ficar e, embora isso seja ótima para o cliente e para o mercado, a consequência é a diminuição dos ganhos para os AAIs, o que prejudica aqueles que não contam com grandes estruturas. Por conta disso, acredito que o próximo ano será um momento de consolidação das grandes empresas de assessoria”, afirma.  

Vale lembrar que o contato com o agente autônomo de investimento é apenas uma das opções do investidor para acessar a bolsa. Uma pesquisa da B3 divulgada nesta semana mostrou que influenciadores digitais e portais da internet são hoje as principais fontes de informação e recomendação para os novos investidores do mercado de capitais.

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