A soja e o milho são as principais culturas agrícolas cultivadas pelos clientes da AgroGalaxy (Alexis Prappas/Exame)
Beatriz Quesada
Publicado em 9 de março de 2021 às 06h30.
Última atualização em 11 de março de 2021 às 10h08.
O pequeno investidor tem até esta terça-feira, 9, para participar da oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) da AgroGalaxy. A companhia comercializa insumos agrícolas e atua no fornecimento de serviços e tecnologias a pequenos e médios produtores.
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O segundo IPO do ano para o setor do agronegócio -- o primeiro foi o da Jalles Machado (JALL3), do segmento sucroalcooleiro -- pode movimentar perto de 1,430 bilhão de reais na bolsa brasileira, a B3. A estimativa considera o valor de 17,50 reais por ação, ponto médio da faixa de preço fixada pelos coordenadores da oferta, de 15 a 20 reais.
A empresa pretende utilizar o dinheiro captado para reforçar o capital de giro e a estrutura de capital, modernizar as unidades de produção e investir em expansão orgânica e via aquisições.
Se houver a demanda esperada, a companhia faz a sua estreia na B3 na sexta-feira, 12, com o ticker AGXY3. A listagem será no Novo Mercado, segmento de mais alta governança da bolsa. Serão emitidos 81,48 milhões de ações na oferta base, que não considera possíveis lotes suplementares e adicionais.
Para fazer a reserva de ações da companhia, o investidor precisa avisar a sua corretora sobre quantos papéis gostaria de comprar no IPO e por qual preço. O valor mínimo para participar é de 3.000 reais, e o máximo, de 1 milhão de reais. A quantidade final vai depender da demanda. O período de reserva para participar da oferta termina nesta terça.
Analistas que avaliaram a empresa e o prospecto enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estão receosos quanto ao IPO da AgroGalaxy, apesar de suas vantagens competitivas. O primeiro ponto positivo é que a companhia está presente em um dos setores mais resilientes e com maior trajetória de crescimento da economia brasileira: o agronegócio.
Em 2020, as exportações do setor aumentaram 4,1% frente ao ano anterior e somaram 100,81 bilhões de reais. O chamado complexo soja foi responsável por 35% do montante – o grão é, junto com o milho, a principal cultura agrícola dos clientes da AgroGalaxy.
Em relatório, analistas da Suno destacam que, além de a companhia estar em um setor com perspectivas de crescimento, suas lojas estão posicionadas em locais estratégicos para o agronegócio, como as regiões Centro-Oeste e Sudeste.
A empresa conta atualmente com 93 lojas, incluindo pontos comerciais (que não têm estoques), 19 silos para armazenagem de grãos e três plantas de originação de sementes de soja, localizadas em cerca de mil cidades.
Além disso, a companhia possui uma vantagem competitiva em relação a seus principais concorrentes. Como o setor é fragmentado, a maior parte dos rivais são pequenos ou médios negócios, o que possibilita à AgroGalaxy trabalhar com preços mais competitivos para os clientes à medida que ganha escala.
No entanto um relatório da Nord Research lembra que a competição no setor é elevada, o que pode reduzir as margens da empresa. Tanto é que o recente crescimento de receita não se traduziu em aumento das margens.
Nos últimos 12 meses, a Agrogalaxy registrou um crescimento de 32% em sua receita líquida, enquanto o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi 11% menor no mesmo período.
Outro ponto -- destacado pela Suno -- é o alto grau de alavancagem da empresa. “A AgroGalaxy apresenta níveis de endividamento muito mais altos do que acreditamos ser saudáveis. Nos primeiros dez meses de 2020, o indicador dívida líquida ajustada pro forma/Ebitda ajustado pro forma foi de 5,3 vezes”, diz o documento.
Para completar, o relatório afirma que o histórico de resultados da companhia não é muito animador e recomenda não participar da oferta.
“[O histórico de resultados] demonstra sinais de dificuldade de manutenção operacional, com a necessidade excessiva de financiamentos por parte de terceiros para conseguir realizar aquisições.”
Vale lembrar que a AgroGalaxy é o resultado de seis fusões e aquisições realizadas entre empresas do ramo e pretende investir parte do dinheiro captado no IPO em novas aquisições.
O fator também foi destacado no material da Nord, que recomendou ao investidor ficar de fora da oferta da AgroGalaxy devido às margens e às rentabilidades baixas somadas a um endividamento alto.
“Se existirem adversidades – como problemas relacionados à safra, aumento no preço de commodities ou aquisições e lojas físicas sem o retorno esperado –, a companhia pode ficar em maus lençóis”, pontua o relatório.
Em nota, a Agrogalaxy rebateu o ponto destacado no relatório da Suno sobre o endividamento da empresa, afirmando que "no agronegócio não se olha a alavancagem de outubro de 2020, dada sazonalidade de receita. Como mostramos no prospecto, mais de 60% da receita incorre no 4º trimestre, sendo assim, a alavancagem é fortemente impactada por essa sazonalidade, assim como a receita".