Mundo

Congresso do Peru aprova lei que prescreve crimes contra a Humanidade cometidos antes de 2022

Projeto, que agora aguarda sanção presidencial, quer anular julgamentos por supostos crimes de guerra de mais de 600 militares

AFP
AFP

Agência de notícias

Publicado em 4 de julho de 2024 às 16h47.

Última atualização em 4 de julho de 2024 às 16h49.

Tudo sobrePeru
Saiba mais

O Congresso do Peru aprovou nesta quinta-feira um projeto de lei para prescrever crimes contra a Humanidade que foram cometidos antes de 2022. A iniciativa, que agora aguarda a sanção presidencial, pode beneficiar o ex-ditador Alberto Fujimori, de 85 anos, e 600 militares ao anular os julgamentos por supostos crimes de guerra cometidos no país durante o conflito interno que deixou mais de 69 mil mortos e 21 mil desaparecidos entre 1980 e 2000.

Impulsionada pela maioria de direita que controla o parlamento unicameral, o projeto foi aprovado em segunda votação pela Comissão Permanente, que legisla durante o recesso parlamentar, com 15 votos a favor, 12 contrários e nenhuma abstenção. A primeira votação ocorreu em 6 de junho, quando também foi aprovado. Agora, a presidente Dina Boluarte, conservadora e atualmente investigada pelo Ministério Público por corrupção passiva, tem até dez dias para promulgar ou devolver o texto ao Congresso.

O projeto de lei alega que o Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, responsável por estabelecer o Tribunal Penal Internacional (TPI), entrou em vigor no sistema jurídico peruano apenas em 1º de julho de 2022, enquanto a Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes contra a Humanidade teria sido adotada apenas em 9 de novembro de 2003, informou o jornal peruano El Comércio.

"Ninguém será processado, condenado ou punido por crimes contra a humanidade ou crimes de guerra, por atos cometidos antes de 1º de Julho de 2002, sob pena de nulidade e responsabilidade funcional. Nenhum ato anterior a essa data pode ser classificado como crime contra a humanidade ou crime de guerra”, afirma o texto.

A medida, apresentada pelos parlamentares Fernando Rospigliosi (Fuerza Popular) e José Cueto (Honor y Democracia), tem sido criticada por entidades estatais e organizações de direitos humanos. Se for sancionada, o Ministério Público afirmou que permitirá a prescrição automática de 600 casos de alegados crimes de guerra que estão sendo investigado há mais de três décadas, incluindo Fujimori.

O ex-ditador foi preso em 2009 por conta de massacres cometidos por esquadrões da morte do Exército em 1991 e 1992, nos quais 25 pessoas foram mortas em supostas operações antiterroristas, consideradas execuções e crimes contra a Humanidade. Em dezembro passado, o Tribunal Constitucional do Peru ordenou sua libertação, justificando sua decisão devido à saúde "abalada" de Fujimori e lembrando que o ex-presidente já "cumpriu aproximadamente dois terços de sua condenação". Nesta semana, Fujimori anunciou sua filiação ao Fuerza Popular, liderado por sua filha, Keiko.

A presidente da Comissão de Constituição e Regulamento do Congresso do país, Martha Moyano, também do Fuerza Popular, alegou nesta quinta-feira que "a lei não pretende ser uma anistia, como maliciosamente se tem insinuado".

— O único objetivo é esclarecer que as normas, em especiais penais, não se aplicam retroativamente. Porque uma aplicação retroativa lesiona o devido processo e direito de defesa dos réus. Assim, a aprovação deste texto não nos afasta do cumprimento das obrigações internacionais — prosseguiu a parlamentar fujimorista, citada pelo El Comercio.

A parlamentar Isabel Cortez (Cambio Democrático), por sua vez, alegou que os defensores da medida estavam priorizando um "projeto de lei com nome e sobrenome". Esta semana, a Corte Interamericana de Direitos Humanos também instou que o Peru "através de seus três poderes tomasse as medidas necessárias para que não se adotasse" o projeto de lei.

Acompanhe tudo sobre:PeruCrimeDireitos Humanos

Mais de Mundo

Mbappé pede votos contra extrema direita: "Não podemos deixar o país nas mãos dessa gente"

França rechaça rumores sobre possível cancelamento dos Jogos Olímpicos

UE impõe tarifas provisórias de até 37% sobre veículos elétricos chineses

Furacão Beryl quebra precedentes como novo extremo climático e acende alerta sobre o futuro

Mais na Exame