Pix chega a 25% dos brasileiros, movimenta R$ 203 bilhões e deve ganhar novas funções
Novo sistema de pagamentos completa dois meses em operação com números expressivos, mas adoção entre pessoas jurídicas ainda é bastante baixa
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 16 de janeiro de 2021 às 08h35.
Novo sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, o Pix completa exatos dois meses de operação neste sábado, 16. Neste período, mostrou números expressivos, crescimento acelerado e enorme volume de transações, mas ainda não engrenou entre lojistas e empresas.
De 16 de novembro, quando entrou oficialmente em operação, até agora, já foram realizadas mais de 237 milhões de operações utilizando o novo sistema, movimentando um total de mais de 203 bilhões de reais. A esmagadora maioria das transferências foi feita por pessoas físicas: em dezembro de 2020, das 121,5 milhões de operações realizadas, 105 milhões, ou 86%, foram de pessoas física para pessoa física.
"Os números expressam um crescimento gradual e consistente na adoção do Pix pela população e pelas empresas. Como esperado, a adoção entre pessoas foi mais alta nesse momento inicial, mas com a maior popularidade do Pix, é esperado que haja um crescimento maior nas transações envolvendo empresas", disse o BC à EXAME, através de sua assessoria de imprensa.
Os números do Banco Central, atualizados até 14 de janeiro, também mostram que foram registradas quase 147 milhões de chaves, por 56 milhões de usuários — a diferença se dá porque cada usuário pode ter mais de uma chave Pix. O número é bastante significativo, já que equivale a 26% da população brasileira — ou quase 35% da população acima de 14 anos. No entanto, menos de 5% do total de chaves cadastradas pertencem à pessoas jurídicas (PJs).
Um dos fatores que pode prejudicar a adoção do Pix por PJs é a possibilidade de cobrança de taxas, que não poderão incidir sobre transações de pessoas físicas. O Banco Central, entretanto, ressalta que a decisão de cobrar a taxa é das instituições financeiras, e que a concorrência pode baratear os custos, ou até evitá-los: "A possibilidade de cobrança de tarifa está prevista desde o lançamento do Pix e os agentes privados podem pactuar livremente suas estratégias para tal cobrança", disse a insituição, completando que "já são 735 instituições aprovadas como participantes do Pix".
Novidades para 2021
O Banco Central anunciou, ainda no final de 2020, que pretende lançar uma série de funcionalidades para o novo sistema em 2021. QR Code Offline, Saque Pix, Pix Garantido, Pix Agendado e Pagamento por Aproximação (NFC) são os principais deles.
Ainda não existe data para lançamento das novas funções, mas, segundo o BC, a instituição está "trabalhando no planejamento da agenda evolutiva prevista para 2021" e afirma que o tema será discutido na primeira reunião plenária do ano, em 28 de janeiro.
Algumas das funcionalidades são bastante aguardadas e podem ajudar bastante a aumentar a adesão do sistema por pessoas jurídicas. O "QR Code Offline", por exemplo, permitirá pagamentos via código QR mesmo se o pagador estiver sem acesso à internet, o que é importante em um país como o Brasil, cuja cobertura da rede de internet é um problema e onde muitas pessoas utilizam telefones pré-pagos, o que pode deixá-las sem créditos para uso de dados.
O pagamento por aproximação é outro exemplo, já que o uso de dispositivos móveis para pagamentos tem crescido durante a pandemia por evitar qualquer tipo de contato, e também porque a maioria dos lojistas já trabalha com máquinas de cartão que poderiam receber também pelo Pix.
O "Saque Pix" também pode movimentar o comércio, pois transforma lojas em uma espécie de "caixa eletrônico": o consumidor poderá fazer um Pix para o lojista e receber o valor em dinheiro. "É uma conveniência para o consumidor e é interessante para o etabelecimento comercial, porque reduz o custo com gestão e segurança do numerário. Esse estabelecimento vai acumular menos dinheiro físico ao longo do dia, o que o deixa menos suscetível a assaltos e diminui necessidade de contratar transporte para esse dinheiro, por exemplo”, explicou Carlos Eduardo Brandt, do Departamento de Competição e Estrutura do Mercado Financeiro do Banco Central, ao anunciar a novidade no ano passado.
O Pix Agendado é outra função importante, pois poderia substituir o atual agendamento de TED e DOC, utilizado principalmente para pagamentos recorrentes como aluguel, salários e afins. Já o Pix Garantido é uma associação dessa função, e serve para garantir que o recebedor de fato receba o valor agendado, mesmo que o pagador não possua o valor em sua conta bancária.
Ainda é cedo para afirmar se o Pix vai, de fato, substitui TED, DOC e os cartões de débito, como muita gente previu antes do seu lançamento. Ao mesmo tempo, é notável a adoção do sistema por pessoas físicas, movidas principalmente pela rapidez, praticidade e gratuidade do sistema. Para o comércio, entretanto, o caminho ainda parece longo para o Banco Central, e as novas funções a serem lançadas em 2021 podem ajudar a mudar o panorama.