'Muitos negócios vão deixar de existir", diz chefe do BC sobre open banking
Em entrevista, chefe de regulação do BC diz que open banking vai confrontar modelos de negócio, fazer alguns deixarem de existir a permitir a criação de outros
Gabriel Rubinsteinn
Publicado em 8 de fevereiro de 2021 às 13h32.
Última atualização em 9 de fevereiro de 2021 às 17h35.
Na última segunda-feira, dia 1º de fevereiro, teve início a primeira fase de implantação do open banking no Brasil, sistema que promete ser um divisor de águas no sistema financeiro nacional.
Para explicar o que muda na vida das pessoas e tirar dúvidas, o educador financeiro William Ribeiro recebeu para uma entrevista ao vivo em seu canal “Dinheiro Com Você”, no YouTube, o Sr. João André Marques Pereira, chefe do departamento de regulação do sistema financeiro do Banco Central.
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Durante o bate papo, foram destacados todos os benefícios que o open banking poderá trazer para os cidadãos e para as instituições do país. Contudo, também foram feitos alguns alertas como o reflexo nos negócios que se beneficiam de informações personalizadas, como administradoras de cartões private label e varejistas com financeiras próprias.
Ribeiro fez exatamente essa provocação, lembrando que instituições como essas são especialistas no segmento em que atuam, juntando informações de um público consumidor que os bancos não têm acesso e, por isso, não se interessam em atingir, como forma de evitar o risco.
Com o open banking, o acesso ao histórico desse consumidor poderá ser distribuído entre outros entes do sistema financeiro, bastando o aceite do usuário. Desta forma, algumas empresas poderão perder a vantagem competitiva de se conhecer profundamente o comportamento financeiro do consumidor.
“O open banking vem confrontar vários modelos de negócio. Muitos vão deixar de existir e muita coisa nova vai surgir. O potencial é imenso”, concordou o chefe de regulação do Banco Central.
Pereira ainda acrescentou que “tem muita coisa bacana que já está sendo construída utilizando inteligência artificial, por exemplo. Uma vez que gente tenha esse fundamento colocado, os aplicativos começarão a ser criados e novos modelos de negócios também nascerão com base nessas informações”.
Fim de uma era
Pereira também explicou que define o open banking como um fundamento, pois ele envolve diversos princípios. “O open banking muda toda a forma do sistema financeiro se relacionar com as pessoas e, também, a forma como essas instituições se relacionam entre elas. Por trás dele há toda uma estrutura, uma tecnologia”.
E um dos pontos mais importantes e que mais geram questionamentos é sobre o sigilo das informações, “Tudo que é novo gera dúvidas”, lembrou Ribeiro.
“Hoje, se você tem um relacionamento com um banco e tem informações, transações, um histórico e quiser iniciar uma nova relação com uma nova instituição financeira, muitas vezes, você precisa começar do zero. O open banking possibilita você pegar essa informação que já está lá e levar para outra instituição. A coisa não começa do zero, o que possibilita oferecer serviços melhores e mais apropriados”.
De qualquer forma, segundo destacou, nenhum dado poderá ser enviado de uma instituição para outra específica sem o consentimento do cliente.
O chefe de regulação do Banco Central acrescentou como esse novo cenário é positivo para a concorrência no setor. “Quanto mais competidores, mais modelos de negócios, surgem coisas muito diferentes do que estamos acostumados e com preços melhores. Isso força o outro lado a pensar em produtos melhores também. Um círculo virtuoso, uma cadeia de competitividade”.
Unificar os serviços financeiros
Ribeiro destacou ainda como os novos aplicativos que nascerão para unificar os serviços financeiros poderão ter um papel importante na educação financeira da população, por exemplo, chegando ao ponto de dar dicas para um melhor uso do dinheiro. Sendo que este é um dos propósitos do open banking, como Pereira explicou a ele.
“Educação financeira, inclusão, competição, tudo isso está dentro do open banking. Existem aplicativos que já estão fazendo isso, juntando o seu comportamento normal do dia-a-dia com o seu comportamento financeiro, tentando antecipar comportamentos, tentando antecipar problemas e trazendo benefícios ao usuário”.
E continua ilustrando alguns cenários que serão possíveis com o open banking alidado a tecnologias como internet das coisas: “Se você está indo à feira pode receber uma mensagem em uma linguagem muito simples alertando que, se você deixar para comprar em outro lugar, amanhã, pode economizar R$ 15 que pode juntar para a viagem que está nos seus planos. A internet das coisas pode chegar ao ponto de alertar que, ao diminuir dois graus do ar-condicionado, a economia ao final do mês poderá ser de R$ 50, por exemplo”.
Empresas de Bitcoin
Diferente do Pix no qual as empresas de Bitcoin e criptomoedas podem participar diretamento do sistema oferecendo soluções de pagamento e transferência de valores, no caso do Open Banking elas não devem ser 'aceitas'.
Isso ocorre porque, segundo o BC, só podem participar do Open Banking instituições reguladas, autorizadas e supervisionadas pelo Banco Central, estando a instituição e seus dirigentes sujeitos às sanções administrativas previstas na legislação em vigor por eventual quebra de sigilo bancário.
Desta forma, as exchanges de criptoativos que esperam uma integração com o novo sistema deverão aguardar uma API de terceiros, como Banco Topázio ou Banco Plural, que tem sido as instituições bancárias criptofriendlys no pais.