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Currículo de Steve Jobs vira NFT e vai a leilão com o documento original

Leilão tenta criar disputa entre físico e digital, mas ignora premissa sobre emissão de NFTs; documento original escrito à mão já tem lance de R$ 180 mil

 (Justin Sullivan/Getty Images)

(Justin Sullivan/Getty Images)

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Gabriel Rubinsteinn

Publicado em 23 de julho de 2021 às 12h34.

Um currículo escrito à mão por Steve Jobs em 1973, um ano antes de começar a trabalhar na Atari e três anos antes da criação da Apple, foi colocado à venda. Mas com uma novidade: além do documento em si, será leiloada também uma versão digital em blockchain - um NFT. Os dois ítens serão vendidos separadamente, numa espécie de "competição" entre os dois formatos.

"Isso abrirá um mercado totalmente novo para itens colecionáveis descentralizados? Ou isso vai cimentar o status quo? Ou poderíamos ver um impasse com um novo entendimento de que ambos podem coexistir e até mesmo se complementar à medida que atravessamos os próximos 50 anos de inovação? Seja qual for o resultado, os mundos das finanças e da arte estarão assistindo ansiosamente", diz o site do leilão, numa tentativa de criar certa rivalidade entre os dois formatos.

"Este formato de leilão único testará verdadeiramente onde reside o valor. Vindo de uma experiência em tecnologia, obviamente estou lutando no lado NFT. Que vença o melhor currículo!", diz Alexander Salnikov, cofundador da Rarible, plataforma que faz a venda do NFT, no site oficial do leilão.

Apesar de inovador, o modelo do leilão ignora uma premissa simples sobre a emissão de NFTs: quem tem a arte, arquivo, documento ou qualquer que seja o original, pode emitir quantos NFTs do item ele desejar. Isso significa que o comprador do currículo original, físico, poderá emitir um novo NFT do documento, quantas vezes quiser, o que desvaloriza imensamente (ou completamente) o NFT colocado à venda agora, que poderia deixar de ser uma peça única.

"Só vai existir um 'primeiro NFT do currículo de Steve Jobs', disse Olly Joshi, um dos responsáveis pelo leilão, à EXAME. "O valor está no fato de ser o primeiro NFT deste documento. Se o novo dono [do documento original] decidir emitir um NFT idêntico, será uma imitação e, portanto, não terá tanto (ou nenhum) valor. Existe um registro claro em blockchain de qual foi emitido primeiro, então o que nós emitidos será para sempre o primeiro e o único com essa característica".

Apesar disso, o fato de futuramente poderem existir diversos NFTs originais de um documento único e raro pode fazer com que a versão digital coloca à venda atraia muito menos interesse do que o original - e isso já se traduz nos números atuais do leilão, que terá duração de mais cinco dias. Enquanto o documento físico já recebeu 20 lances, sendo o mais alto de 35 mil dólares (mais de 175 mil reais), o NFT tem nove propostas, sendo a maior de 0,6 ETH, equivalente a 1.237 dólares (pouco mais de 6 mil reais).

Não é a primeira vez que o currículo escrito à mão por Steve Jobs vai à leilão. Em 2017, ele foi vendido pela primeira, por 18.750 dólares. No ano segunite, em nova venda, o preço aumento quase 10 vezes: 174.757 dólares. No início de 2021, foi adquirido pelos atuais donos a 224.750 dólares, ou mais de 1,1 milhão de reais.

O ano de 1973 foi marcante no universo da tecnologia, e não apenas porque Steve Jobs estava à procura do seu primeiro emprego. Foi o ano em que aconteceu a primeira chamada telefônica por um telefone celular, e que o equipamento foi patenteado. Foi também um ano difícil para os norte-americanos, já que os EUA registraram inflação de 8,4% e o dólar perdeu 10% do seu valor.

O leilão com o documento de um dos homens mais importantes da história contemporânea vai até o próximo dia 28 de julho, às 17h (de Brasília). Se a perspectiva de um novo recorde para o documento físico é possível, o NFT dificilmente encontrará valores comparáveis aos NFTs mais caros já vendidos - lista que é liderada por uma obra do artista Beeple, vendida a quase 70 milhões de dólares.

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