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Jogador da Chapecoense fala pela primeira vez desde o acidente

Jogador disse conviver com uma "mistura de sentimentos", em razão da morte dos colegas e da alegria por ter sobrevivido

O lateral Alan Ruschel: primeiro sobrevivente da Chape a ter alta (Reprodução/Reprodução)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 17 de dezembro de 2016 às 10h21.

Última atualização em 17 de dezembro de 2016 às 10h30.

Chapecó - Primeiro sobrevivente brasileiro da tragédia da Chapecoense a ter alta, o lateral Alan Ruschel concedeu entrevista coletiva na manhã deste sábado, após deixar o hospital na tarde de sexta, em Chapecó. Muito emocionado, ele disse não lembrar do acidente , afirmou ser objeto de um "milagre de Deus" e projetou seu retorno aos gramados daqui a seis meses.

"Farei de tudo para voltar a jogar, com muita paciência. Mas farei de tudo para dar alegria ao Plínio [David de Nes Filho, novo presidente do clube], aos médicos, farei de tudo para dar alegria a esse pessoal aqui", afirmou Ruschel. "Eu calculei três meses para calcificar a coluna, já passou um. Mais dois meses para fortalecer a musculatura. Estou só na capa."

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A entrevista foi marcada por muitas lágrimas antes mesmo do início. Emocionado, o sobrevivente do acidente aéreo que matou 71 pessoas encarou como "milagre" o fato de estar vivo e de ainda poder andar.

"Um momento que caiu aquele avião Deus me pegou no colo e falou que eu tinha mais missão aqui na Terra. Por isso ele não me levou. A única explicação são dois milagres: eu estar vivo e o milagre de eu poder estar andando. Os médicos falaram que foi uma lesão grave que eu tive na coluna. Poder estar andando é milagre de Deus", declarou.

Abalado pela tragédia, na qual perdeu 19 companheiros de time, Ruschel disse conviver com uma "mistura de sentimentos", em razão da morte dos colegas e da alegria por ter sobrevivido.

"Não tem palavras para explicar o que estou sentindo. É uma mistura de sentimentos, uma alegria grande por poder estar aqui de novo, sentado aqui. Mas ao mesmo tempo é um luto por ter perdido muitos amigos", declarou, sem conter o choro. "Como eu postei foto esses dias, falando que seguirei em frente, honrando os que foram morar com Deus. Honrarei seus familiares que aqui ficaram, que hoje estão sentindo a dor."

Quanto ao acidente, o lateral disse não ter lembranças da forte batida contra um morro, a 30km de Medellín, na Colômbia, onde a equipe da Chapecoense iria enfrentar o Atlético Nacional pelo jogo de ida da final da Copa Sul-Americana.

"Eu lembro de sair de São Paulo, depois a gente estava chegando em Santa Cruz de la Sierra. Depois lembro de estarmos saindo de lá. Não lembro do voo, do acidente. O que eu lembro depois é da minha esposa Marina falando no hospital", afirmou.

Ele revelou que mudou de assento antes do início do voo e acabou sentando próximo a Jackson Follmann, que também sobreviveu ao acidente. "Quando a gente chegou em Santa Cruz de la Sierra a gente ia pegar o voo fretado e o Cadu pediu para eu sentar um pouco mais para frente para deixar os jornalistas sentarem no fundo. Na hora eu não quis sair dali. Aí eu vi o Follmann e, por olhar para ele, ele insistiu para eu sentar com ele, aí eu saí de lá de trás e fui sentar com o Follmann. É uma parte que eu lembro", declarou.

Por fim, Ruschel disse que encara o acidente como uma grande lição de vida. "Estava indo para um jogo e simplesmente você não sabe se vai voltar, não sabe o que vai acontecer daqui a dez minutos. O que eu levo de lição é aproveitar a vida e fazer o bem. O que fizeram comigo durante esses dias não tem explicação. O jeito que me trataram na Colômbia, aqui no Brasil, o que os médicos fizeram por mim não tem explicação."

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