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Vini Jr., o Atlas Negro: “Se custar a minha paz já custou caro demais”

Celso Athayde escreve sobre o racismo e a resiliência do jogador do Real Madrid, que vem sofrendo uma série de ofensas no Campeonato Espanhol

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Vini Jr., jogador do Real Madrid: série de ofensas racista provoca indignação no futebol, mas não há ação por parte da La Liga, que comanda o futebol espanhol (Quality Sport Images/Getty Images)

Vini Jr., jogador do Real Madrid: série de ofensas racista provoca indignação no futebol, mas não há ação por parte da La Liga, que comanda o futebol espanhol (Quality Sport Images/Getty Images)

De Pelé a Vini Jr. o que mudou, de fato, no futebol, no Brasil e no mundo? Vini Jr. é forte. Vini Jr. tem resiliência. E, talvez, essa seja a principal lição a se tirar de tudo que o jogador viveu no domingo (21.05). As novas gerações precisam estar focadas, centradas, fortalecidas como ele. Ninguém aqui, nenhum de nós dá motivo para o racismo, mas ele vem até nós, sempre nos encontra e não podemos ser pegos desprevenidos, com a guarda baixa.

Ouvir um estádio inteiro te chamar de macaco, receber um mata-leão e ser o único expulso do campo é mais do que motivo para que Vini “despirocasse” como o “Coringa”, personagem do filme que tantos amam, a quem facilmente justificam suas atitudes criminosas por ter sido massacrado pela sociedade, o capitalismo e tudo mais. Esse é o argumento do filme. Vini Jr, no entanto, não receberia a mesma passada de pano, caso saísse do prumo.

Recorro a outro personagem, desta vez um grego, Atlas, carregando o peso dos céus sobre suas costas como castigo por desafiar Zeus. Vini seria quase isso carregando o peso do racismo mundial, com a diferença de que não tem por que ser castigado se não desafiou autoridade alguma, se pelo contrário, com a bola no pé tudo que fez foi mostrar talento, determinação, inspirar milhares de jovens pelo mundo, disputar a Copa Mundial, ganhar dinheiro, honrar o legado de quem veio antes no futebol brasileiro e fazer bonito na gringa.

O esporte brasileiro

É fato que o Brasil não faz a lição de casa no combate ao racismo, ou não tem feito nos últimos, sei lá, seis anos, senão por uma parcela diminuta da população, de modo que cobrar posicionamento, retratação, prevenção nos joga num limbo terrível quanto ao crime sofrido pelo Vini Jr., uma vez que não somos exemplos. Mas apesar do limbo, é evidente que o fato de o Brasil não fazer a lição de casa também não justifica em nada o crime sofrido pelo Vini.

Sigo e seguirei achando que é ingenuidade nossa, do nosso povo cobrar posicionamento de quem quer que seja, consciência de quem endossa, permite e prefere o silêncio nestes casos. Não há conveniência mais escancarada do que essa. Ou parte de nós ação, afeto, proteção e luta, ou vamos seguir ajudando redes sociais também racistas como o Twitter a colocar nossas hashtags no topo por algumas horas e acreditarmos que fizemos muito, quando não.

Na contramão disso, o futebol brasileiro vem perdendo representatividade e deixando de ser referência há muito tempo. O 7x1 fala por si. O Esporte no Brasil, de maneira geral, foi sucateado. As Olimpíadas nos mostraram isso, Rayssa Leal, Isaquias Queiroz, Popó sendo resgatado por força de um humorista, tudo isso prova como se o Esporte sobrevive é por outros meios que não os incentivos institucionais ou privados, meios que são o próprio esforço de cada atleta.

É com isso que percebo o quanto tecnologias sociais como a Taça das Favelas, realizada há mais de 10 anos no país, são importantes, por revelar e acompanhar os talentos, os jovens, que estão nas periferias e só precisam de uma chance, de uma oportunidade para mostrar do que são capazes. E olha, eles são muito capazes, procurem saber...

Toda força nesse momento para o Vini Jr., todo amparo emocional, familiar, espiritual que ele não está tendo do campeonato, do próprio time, dos torcedores gringos, que ele encontre esse amparo no país que o revelou para o mundo.

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