Ser contrário à lei de igualdade salarial é um desrespeito à luta das mulheres, diz Cida Gonçalves
Ministra das mulheres e outras painelistas discutiram equidade de gênero em evento promoido pelo Pacto Global da ONU - Rede Brasil, durante a 68ª Comissão da Situação da Mulher, em Nova York
Repórter de ESG
Publicado em 15 de março de 2024 às 13h11.
Última atualização em 18 de março de 2024 às 09h47.
De Nova York*
"Fechar a lacuna de gênero no emprego e no empreendedorismo poderia aumentar o produto interno bruto global em mais de 20%. Além disto, as melhorias na igualdade de gênero ocasionariam em 10,5 milhões de empregos adicionais em 2050", disse Paula Tavares, especialista sênior em desenvolvimento do setor privado e gênero do Banco Mundial. Foi com a apresentação dos dados econômicos que a executiva buscou sensbilizar uma plateia majoritariamente brasileira e feminina na sala de jantar e eventos da Organização das Nações Unidas.
Os benefícios do equilíbrio entre homens e mulheres no mercado de trabalho foram repetidos à exaustão ao longo desta quinta-feira no evento promovido pelo Pacto Global da ONU - Rede Brasil, paralelo à 68ª Comissão da Situação da Mulher (CSW). Contudo, as duas dezenas de participantes que subiu ao palco concordou que os desafios são ainda imensos.
"A notícia importante é que as práticas de diversidade estão perdendo força nas empresas por estarem ligadas à uma área e não na estratégia de negócios", diz Cristina Naumovs, CEO da consultoria Unah.
Reflexo disto, é a ação daConfederação Nacional da Indústria (CNI) e da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) no Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar trechos da lei da igualdade salarial que consideram inconstitucionais."Ainda estou impactada com o fato das empresas terem acionado o STF contra a lei de igualdade salarial. Ser contrário à lei é um atraso e um desrespeito à luta das mulheres", afirmou Cida Gonçalves, ministra das Mulheres.
Para ela, é preciso que as mulheres se unam na criação de mecanismos. "O Brasil tem mil municípios sem mulher vereadora. Nós precisamos começar a fazer uma lista, com as mulheres que estão há anos trabalhando na política para quando um homem no poder dizer que não há nomes femininos para ocupar os espaços, nós tenhamos as indicações preparadas", disse.
No evento, a ministra lembrou que a decisão é também econômica. "Tive que estudar muito o mercado de trabalho e entender como a igualdade salarial que diferença no desenvolvimento do país. A mulher com empoderamento econômico têm mais possibilidades de evoluir e garantir o desenvolvimento dos que estão no seu entorno".
Caminhos para o desenvolvimento da equidade de gênero
Apesar dos desafios, caminhos foram pensados. Para Adriana Carvalho,líder da delegação brasileira doW20, subgrupo do G20 criado para empoderar economicamente as mulheres, é preciso incluir forncedores na conversa. "Se a gente não tiver um movimento grande na cadeia de valor não vamos mudar a realidade das mulheres no setor produtivo".
Já para Natalia Paiva, diretora-executiva doMovimento pela Equidade Racial (Mover) não é possível descolar a pauta de gênero com a racial. "1/3 da liderança são pessoas negras, mas desses só 1/3 são mulheres negras. Quando falamos de liderança executiva, ou seja, diretoria e acima, o índice de pessoas negras são 10% do quadro executivo, e apenas são 2% mulheres. A perversidade do racismo e machismo não podem ser desassociadas e precisam ser trabalhadas de forma interseccional".
Considerando que a maioria das pessoas em posição de liderança são homens, é indispensável que eles participem da conversa. Assim, em um dos paineis, Rafael Tello, diretor de sustentabilidade da Ambipar foi questionado sobre como ser um real aliado. "As empresas precisam reconhecer o quanto elas trabalham pela equidade. Quando abordamos o tema na Ambipar percebemos que precisávamos buscar quem sabia mais do que nós. Assim, nos associação com organizações e fomos construindo um plano de ação para a mudança dos indicadores".
Por fim, Camila Valverde, diretora da Frente de Impacto e COO do Pacto Global da ONU – Rede Brasil, ressaltou a importância da reunião de governos e empresas de diferentes setores. "Este é o segundo ano que o Pacto Global da ONU - Rede Brasil traz a delegação brasleira para discutir a situação das mulheres a partir da perspectiva do Sul Global na CSW. Somos em cerca de 150 pessoas pensando em onde estamos e como dar novos passos", finaliza.