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Retrospectiva ESG 2020: o ano do capitalismo de stakeholder

A pandemia reforçou o argumento de que a busca incansável pelo lucro não é mais um padrão aceitável para as empresas e para o mercado financeiro

(Alex Kraus / Bloomberg/Getty Images)
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Maria Clara Dias

Publicado em 28 de dezembro de 2020 às 08h00.

Última atualização em 28 de dezembro de 2020 às 10h16.

O ano de 2020 ajudou a popularizar um modelo de negócio que busca priorizar o retorno a todas as partes interessadas, deixando de lado a busca do retorno financeiro exclusivo aos acionistas - o chamado capitalismo de stakeholder. Em 2019, o The Business Roundtable, grupo que reúne 150 CEOs das maiores companhias americanas, lançou as bases do modelo que hoje vem sendo seguido pelas empresas - ou pelo menos por parte delas.

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Desde a carta aberta do grupo, a bioeconomia passou a ocupar o centro da estratégia de países que desejam se aproximar do capitalismo que favorece o impacto socioambiental de empresas acima do lucro. Essa economia é baseada em ecologia e na conversão de matérias-primas naturais em alimentos, energia e combustíveis, por exemplo. A União Europeia está na vanguarda dos países que olham para a bioeconomia com bons olhos. Por lá, o modelo já movimenta 2,3 trilhões de euros, segundo o Centro de Pesquisas da Comissão Europeia.

O barulho dos jovens nas discussões sobre as mudanças climáticas também nunca foi tão evidente quanto no último ano. Durante a última Conferência do Clima da ONU, em 2019, o mundo parava para assistir a sueca Greta Thunberg, de apenas 16 anos, questionar grandes autoridades globais sobre a passividade em lidar com a urgência das mudanças climáticas. A “Geração Greta” se consolidou como um ator político relevante. Era o sinal verde para que jovens se comprometessem ainda mais com a causa ambiental - e pressionassem autoridades e companhias a fazerem o mesmo.

Mesmo com todas as peças que montam o quebra-cabeça da bioeconomia, o que permeia a sua evolução e determina o sucesso do desenvolvimento de um capitalismo consciente é a redução nas emissões de carbono. Abolir o componente tornou-se o objetivo de uma missão global que envolve países, empresas e instituições não governamentais.

E então..2020

Pela primeira vez em 10 anos, o meio ambiente foi inserido como um dos principais riscos globais no relatório anual do Fórum Econômico Mundial divulgado em janeiro. No documento, o WEF considerou que os cinco principais riscos à economia mundial estavam relacionados a eventos climáticos extremos.

A esta altura, o capitalismo que sempre vigorou já era questionado abertamente.  “O modo como fazemos negócios, vivemos e nos acostumamos na era industrial terá que ser mudado. Teremos que deixar isso para trás nos próximos 30 anos e teremos que mudar completamente para novas cadeias de valor “, disse a chanceler alemã Angela Merkel em seu discurso durante o evento.

Também no início do ano, o Banco de Compensações Internacionais suíço (BIS) divulgou um um documento no qual cunhou pela primeira vez a expressão “ cisnes verdes ”, eventos climáticos não previstos e com a capacidade de gerar crises financeiras em larga escala.

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O que ocupava apenas o campo das ideias ainda em janeiro durante o Fórum em Davos e nos papéis do WEF tornou-se realidade indiscutível com a chegada da pandemia. A nova economia, junto da preocupação ambiental, invadiu a pauta de países e empresas que foram forçadas a evoluir 20 anos em 20 dias.

No segundo semestre, as consequências da crise econômica já eram perceptíveis, bem como os ganhos de empresas que assumiram uma nova política de avaliação de riscos e compensação financeira. O capitalismo de stakeholder não apenas sobreviveu como se mostrou mais lucrativo durante a pandemia, foi o que mostrou a BlackRock, maior gestora do mundo.

Desde o início do ano, a BlackRock lançou 23 fundos de índice (ETF) sustentáveis, que juntos formam um carteira de 11 bilhões de dólares, valor duas vezes superior ao visto em 2019.

Com a nova agenda de comprometimento de empresas, que nunca evidenciaram tanto seu papel social como na pandemia, e a popularização de fundos ESG (sigla em inglês para governança ambiental e social das empresas), o otimismo voltou. “As pessoas pensam que a economia de stakeholder só funciona a longo prazo. Ok, mas, em algum momento, é preciso ter resultado no curto prazo. Hoje, se você começa o dia de trabalho e não pensa em fazer algo que melhore a vida do seu filho, não está sendo ambicioso o suficiente”, disse o criador da teoria do capitalismo de stakeholder, Robert Freeman, durante um evento em agosto.

Para encerrar um ano tão atípico e estruturalmente essencial para desenhar as linhas do que está por vir em termos de geração de renda para países e empresas, o mundo observa novas adequações ao Acordo de Paris, que em 2020 completou 5 anos.

O tratado define as boas práticas e comprometimento de países no combate às mudanças climáticas. Nesse contexto, o Brasil, havia dito que reduziria a emissão de gases do efeito estufa em 43% até 2030. Recentemente, o Governo brasileiro estendeu o prazo para zerar as emissão para 2060, na retaguarda da China.

Salvar o meio ambiente nunca foi tão popular – e tão lucrativo. Um levantamento da Morningstar diz que o crescimento de fundos ESG no mundo foi de 1,1 bilhão em 2019. Em 2020, esse número deve ser 10 bilhões de dólares. Até 2024, cerca de 40% dos ativos em circulação nos mercados de capitais serão lastreados em algum pilar ESG, segundo uma pesquisa recente da BlackRock.

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