ESG

Quasar quer 100% de integração ESG na gestora até 2022

Expoente do setor de crédito privado no mercado, a gestora estabeleceu a meta de incluir o ESG em todas as carteiras até 2022

 (Thithawat_s/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 1 de outubro de 2021 às 11h12.

Juliana Machado e Renata Faber

Com o crescimento do interesse dos participantes do mercado financeiro no tema ESG, gestoras de ações diversas correram para colocar de pé produtos voltados para o assunto, selecionando as ações das melhores empresas com iniciativas sociais, ambientais e de governança corporativa. Não demorou muito e o tema já está presente também nas mesas de crédito e é de olho nessa expansão que a Quasar, uma das expoentes do setor de crédito privado no mercado, colocou como meta ter todas as carteiras da casa aderindo a princípios ESG até o final de 2022.

A meta é ousada e, por isso, os trabalhos já começaram. “Sempre tivemos a preocupação de pensar para quem vamos dar o crédito. Desde o começo olhávamos questões trabalhistas e ambientais, mas percebemos a necessidade de formalizar esse processo”, explica Fernanda Franco, co-CEO da Quasar, que lidera a agenda ESG na gestora junto com Bruno Bacchin.

Identificada a necessidade, eles desenharam uma política socioambiental, que é um questionário enviado para as empresas. Esse documento é composto de mais de 70 perguntas que, depois de respondidas, são transportadas para uma matriz de risco. Na teoria parece fácil, mas na prática tem vários desafios.

“Trabalhamos com empresas do middle, que não estão acostumadas a esse nível de diligência. No começo, escutávamos de algumas empresas: ‘mas nem os bancos me pedem isso’. E tivemos de fazer um trabalho para explicar a importância, ajudar as empresas a responder”, conta Bruno.

“Explicamos como o ESG pode influenciar a disponibilidade e o custo de crédito, além de ajudar as empresas a mensurar melhor os riscos”, afirma Fernanda. “E trabalhamos junto com as empresas para ajudá-las a avançar nessa agenda.”

A Quasar foi fundada em 2016, mas a ideia de montar fundos de crédito no Brasil já estava há alguns anos na cabeça de Carlos Maggioli, fundador da empresa. Em 2008, ano da fase aguda da crise financeira que levou o Lehman Brothers à falência, Maggioli estava em Londres e se perguntava quem no lugar dos bancos faria o papel de emprestar recursos às empresas. Em 2015, já de volta ao país, Maggioli percebeu que os desdobramentos da Lava-Jato para bancos e grandes companhias havia acentuado a lacuna da já escassa oferta de crédito local, sobretudo para o segmento middle market.

“Acreditávamos que poderíamos atender esse segmento de forma mais rápida e menos burocrática, mas respeitando todos os processos e nos aproximando das empresas”, diz Maggioli ao frisar que a aproximação com as empresas foi o ponto mais crucial para colocar de pé uma vertical ESG que passasse por toda a gestora.

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A Quasar começou a primeira captação de um fundo de direct lending no Brasil, que foi concluída em 2018. O fundo roda com TIR (taxa interna de retorno) de 20% ao ano e não teve nenhuma inadimplência. O segredo? Os chamados 4 Ps: produtos para resolver um problema; pessoas, sempre as melhores e nas posições certas; processos, principalmente de análise; e paciência, “pois não tem atalho quando o assunto é crédito”, diz.

Sempre obedecendo aos 4 Ps, a Quasar cresceu e atualmente tem 3,3 bilhões de reais sob gestão, em 15 fundos. Colocar uma espinha dorsal ESG numa gestora já consolidada é um processo demorado e que esbarra em percalços quando se é o credor de empresas, mas o processo de integração também tem trazido boas surpresas. A primeira é na performance. “Em nosso primeiro fundo, que já tem mais de três anos de histórico, não tivemos nenhum problema de crédito e acreditamos que a diligência ESG teve um papel importante nesse resultado”, afirma Fernanda. A segunda é no engajamento. “Temos fundos offshore em Luxemburgo, são super rigorosos com ESG, mas também compramos títulos de empresas em países emergentes, como China. Se todos os colaboradores e sócios não estiverem engajados, e se não tivermos processos, seria um desafio ainda maior”, pondera.

Dentro de casa, a Quasar compensa suas emissões de carbono escopos 1 e 2, e é signatária do Investidores pelo Clima (IPC). A gestora também busca aumentar a diversidade em seu quadro de funcionários, uma das pautas mais criticadas no mercado financeiro devido ao histórico de baixa participação de negros, mulheres e pessoas LGBT. Atualmente, mais de 30% do quadro de funcionários é composto de mulheres, e o próximo desafio é aumentar a diversidade além do gênero.

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