Projeto de dessalinização da CPFL leva água potável a comunidades indígenas
Com investimentos de R$ 8 milhões da State Grid e parceria com o governo do estado, iniciativa leva segurança hídrica para cerca de 3 mil moradores no Rio Grande do Norte
EXAME Solutions
Publicado em 7 de junho de 2023 às 09h00.
Última atualização em 7 de junho de 2023 às 09h48.
A energia gerada pelo Grupo CPFL não leva só eletricidade à população brasileira. Em três comunidades indígenas (Amarelão, Serrote de São Bento e Santa Terezinha) na área rural de João Câmara, no Rio Grande do Norte, ela vai levar água potável para cerca de 3 mil moradores.
Em um projeto entregue em fevereiro de 2023, que uniu a CPFL Renováveis, empresa do Grupo CPFL, que produz energia limpa de fontes renováveis, o Governo do Estado do Rio Grande do Norte, e a State Grid (maior empresa de serviço de utilidade pública do mundo e acionista controlador da CPFL), são produzidos 80 mil litros de água dessalinizada por dia. Ela é distribuída em três chafarizes – um em cada comunidade – por meio de uma adutora de 5 quilômetros de extensão.
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“Essa produção atende aos padrões indicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a população atendida na região e resolve a escassez de água doméstica de longo prazo para mais de 800 famílias”, afirma XinJian Chen, diretor-presidente da CPFL Renováveis.
Ao todo, foram investidos mais de R$ 8 milhões pela State Grid no projeto. A expertise da empresa chinesa em tecnologia e inovação, junto com a experiência em obras de geração de energia da CPFL Renováveis, permitiu a implantação de um sistema de dessalinização altamente eficiente.
“Projetos como esse só são possíveis quando há combinação de esforços de diferentes atores da sociedade – poder público, privado e comunidade”, diz o executivo. “Considerando a escassez de água no Nordeste do Brasil, outros estados podem ter esse projeto de sucesso como referência.”
O diretor-presidente da CPFL Renováveis ressalta que cada estado tem suas características e infraestrutura, e, para implantar um projeto como este, é necessário um bom estudo e diagnóstico, assim como um desenho técnico adequado. Mas afirma que a CPFL está sempre aberta a novas propostas de projetos. “Temos um comitê específico para analisar projetos sugeridos pela comunidade e poder público.”
E por que dessalinização no Rio Grande do Norte?
Como parte da estratégia de negócios, a CPFL tem o compromisso de promover impactos positivos nas comunidades onde está inserida, por isso a companhia analisou as condições de vulnerabilidade hídrica nas localidades onde possui operações para identificar comunidades onde havia real necessidade de abastecimento de água potável.
Ao aplicar como critério os indicadores estabelecidos pela Agência Nacional de Águas (ANA) de acesso à água, a empresa mapeou inicialmente 16 localidades em três estados do país. As comunidades escolhidas no Rio Grande do Norte não só apresentaram insegurança hídrica local mas também representatividade dos povos indígenas, característica histórica de sua ocupação, e mulheres nas lideranças comunitárias.
Hoje, a CPFL tem uma presença importante no Rio Grande do Norte. Possui uma usina de geração de energia do bagaço da cana-de-açúcar e 33 parques eólicos (2/3 do portfólio da companhia e cerca de 60% da demanda de eletricidade do estado).
Direito à água limpa
A escolha do projeto, segundo XinJian, foi baseada no sexto item dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) — Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos.
Dados da organização apontam que mais de 1 bilhão de pessoas no mundo não possuem acesso à água potável e, só no Brasil, 33 milhões são afetadas pela falta do recurso.
“A água é um elemento essencial para a manutenção da vida e dos ecossistemas do planeta. Em 2010, a ONU reconheceu o direito à água limpa e segura como um direito humano, por isso focamos nossos esforços nesse projeto”, justifica. “A iniciativa tem um significado importante em contribuir com o bem-estar da população local e levar dignidade e segurança hídrica para os moradores.”
No último ano, a CPFL lançou seu Plano ESG 2030 com 23 compromissos — alinhados à Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) e a seus ODS — pautados em quatro grandes pilares, entre eles o de geração de valor compartilhado com a sociedade.
A companhia pretende ser carbono neutro a partir de 2025 e até 2030 gerar energia 100% renovável. Hoje, a CPFL conta com uma estrutura de hidrelétricas, usinas de biomassa e parques eólicos que já contribuem com esse perfil de emissões e prevê investimentos de cerca de R$ 40 milhões em tecnologias de hidrogênio verde para contribuir para a transição energética do país, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa e aumentando a eficiência energética.
Projeto de sucesso
O projeto é o maior em dessalinização já investido pela State Grid fora da China. Nele, foi instalado um sistema inteligente de abastecimento de água e um sistema de geração de energia fotovoltaica com conexão à rede de energia, que fornece toda a energia necessária para o processo, atingtido zero carbono sem gerar despesa extra.
Como funciona o processo de dessalinização?
A expertise da State Grid em tecnologia e inovação permitiu a implantação de um sistema de dessalinização altamente eficiente. Com mais etapas, o processo filtra melhor a água: a cada litro, 85% da água se torna potável – ante 70% no método tradicional – e 15% permanecem com resíduos.
A água salobra é retirada dos lençóis freáticos e alocada em tanques e evapora. “A expectativa é que o sistema sirva de exemplo e possa ser replicado”, completa o diretor-executivo.
“Na cerimônia de transferência do ativo para o governo do estado, realizada neste ano, o embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, reconheceu que o projeto de dessalinização é mais uma conquista da cooperação entre China e Brasil. E a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, considerou o projeto um presente precioso do povo chinês para o povo brasileiro”, conta o executivo.
Os custos de manutenção dos sistemas são extremamente baixos. Ainda assim, foram doadas peças sobressalentes para os próximos cinco anos, e técnicos da comunidade foram treinados para lidar com a operação. A terra onde os equipamentos foram instalados conta com uma cessão por 30 anos.
Antes do projeto, os moradores das localidades atendidas precisavam contratar caminhões-pipa para completar a demanda por água que as cisternas não davam conta por falta de chuvas. Mas as entregas não eram regulares e tinham um custo pesado para a renda da população local: 10 mil litros de água custavam entre R$ 200 e R$ 350.
“Além disso, o projeto faz uso total de energia limpa e combina a melhoria da vida das pessoas com ações de proteção ambiental, apresentando diversas vantagens, como ser ecologicamente correto em todo o processo”, finaliza XinJian.