Para diretora da Oxfam, taxação de grandes fortunas é passo contra a desigualdade social
Viviana Santiago conversou com a EXAME sobre os próximos planos da organização, especializada no combate à desigualdade social e econômica dentro de temas como raça, gênero e clima
Repórter de ESG
Publicado em 5 de novembro de 2024 às 17h11.
Última atualização em 6 de novembro de 2024 às 10h52.
Há uma década atuando no Brasil, a Oxfam se destaca como uma das vozes globais na defesa dos direitos humanos. A organização -- que faz parte de uma confederação internacional iniciada em Oxford com perspectiva humanitária -- surgiu com o objetivo de levantar apoio e ajudar populações em situação de vulnerabilidade.
Ao longo dos anos, seu foco expandiu para programas de desenvolvimento que tratam da desigualdade como o problema central.Para a organização, a concentração de riqueza e renda é uma das principais raízes das desigualdades.“Para que a riqueza se concentre no topo da pirâmide, é necessário ter uma base sem renda”, explica Viviana Santiago, que completa seis meses como diretora-executiva da Oxfam Brasil.
“Não só o Brasil, mas todas as nações desiguais do mundo têm uma intensa concentração de renda”, diz. A especialista comentou que a taxação de grandes fortunas, tema cuja proposta de emenda parlamentar foi rejeita na Câmara dos Deputados na última semana,é uma medida que deve ser tomada pelo combate a desigualdade, mas não a única.
“A política fiscal e tributária deve endereçar quem ganhe mais, tributar lucros e dividendos, atuar para evitar a elisão e evasão fiscal”, explica. Para Santiago, as ações podem reverter o sistema fiscal atual, em que a parcela mais pobre da população paga proporcionalmente mais impostos. “Quanto deixamos de investir em políticas públicas porque não retemos esses valores?”, disse.
Desigualdade no Brasil
No Brasil, a Oxfam prioriza as justiças racial e de gênero, econômica e social, climática e rural, pilares prioritários definidos a partir do sistema de desigualdades no país. Entre as ações tomadas estão o fortalecimento da participação política de mulheres negras, a aceleração do empreendedorismo negro e a permanência deestudantesem vulnerabilidade social noensino superior.
Em um momento de retrocesso no comprometimento corporativo com o ESG,a atuação da Oxfam vê desafios no combate às desigualdades, tarefa que, para Viviana, deve ser uma das prioridades das empresas.
“O movimento contra a desigualdade não é o mesmo de 10, 20 anos atrás, mas ainda não é o suficiente. Ainda temos muito pela frente na construção de uma sociedade menos desigual”, explica.
Para Santiago, as empresas têm um papel importante na atuação pela igualdade social, uma vez que seu papel de voz entre as comunidades leva algumas agendas para frente. “Precisamos aumentar a adesão das empresas a práticas e dinâmicas éticas, mostrando que é possível garantir o respeito aos direitos humanos, uma remuneração justa e lideranças diversas sem perder a competitividade e lucratividade”, explica.
Reforma tributária justa
Com a chegada da Cúpula do G20,a Oxfam se prepara para colocar a tributação justa no centro do debate. Viviana adiantou que a organização terá uma mesa de discussão com participação da Oxfam África do Sul e o Ministério da Fazenda. “Vamos discutir a taxação dos super ricos, além de discutir com a Fundação Avina sobre o financiamento climático. Estamos muito empolgados porque são conversas mais do que necessárias, mas urgentes”, explica.
Entre os próximos passos, a Oxfam busca aumentar a perspectiva de carreira para funcionários negros internamente, trabalho que reflete a atuação da organização entre outras instituições. A organização também estará presente na COP29, que começa na próxima semana, em Baku, no Azerbaijão. “A ideia é que possamos nos preparar e formular estratégias pensando já na COP30, de Belém, em 2025”, explica.
Além disso, a organização busca acelerar os processos já existentes, como a garantia de direitos para trabalhadores rurais, ampliar a discussão sobre raça e ampliar a discussão para outras organizações.