ESG criando valor: foco na materialidade, por Renata Faber
Mas como descobrir o que é relevante para cada setor? A maneira mais fácil é olhar o mapa de materialidade
Renata Faber
Publicado em 16 de agosto de 2021 às 17h21.
Renata Faber, head de EXAME ESG
ESG não é uma receita única para todos os setores. As questões ambientais são muito mais relevantes para alguns setores (por exemplo, para os setores de energia, transporte, alimento e mineração) do que para outros (por exemplo, para instituições financeiras).
Para o setor de tecnologia, onde inovação é essencial, conseguir atrair e reter talentos e ter um time diverso é muito importante. Para uma empresa de infraestrutura que presta serviços para o governo, governança é provavelmente o ponto mais relevante.
Mas como descobrir o que é relevante para cada setor? A maneira mais fácil é olhar o mapa de materialidade no site do SASB (Sustainability Accounting Standards Board).
Além disso, várias empresas divulgam seus “temas materiais” (ou matriz de materialidade) nos relatórios de sustentabilidade. Esses temas, que são revisados com certa frequência (em geral, a cada dois anos), derivam de pesquisa e da consulta que as empresas fazem com seus stakeholders: funcionários, clientes, fornecedores, investidores, comunidade e governo.
Saber o que é material para cada setor é muito importante, mas existem dois outros pontos relevantes na questão de materialidade, muito bem explicada em um recente artigo na Harvard Business Review (Social-Impact Efforts That Create Real Value, por George Serafeim):
Foco no que é material cria valor; gastar tempo com pontos não materiais, destrói valor. Analisando a performance de mais de 2.000 empresas americanas durante 21 anos, as empresas que investiram em aprimorar seus pontos materiais tiveram melhor performance do que seus competidores. Já as empresas que direcionaram esforços para pontos não materiais tiveram uma performance inferior em relação à dos competidores. Focar apenas pontos não materiais e fazer propaganda disso é greenwashing, e o estudo mostra que, no longo prazo, o mercado consegue diferenciar quem cria valor de quem faz greenwashing.
O que é material muda ao longo do tempo. Um dos principais desafios das empresas é identificar, antes de seus competidores (e do SASB), fatores ESG que estão se tornando relevantes. Identificando primeiro, as empresas conseguem se antecipar às mudanças que se tornarão necessárias, o que reduz o risco operacional, e conseguem se posicionar como pioneiras. De acordo com uma pesquisa conduzida por George Serafeim (autor do artigo mencionado) e por Jean Rogers (fundador e ex-CEO do SASB), um fator ESG pode se tornar material nestes cenários:
● quando se torna fácil medir o impacto social e ambiental de uma empresa – por exemplo, quando a tecnologia permite rastrear toda a cadeia de fornecedores, as práticas adotadas pelos fornecedores não podem mais ser ignoradas;
● quando ONGs e imprensa começam a falar muito sobre determinado assunto, e esse assunto ganha apoio político;
● quando as empresas encontram dificuldade em fazer seguir determinadas leis ou normas;
● quando um novo produto ou serviço são desenvolvidos, trazendo impactos ambientais e/ou sociais mais positivos em comparação com produtos/serviços já existentes.
Mas como antecipar tendências na prática? Na indústria da moda e de alimentos, os produtores já têm condições de rastrear o impacto ambiental e social de todos os seus fornecedores, e portanto não podem ignorar eventuais riscos da cadeia de fornecimento.
As instituições financeiras têm dados sobre a emissão de carbono das empresas para as quais dão crédito. Eventualmente, terão de neutralizar essas emissões—o que vai encarecer crédito para grandes emissores de carbono—ou trabalhar, junto com seus clientes, em um plano para tentar reduzir o impacto causado por eles.
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