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Patricia Lima, CEO da Simple Organic: "Crescemos, ganhamos escala e começamos a falar de produtos sustentáveis mais acessíveis” (Simple Organic/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 8 de janeiro de 2025 às 08h00.
Última atualização em 8 de janeiro de 2025 às 09h45.
Vivendo seu propósito, Patrícia Lima, CEO da Simple Organic, mostrou ser possível aliar sustentabilidade ambiental e financeira. Fundada em 2017, a marca é pioneira no setor de beleza limpa e vem expandindo expressivamente nos últimos anos, com um portfólio amplo voltado ao skincare e se propondo a ir além e se transformar em um movimento de consumo consciente.
“Agora, entramos em um novo momento: crescemos, ganhamos escala e começamos a falar de produtos sustentáveis mais acessíveis”, contou Patrícia, em entrevista à EXAME.
Na virada do ano de 2024, a empresa passou a se chamar Simple Company, após o lançamento da People Colour, focada em cosméticos labiais e que nasce para chegar em um número ainda maior de consumidores. Com a proposta de ser democrática, o contexto de preços mais altos em matérias-primas verdes sempre foi um desafio e anos depois, a empreendedora celebra a conquista.
Publicitária e jornalista de formação, Patrícia conta que passou boa parte de sua vida trabalhando em agências e com comunicação de moda. Até que, engravidou e entrou em uma crise existencial, se questionando sobre o legado que iria deixar para sua filha e as próximas gerações. Foi então que, começou a questionar a cadeia da moda, setor responsável por cerca de 10% das emissões globais.
Foram dois anos de pesquisa, até que decidiu fazer uma transição de carreira: "era o auge financeiro da minha agência, mas eu estava infeliz", contou. Sem ainda saber no que empreender, Patrícia teve a ideia da Simple no momento em que amamentava sua filha, e percebeu que ela encostava na sua pele e absorvia a maquiagem sintética que usava.
"Foi aí que descobri o que era beleza natural. Como publicitária, olhei marcas que existiam no Brasil, e vi que elas eram muito nichadas e não comunicavam bem. Eu não queria ter isto na minha bancada do banheiro", disse.
Unindo a vontade de deixar um legado positivo com a de mudar de área, Patrícia foi atrás deste mercado. Após visitar uma feira em Los Angeles, entendeu que o conceito de "clean beauty" ainda era muito incipiente no Brasil e que havia uma oportunidade. Assim, nasceu a Simple Organic, hoje com 29 lojas físicas e presente em 3 mil pontos de vendas espalhados pelo país.
"Desde o primeiro dia, a Simple pareceu maior do que era em faturamento, saiu do nicho, estourou a bolha da sustentabilidade e caiu no desejo de consumo", destacou. E ela deixa bem claro: para uma marca ser sustentável, ela tem que nascer com este DNA, e o maior segredo está na matéria-prima.
Pensando nisso, a marca aposta em produtos de skincare veganos, certificados e formulados apenas com ingredientes orgânicos e ativos naturais. E a sustentabilidade é uma jornada 360º: vem desde a cadeia de produção, formulação, política de embalagem, pós consumo e conscientização.Na Simple, a neutralização de carbono também é feita em toda cadeia de produção e há uma preocupação com a logística reversa e embalagens recicláveis. Uma das soluções é a Simple Bag, uma sacola solúvel em água, 100% compostável e biodegradável.
Inicialmente, a empreendedora se deparou com desafios: uma realidade em que a matéria-prima era encontrada majoritariamente na Itália, o que a obrigava a importar. Mas foi questão de tempo para que começasse a produção no Brasil, e o primeiro lote de produtos "vendeu igual água".
"O que aconteceu foi que eu lancei a marca, explodiu e eu percebi que não podia depender da Itália, precisava produzir nacionalmente e existia um 'gap'. E foi o que apostei, mas no início sem grande capital e o que eu vendia era para pagar contas", relembra.
Com a marca quase quebrando financeiramente (e um sonho!), Patrícia diz que foi o posicionamento claro e a sustentabilidade que a salvou. A Simple começou a atrair o mercado de investidores, e no segundo ano, recebeu 16 propostas de aquisição. Em meio à pandemia de Covid-19, em 2020, foi adquirida pela estrutura da farmacêutica Hypera (HYPE3).
"Eu já não tinha mais como sobreviver financeiramente. Vendia, só que eu não tinha capital, e empreendedor é solitário. Eu só sabia que tinha nas mãos uma marca potente e o desejo do consumidor de comprar", acrescentou.
A Hypera veio de encontro com o propósito de levar saúde para as pessoas, e a Simple cresceu expressivamente, reiterando seu próposito em ser democrática. "Gosto de dizer que nosso público-alvo são pessoas. Nós somos a primeira marca sem gênero do Brasil. E quando você comunica que o maior órgão do corpo humano é a pele, e questiona o que aplicamos nela, atingimos a todos", explicou.
Segundo ela, há vários perfis de consumidores: mulheres que estão fazendo quimioterapia, pessoas que vem pelo esporte ou que prezam por uma alimentação mais saudável. Aquelas que chegam pelo "hype" da internet e redes sociais. Há também as que compram para reduzir seu impacto ambiental, ou as que simplesmente acham legal, mas não sabem que o produto é sustentável. "É sobre de fato furar a bolha", ressaltou Patrícia.
Desde 2023, a Simple também é signatária do Pacto Global da ONU, com iniciativas próprias alinhadas a seis Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), como Consumo e Produção Responsáveis, Ação Contra a Mudança Global Climática, Proteger a Vida Marinha, e outros.
Para além da sustentabilidade em suas operações e produtos, a marca vem realizando ações de impacto positivo em outras frentes. É o caso de um projeto recente que levou atendimento médico e odontológico a comunidades ribeirinhas e aldeias da Amazônia.
A empresa também participou das últimas três Conferências do Clima da ONU (COPs): a primeira em Sharm El Sheik, depois em Dubai e na mais recente COP29, em Baku. Nas duas primeiras, foi como palestrante apresentar o 'case' de impacto positivo da marca, e na última, quis absorver o máximo da experiência.
"No dia a dia, você vai esquecendo do seu propósito -- e de beber da fonte. Como empresa na COP, você se encontra em um lugar de mostrar que é possível", contou.
E ainda traz a reflexão: "Afinal, o que o seu skincare fala sobre você? As pessoas saem de uma COP e não sabem que a maioria de seus produtos vem do petróleo?".
Mirando o futuro, a marca quer ganhar cada vez mais escala e se tornar ainda mais acessível, diz Patrícia. "Desejo que ela seja realmente essa grande potência que nasceu para ser. Chegamos em lugares que eu nunca imaginei. Como sonho, eu ainda gostaria de fazer uma fundação Simple de impacto", concluiu.