Biden aumentou sete vezes o preço do carbono. E isso é bom para o ambiente
Como promessa de campanha, o presidente eleito afirmou que reajustaria os custos sociais do carbono; novo valor é de US$ 51 por tonelada
Maria Clara Dias
Publicado em 2 de março de 2021 às 15h31.
Última atualização em 15 de abril de 2021 às 12h02.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, definiu novas diretrizes ambientais como parte de seus esforços contra as mudanças climáticas. Na última semana, o governo americano estabeleceu novos preços para o carbono, jogando o custo da tonelada do componente para 51 dólares - valor sete vezes maior do que o praticado pela administração de Donald Trump, quando o preço social do carbono se aproximava dos 8 dólares por tonelada emitida na atmosfera.
Os custos foram estabelecidos por um grupo de trabalho formado pelos conselhos federais de consultores econômicos, qualidade ambiental e os departamentos de agricultura, energia, comércio, e transporte dos Estados Unidos, além do conselho econômico nacional, o escritório de gestão e orçamento e o escritório de ciência e tecnologia.
A princípio, o valor provisório de 51 dólares segue o decretado durante o governo de Barack Obama, cuja administração foi a primeira a calcular o valor conhecido como custo social do carbono. O grupo de trabalho deve emitir um preço fixo até janeiro de 2022 após uma nova leva de estudos, quando também irá publicar recomendações sobre a incorporação do valor nas decisões orçamentárias do governo. A expectativa é que, com as novas análises, o novo valor chegue aos 125 dólares por tonelada.
O custo social do carbono é um esforço para avaliar e quantificar os danos econômicos e sociais das emissões de gases de efeito estufa. Diferente de um imposto ou taxação, o custo social serve apenas como um parâmetro econômico para que agências federais incorporem o impacto ambiental nos cálculos ao analisar a viabilidade de projetos - como construções civis, por exemplo. A longo prazo, a cifra será incorporada aos cálculos do governo e Biden também prometeu uma gama de regulamentações para o assunto.
Com o custo social do carbono nas alturas, dar continuidade a projetos baseados em matrizes poluentes se tornaria muito mais difícil - para o governo e para as empresas privadas. Sob a ótica dos projetos federais, não seria tão simples aprovar um orçamento para construções no setor de combustíveis fósseis, por exemplo.
Já para as empresas, embora o custo social do carbono definido pelo governo não tenha efeito imediato, a atividade empresarial deve ser afetada pela influência das decisões federais em todos os setores da indústria, incluindo petróleo, aviação, construção civile manufatura.
Na esteira de decisões e análise dos impactos ambientais de grandes projetos, Biden revogou, em janeiro, a permissão para a construção do oleoduto Keystone XL, que liga o Canadá ao estado americano de Nebraska. Além do impacto a comunidades indígenas do entorno, um outro problema da construção do oleoduto está relacionado ao tipo de petróleo que ele carrega. Segundo o Greenpeace, esse tipo de exploração emite 30% mais carbono do que os poços convencionais de petróleo.
Mercado em alta
O mercado de carbono segue aquecido. Para os investidores, a boa notícia é que as apostas de que o preço do ativo subirá dobraram desde novembro, segundo o jornal The Washing Post. No mercado europeu, o volume de negociações de creditos de carbono no mercado regulado chegou a 229 bilhões de euros no ano passado — cinco vezes mais do que em 2017, segundo a consultoria Refinitiv.
O preço da tonelada de carbono no mercado regulado europeu, onde estão 90% das transações do mundo, vem batendo recorde atrás de recorde: hoje está em 33 euros, três vezes mais do que o valor cobrado em 2018. Com o reajuste da meta climática da União Europeia para 55% de redução das emissões até 2030, analistas estimam que os preços subam ainda mais, para até 80 euros por tonelada.