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A Apex Brasil e as favelas: com inovação e criatividade, a periferia pode conquistar o mundo

Agência de promoção de exportações divulga planos de incentivar empreendedores de favela a exportar, e Celso Athayde, da Cufa, fala sobre o potencial global do povo da periferia

Espaço Favela no Rock in Rio: a cultura periférica é promotora de criatividade e inovação (Redes Sociais/Divulgação)
Celso Athayde

CEO da Favela Holding

Publicado em 16 de agosto de 2024 às 14h21.

A história das favelas no Brasil tem sido marcada por narrativas de exclusão, estigmatização e marginalização. Desde que me entendo por gente, é assim. Porém, de alguns anos para cá, muita coisa mudou. Estamos longe ainda de poder dizer que a favela venceu, mas todos os dias vencemos batalhas e seguimos firmes na luta. Nesta semana, foi divulgada pelo presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) , Jorge Viana, uma iniciativa que pode mudar o jogo do empreendedorismo nas favelas, pela missão direta da Apex, que é fomentar a exportação, e, sobretudo, pela possibilidade de mudar definitivamente a percepção da favela sobre ela mesma e do asfalto sobre a favela.

A Apex, se tudo se confirmar, desempenhará um papel fundamental nesse processo de transformação ao investir no desenvolvimento dos empreendedores dessas regiões, possibilitando que eles levem seus produtos e talentos ao mercado global. Claro que muitos não estão nesse estágio, mas estarão em breve se deixarem a favela sonhar. A meu ver, esse é o papel do Estado. Mas nenhum outro gestor viu essa estrada antes do Viana, e ela precisa ser estruturada para dar frutos no futuro. Vamos exportar a potência da favela.

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Esse movimento não é apenas uma questão de incentivo econômico, mas também de justiça social. Sabemos que, nas quebradas, existe uma enorme quantidade de criatividade e inovação. Basta ir às Expo Favelas em todo o Brasil para confirmar. Essas startups de favelas ainda são invisíveis para o Brasil; é natural que também o sejam para o mercado externo. Eu poderia citar 50 empresas que estão prontas para exportar, mas sequer consideram essa possibilidade. Primeiro, precisamos criar a cultura da exportação na favela. Mais até, no Brasil.

O Viana tem de provocar o Sebrae, a CNI, a Dom Cabral e outros atores que podem unir forças para responder a essa demanda e mudar essa realidade. Só então será possível oferecer suporte técnico, financeiro e educacional. A Apex deve proporcionar ferramentas para que esses empreendedores rompam as barreiras que historicamente limitaram seu crescimento. Só de pensar nessa possibilidade, eu me emociono.

O investimento nesses empreendedores não só gerará impactos positivos nas economias locais, mas também colocará o Brasil em uma posição de liderança global em inovação inclusiva, ao criar condições para que produtos genuinamente brasileiros, nascidos da resiliência e da inventividade das favelas, sejam exportados para o mundo. Há muitos anos criamos a frase "Favela não é carência, favela é potência." Em nome dessa frase, entendo que o governo estaria apontando para um novo modelo de desenvolvimento econômico. Uma mudança importante na matriz econômica da favela. Chega de exportar miséria, tragédia, crime e violência, uma vez que nossa criatividade é gigante.

Caso se confirme essa promessa, o gesto, por si só, será um marco histórico para o país. Ele representará a realização prática do discurso de inclusão do governo e da Apex. E simbolizará uma mudança de paradigma: da favela vista como problema para a favela vista como potência. Exportar os produtos das favelas será mais do que uma vitória econômica; será um símbolo de que o Brasil está disposto a valorizar e promover o maior ativo de uma nação em desenvolvimento: o povo da periferia.

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