Turismo na Coreia do Norte aposta em praia e "Disney stalinista"
Governo norte-coreano viajaram à Espanha para visitar cidades turísticas que podem inspirar a indústria turística de um dos países mais isolados do mundo
EFE
Publicado em 23 de agosto de 2017 às 08h54.
Pyongyang - O regime norte-coreano quer mudar seu modelo turístico, deixando os atuais tours em grupo para apostar em um "parque temático stalinista" de Pyongyang e oferecer pacotes de sol e praia em novos centros de férias no seu litoral.
"O turismo tem um bom efeito na vida do povo. Por isso, o nosso governo e nosso líder apostam de maneira firme nisso", declarou à Agência Efe Han Chol-su, vice-diretor de projeto para o desenvolvimento turístico da cidade de Wonsan, conhecida como "a pérola da costa leste" do país asiático.
A cidade, que está situada a cerca de 200 quilômetros de Pyongyang e que conta com bonitas praias, além de lagos, cachoeiras e até uma estação de esqui nos arredores, foi declarada em 2014 Zona de Turismo Internacional, o que lhe permite receber investimentos estrangeiros.
O plano é ambicioso. Os dirigentes mostram através de um vídeo como pretendem que o recém-remodelado aeroporto conte com voos internacionais, além de projetos de conectar a cidade com linhas de trem de alta velocidade e construir áreas de entretenimento e diversos hotéis com um total de 1.900 leitos.
"Buscamos a colaboração e o investimento estrangeiro de empresas que contem com grande experiência neste setor, mas as sanções econômicas não nos deixam avançar", destacou Han, que não quer especificar que porcentagem do projeto já está em andamento.
Um grupo de funcionários do governo norte-coreano viajou recentemente à Espanha para visitar cidades turísticas na costa mediterrânea que poderiam servir de inspiração para a precária indústria turística de um dos países mais isolados do mundo.
Não há cifras oficiais de turistas, mas calcula-se que a Coreia do Norte é visitada a cada ano por entre 4.000 e 5.000 ocidentais, a maioria de Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha.
O sul-coreano Korean Maritime Institute calcula que este volume gera à Coreia do Norte investimentos de entre US$ 30 milhões e 43 milhões anuais.
"Com as atuais normas, não vejo como Wonsan possa se transformar em Benidorm (cidade turística da Espanha). A menos que a Thomas Cook ou uma grande operadora de turismo comece a voar para lá e a oferecer pacotes de sol e praia", comentou à Efe Simon Cockerell, diretor da Koryo Tours, uma das principais agências especializadas em viagens para a Coreia do Norte.
Este especialista considera que o projeto está mais voltado ao turismo local, especialmente às crescentes classes médias de Pyongyang que já se permitem viajar e ir de férias para a praia.
"Ainda que a Coreia do Norte preferisse atrair outro tipo de turismo estrangeiro, os visitantes ocidentais buscam saborear do que lhes proporciona a realidade de um país desconhecido e isolado, não ir à praia", opinou Cockerell.
Atualmente, a maior atração para os turistas é visitar dentro de um grupo escoltado - a única maneira que se pode viajar pelo país - a capital norte-coreana, a joia da coroa da dinastia Kim e uma autêntica "Disneylândia stalinista".
Os turistas fazem fotos na frente das gigantescas efígies de bronze dos líderes na colina Mansudae, visitam o Museu da Guerra de Liberdade da Mãe Pátria ou avistam a cidade da simbólica Torre Juche, antes de fechar-se ao anoitecer no seu isolado hotel. Um turismo alheio, pelo menos até agora, aos testes nucleares, lançamentos de mísseis e tensões internacionais que preenchem as capas dos jornais de todo o mundo para falar do país.
"Tensões deste tipo sempre houve, em 2003, 2013... mas nunca afetaram o turismo. Desta vez, sim. Esta crise está tendo um grande impacto", declarou o diretor da Koryo Tours em relação ao último capítulo de ameaças cruzadas entre Kim Jong-un e Donald Trump.
O impacto será, sem dúvida, muito maior. O caso de Otto Warmbier, o estudante de 22 anos que viajou como turista à Coreia do Norte e acabou em coma após ser condenado a 15 anos de prisão por roubar um cartaz de propaganda, levou o governo dos EUA a proibir, em julho do ano passado, seus cidadãos de visitar o país.
"Os meus amigos e família me diziam que estava louco por viajar à Coreia do Norte após o que tinha acontecido", contou à Efe um sueco de 26 anos durante seu voo de volta de Pyongyang a Pequim, de onde parte a maioria das viagens organizadas.
"Queria ver com os próprios olhos um país único, um sistema que não acredito que dure muito tempo assim", disse o rapaz, que contratou, com dois amigos, um tour de cinco dias (por 1.500 euros por pessoa).
"Valeu a pena. São férias que jamais vou esquecer", acrescentou, entusiasmado.