Trump vai retomar tarifas sobre alumínio e aço do Brasil e da Argentina
Segundo o norte-americano, ambos os países estão desvalorizando propositalmente as suas moedas em relação ao dólar; medida terá efeito imediato
Tamires Vitorio
Publicado em 2 de dezembro de 2019 às 08h42.
Última atualização em 3 de dezembro de 2019 às 12h53.
São Paulo — O presidente dos Estados Unidos , Donald Trump , publicou em seu perfil no Twitter que irá reinstaurar as tarifas sobre aço e alumínio do Brasil e da Argentina. Segundo Trump, ambos os países estão desvalorizando propositalmente as suas moedas em relação ao dólar.
"O Brasil e a Argentina têm presidido sobre uma desvalorização maciça de suas moedas, o que não é bom para os nossos agricultores. Portanto, com efeito imediato, restaurarei as tarifas de todos os aços e alumínio enviados para os EUA desses países", afirmou ele.
A Associação Brasileira do Alumínio (ABAL) diz que as exportações de alumínio brasileiro aos EUA já pagam sobretaxa.
"Esse acerto foi ratificado no ano passado com governo Trump, quando este abriu a possibilidade de substituir a sobretaxa por cotas limitadas de exportação. Na época, optamos pela sobretaxa e seguimos assim desde então", diz a nota.
Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, a restrição tem efeito no setor, que é o mais sensível na relação comercial entre os dois países, mas sem grande impacto nas exportações brasileiras nem para o câmbio no país.
Ele também cita como falta de entendimento da equipe do presidente ao dizer que o Brasil está manipulando o câmbio. "Pelo jeito, a assessoria dele está muito mal informada e permite essas conclusões equivocadas. O que aliás é o normal do Trump", diz Vale, que não vê motivos para que haja retaliações dos EUA em relação ao Brasil.
A mesma visão foi expressa por Gesner Oliveira, economista-chefe da GO Associados, no Twitter:
"Claramente o presidente Trump não entende a natureza das desvalorizações do Real e do Peso, mas ao colocar dessa forma a questão faz reverberar sua retórica anti globalista e é um golpe duro ao Palácio do Planalto que via Washington como um aliado", escreve o economista-chefe da Necton Corretora, André Perfeito, por meio de nota distribuída aos clientes.
A reação desproporcional de Trump sugere que essa talvez seja uma retaliação sobre outros assuntos, como as disputas em relação a tecnologia 5G, por exemplo. "O Brasil está ensaiando se aproximar da China nessa questão".
Em seu tuíte, o presidente norte-americano também aproveitou para criticar, novamente, o Federal Reserve (banco central dos EUA). Para ele, "o Fed também deve deve agir para que os países não se aproveitem mais do dólar forte, desvalorizando ainda mais suas moedas."
Em nota conjunta, os ministérios das Ministérios da Agricultura, Relações Exteriores e Economia disseram que o governo brasileiro tomou conhecimento sobre a declaração de Trump e está em contato com interlocutores em Washington sobre o tema.
Dizem ainda que "o governo trabalhará para defender o interesse comercial brasileiro e assegurar a fluidez do comércio com os EUA, com vistas a ampliar o intercâmbio comercial e aprofundar o relacionamento bilateral, em benefício de ambos os países."
Histórico
Em março de 2018,o governo Trump anunciou novas tarifas de importação no valor de 25% sobre o aço e de 10% com base em "segurança nacional". Parceiros comoCanadá, México e União Europeia foram os mais atingidos.
“Trump escolheu aço e alumínio porque são commodities industriais que ele entende e com que se importa, e porque a produção de aço tem ressonância emocional em partes do Meio-Oeste”, disse Ian Bremmer, presidente da Eurasia, consultoria de risco político à EXAME na época.
O fechamento comercial para supostamente proteger a indústria norte-americana tem sido uma das principais bandeiras de Trump desde a campanha, colocando a China como principal frente de batalha.
Já em maio, após negociações com os governos, Trump se comprometeu em não incluir a Argentina e o Brasil na lista dos países que teriam o alumínio e o aço sobretaxados.