Economia

Petroquímica brasileira ganha tempo para se estruturar, diz especialista

A China roubará as atenções dos investidores internacionais dos setores químico e petroquímico nos próximos cinco anos e colocará o Brasil em segundo plano na rota dos grandes projetos. Quem traça esse cenário é o francês Jean Veillon, 51 anos, presidente mundial e sócio-fundador da Solving International, consultoria de alta gestão com sede em Paris. […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h24.

A China roubará as atenções dos investidores internacionais dos setores químico e petroquímico nos próximos cinco anos e colocará o Brasil em segundo plano na rota dos grandes projetos. Quem traça esse cenário é o francês Jean Veillon, 51 anos, presidente mundial e sócio-fundador da Solving International, consultoria de alta gestão com sede em Paris. Parece péssimo? Bom não é, principalmente se levarmos em consideração que o Brasil precisa de um parque industrial local capaz de reduzir o déficit anual na balança comercial desses setores, que está na casa dos 6,5 bilhões de dólares. Mas esse isolamento teria um lado positivo, na avaliação do consultor: A petroquímica brasileira terá relativa proteção para se reestruturar e crescer. Veillon, que tem a Petrobras na sua lista de clientes, fez uma visita relâmpago ao Brasil no início de novembro e em entrevista à EXAME analisou os rumos do setor.

EXAME - Quais as chances de o Brasil atrair empresas nas áreas de química fina e petroquímica e reduzir o déficit de quase 7 bilhões de dólares na balança comercial?

Jean Veillon- Nos próximos cinco ou seis anos será difícil isso ocorrer, porque não haverá grupos internacionais dispostos a investir na América Latina. Em relação à região, eles são mais observadores do que atores neste momento. Até mesmo os grupos que sempre tiveram uma política de investimentos nesta parte do continente, como Rodhia e Basf, se retraíram. O interesse das empresas americanas e européias agora está concentrado na Ásia, onde o potencial para o crescimento é maior e o custo de operação, menor. A expectativa é que nos próximos cinco anos, cerca de 25% das indústrias químicas americanas e européias passem a ter operações na China.

Qual o cenário para o desenvolvimento do setor no Brasil?

É preciso destacar os recentes avanços da petroquímica brasileira. Foi criada apenas nos anos 70, cresceu de forma dispersa, por meio de pequenas empresas, e ainda é fragmentada. Enfrenta também um problema de escala. O Brasil ainda utiliza muito papel, papelão e madeira e o consumo per capita de plástico é baixo. Mas a petroquímica nacional está se transformando com grande rapidez e acredito que o crescimento do setor nos próximos anos irá se materializar mais pela integração da indústria interna do que pelos investimentos externos. Enquanto o interesse dos americanos e europeus estiver concentrado na Ásia, a petroquímica brasileira terá relativa proteção para se reestruturar. É importante para qualquer país ter uma petroquímica moderna. A Braskem (petroquímica controlada pelo grupo baiano Odebrecht, criada em outubro de 2002) é um exemplo positivo.

Por que a Braskem é um exemplo?

A Braskem está se desenvolvendo e se posicionando sobre a cadeia de plásticos e termoplásticos. Tem influência crescente sobre o setor e vai se manter como foco da reestruturação da petroquímica brasileira, inspirando a competição no setor. A Braskem tem uma gestão eficiente e está no caminho certo para se tornar uma empresa global. O modelo de reestruturação da petroquímica serve como exemplo para outros setores da economia brasileira, como a siderurgia e a metalurgia, que, mesmo tendo alcançado porte expressivo, ainda não têm tamanho para competir com gigantes internacionais.

E qual o papel da Petrobras?

O raciocínio natural de uma exploradora de petróleo é concorrer no mercado petroquímico. Mas não recomendamos que a Petrobrás se torne uma concorrente na petroquímica no Brasil. A melhor estratégia seria tornar-se parceira da Braskem e ajudar na consolidação do setor.

Qual o impacto da formação da Alca nesse setor?

A experiência com a criação do Mercado Comum Europeu nos permite anteciparalguns reflexos positivos: o desenvolvimento da competição, um melhor aproveitamento dos investimentos e a redução de custos na cadeia.

Há quem diga que a Alca pode ameaçar esse setor, ainda em fase de consolidação.

Sempre existem riscos, mas prevalecem mais benefícios do que prejuízos. A Alca tende a trazer competitividade para todas as cadeias. Algumas empresas podem não resistir, mas outras, como a Braskem, que aproveitaram para colocar a casa em ordem, terão vantagens.

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