Soja com certificado socioambiental cresce 21% na safra 2017/18
Mesmo com o crescimento, só 4 milhões de toneladas de grãos produzidos do país possuem certificado RTRS em um total de 120 milhões de toneladas
Reuters
Publicado em 18 de maio de 2018 às 20h48.
São Paulo - A produção de soja com o certificado socioambiental RTRS deve fechar a safra 2017/2018 do Brasil com crescimento de 21 por cento ante 2017, atingindo 4 milhões de toneladas, com produtores interessados em obter um prêmio pela oleaginosa cultivada com padrões ambientais mais elevados.
O volume é pequeno perto do recorde de cerca de 120 milhões de toneladas de soja que o Brasil colheu na atual temporada, mas os dados mostram que esse nicho de mercado é crescente, à medida que consumidores também estão preocupados com a sustentabilidade na produção agropecuária, disse à Reuters o especialista da associação internacional RTRS de soja responsável no Brasil, Cid Sanches.
Para ser certificada pela RTRS, associação formada pelos integrantes da cadeia da soja, como produtores, indústrias e comerciantes, a oleaginosa precisa ter sido produzida em área sem desmatamento desde 2016. As propriedades que ganham o selo também devem cumprir as melhores práticas sociais, empresariais e agrícolas.
Com a certificação, produtores podem ganhar de 2 a 5 dólares por tonelada de soja adicionais, pagos por aquelas indústrias alimentícias interessadas em garantir aos seus consumidores que trabalham com "soja responsável" --o valor é relativamente pequeno perto do preço de uma tonelada de soja (cerca de 380 dólares), mas compensa o agricultor em vários aspectos, não só economicamente, destacou Sanches.
No âmbito ambiental, a RTRS trabalha com padrões superiores à própria lei no Brasil, que permite que os produtores desmatem uma parte da propriedade para realizar a atividade agropecuária.
A soja, contudo, já não é vista como um vetor significativo de desmatamento. As novas áreas agrícolas têm se desenvolvido, em geral, mais em terras desflorestadas no passado, que chegaram a ser utilizadas primeiramente para a pecuária.
A utilização de uma pastagem degradada pela agricultura, por exemplo, exige menos investimentos do que na derrubada de uma mata.
Brasil domina
Se o Brasil, maior exportador de soja do mundo, deve se tornar também o principal produtor da oleaginosa, pela primeira vez em 2018, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o país também lidera de longe na certificação RTRS do produto.[nL1N1SI0WN]
Assim, o Brasil deve responder por 4 milhões das 5 milhões de toneladas de soja certificada no mundo na temporada 2017/18, de acordo com números que serão discutidos em uma conferência dos integrantes da associação global na França, ao final deste mês.
Em 2016/17, a RTRS, integrada por mais de 190 membros no mundo, certificou globalmente 4 milhões de toneladas em todo o mundo, e o Brasil responde por boa parte do crescimento esperado de 1 milhão de toneladas em 2017/18, afirmou Sanches, o consultor da associação no país.
Ele explicou ainda que a demanda da indústria de alimentos pelo produto certificado no mundo está crescendo a uma taxa 10 por cento ao ano, menos do que o crescimento da produção com selo sustentável.
Pela metodologia da RTRS, uma tonelada de soja certificada é equivalente a um crédito de produção de soja responsável, que pode ser trocado através da Plataforma de Comercialização de Créditos da RTRS, permitindo que compradores em qualquer lugar do mundo fomentem a produção sustentável por meio do mecanismo.
Ao adquirir os créditos, as empresas ou organizações podem declarar, publicamente, seu apoio à produção responsável, capitalizando o investimento.
Posteriormente, o crédito é repassado aos produtores na forma de prêmio sobre o preço.
Segundo Sanches, os gastos dos produtores com a contratação de auditorias independentes para obter a certificação RTRS praticamente empatam com os ganhos em um primeiro ano. E nas safras seguintes o prêmio recebido pelo agricultor acaba integrando o lucro da propriedade, que também ganha com benefícios intangíveis de seguir os mais elevados padrões de sustentabilidade.