Setor energético faz autocrítica em Davos por mudança climática
Representantes de empresas e instituições do setor admitiram que as consequências das mudanças climáticas não foram assumidas totalmente
EFE
Publicado em 23 de janeiro de 2018 às 18h22.
Davos - Representantes de empresas e instituições do setor energético fizeram uma autocrítica nesta terça-feira no Fórum Econômico de Davos, onde admitiram que as consequências das mudanças climáticas não foram assumidas totalmente e que é preciso adotar decisões rápidas.
Este não era o objetivo do debate realizado hoje em Davos, que deveria abordar o futuro do setor em sentido amplo, mas todos os presentes reconheceram que este é o maior desafio enfrentado pelas empresas, mas também por autoridades e organizações internacionais.
Na sessão, discursaram o ministro de Ferrovias e Carvão da Índia, Piyush Goyal; a representante das Nações Unidas para a energia sustentável, Rachel Kyte; o presidente da Petrobras, Pedro Parente; o CEO da Schneider Electric, Jean Pascal Tricoire, e o presidente da companhia espanhola Iberdrola, Ignacio Sánchez Galán.
Este último assegurou que a transição para as energias renováveis "não representa um problema, mas uma oportunidade", já que, para a Iberdrola, a mudança climática serviu como um remédio, que permitiu que a companhia aumentasse lucros e dividendos, se tornasse mais competitiva e reduzisse as emissões em 75% nos últimos anos.
Sánchez Galán detalhou que, em todas as partes, a energia vem sendo utilizada como uma arma política e que, em alguns casos, se repetiram erros do passado, que "no final, acabam sendo arcados por consumidores e acionistas".
O empresário espanhol acredita que falta uma política energética "de verdade", porque a tecnologia já existe, mas a indústria está à mercê de decisões políticas, "que nem sempre são acertadas", ao mesmo tempo em que insistiu na ideia de que é preciso menos política na energia e mais políticas energéticas.
Em outro painel, o ministro da Energia do Catar, Mohammed Saleh al Sada, se referiu também às políticas energéticas, que, em parte, são responsáveis por um mundo cada vez mais interconectado.
Sada afirmou que "há cada vez mais jogadores no campo", não só as grandes companhias, mas também os investidores que as apoiam, os órgãos reguladores e os consumidores, algo no qual coincidiu com o CEO da empresa britânica Centrica, Iain Conn.
Segundo Sada, as políticas energéticas ficarão "diluídas, ao invés de polarizadas".
Sánchez Galán lembrou que 195 países assinaram o Acordo de Paris contra a mudança climática, mas poucos deles contam com as políticas energéticas necessárias para cumprir com as metas estipuladas.
Por sua vez, a representante das Nações Unidas, Rachel Kyte, pediu às empresas que tomem decisões "agora", e se mostrou contrária a subsidiar energias que, na realidade, "não são desejadas".
No mesmo sentido se manifestou Jean Pascal Tricoire, que destacou que os consumidores que devem decidir "que tipo de energia eles querem". "As mudanças virão deles, que pedem cada vez mais rapidez e melhores condições", acrescentou o CEO da Schneider Electric.
Além disso, Tricoire indicou que as pessoas querem colocar placas solares em suas casas, mas também querem que as empresas sejam cada vez "mais verdes, mais ecológicas".
Também está planejada a obsolescência do carvão, uma fonte que, segundo o presidente da Petrobras Pedro Parente, será responsável por 20% da energia produzida em 2030.
Sánchez Galán também comentou que "não se trata de apresentar o futuro do setor como uma luta entre o petróleo e o gás, por um lado, e a eletricidade, por outro", já que tanto o petróleo, como o gás, têm "grande futuro".
Goyal, representante do governo da Índia, cujo premiê, Narendra Modi, pronunciou hoje o discurso inaugural da 48ª edição do Fórum Econômico Mundial, se referiu também à transição necessária para fontes alternativas de energia, em busca de soluções para cumprir com as metas do Acordo de Paris.