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Sai o operador, entra o político

Escolhido para o BC, Henrique Meirelles terá de agradar ao mercado financeiro e enfrentar a ira dos radicais do PT

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h17.

A escolha do goiano Henrique de Campos Meirelles para a presidência do Banco Central (BC) mostra que o governo Lula dá seus primeiros passos no necessário caminho da conciliação. Meirelles, 57 anos, 28 anos de sistema financeiro e uma trajetória profissional muitíssimo bem-sucedida, debutou na política há seis meses. Foi o candidato a deputado federal mais votado proporcionalmente em seu estado natal, Goiás. Detalhe: em sua primeira - e única - eleição, Meirelles defendeu as cores do PSDB, que digladiou-se com o PT nos dois turnos da eleição presidencial. Ao anunciar que aceitava o cargo, Meirelles disse também que estava desligando-se do PSDB "para não criar constrangimentos para o governo".

Sua escolha foi considerada positiva pelo mercado financeiro. Meirelles não pavimentou a carreira nas mesas de operações, como Armínio Fraga. Ao contrário, destacou-se em posições executivas. Dirigiu primeiro a empresa de leasing do Banco de Boston (depois BankBoston), depois o banco no Brasil e, finalmente, chefiou as operações do Fleet (que comprou o BankBoston em 1998). A experiência no exterior foi saudada pelo mercado como um ponto extremamente positivo. "O fato de ter um nome com experiência internacional, que conhece bem os problemas do país e tem a visão de um banco estrangeiro, dá mais envergadura para o Banco Central", diz Aury Ermel, diretor de investimentos do banco Sudameris. "Agora é provável que ele indique uma pessoa com mais experiência de operador de mercado para a diretoria de política monetária."

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Se não é um grande operador, algo essencial para um ano em que o Banco Central terá de bater duro para manter a inflação sob controle, que qualidades Meirelles pode agregar? A principal é a capacidade de entender a economia do ponto de vista de um executivo, de alguém acostumado a fazer negócios bem-sucedidos no setor financeiro. O ex-presidente do BankBoston no Brasil sabe escolher bem as pessoas e se cercar dos melhores nomes para obter resultados.

Além disso, é visto como alguém com sensibilidade política para liderar o BC, trunfo não desprezível quando se pensa na frágil maioria parlamentar do governo Lula. A escolha, aliás, já foi alvo de críticas por parte dos deputados do PT mais à esquerda. O deputado federal Luciano Zica, ex-petroleiro e que integra a base sindical do PT, disse à Agência Estado que a indicação de Meirelles o deixou frustrado: "Realmente, não nos agradou. Esperávamos gente com um outro perfil".

Zica não foi uma voz isolada. O deputado João Batista Babá (PT-PA), chegou a lançar uma nota à imprensa dizendo que com estes ministros, não haverá mudança de modelo . A nomeação do ex-presidente do BankBoston como presidente do BC é uma indicação que reforça a continuidade da política econômica de FHC , afirma Babá. Essa indicação, feita depois de Lula ter recebido a bênção de George Bush e os mercados financeiros internacionais, bate de frente com o programa de governo proposto durante a campanha eleitoral e votado pelo PT no 12º Encontro, onde com total clareza se indicava a necessidade de uma ruptura com o modelo econômico vigente."

Meirelles é considerado um homem de sensibilidade política suficiente para lidar com essas pressões. Suas primeiras declarações foram tranqüilizadoras. Ele louvou a disponibilidade dos membros da atual diretoria do BC de permanecer nos cargos durante a transição e também elogiou a gestão de Armínio Fraga. Porém, ao mesmo tempo que elogiou o governo que sai, o executivo preocupou-se em afinar o discurso com o do governo que entra. "A finalidade principal de qualquer política econômica é o crescimento, o resto são meios para chegar l", disse Meirelles. Alguém aí falou em aderência às metas de inflação?

Colaborou Kei Marcos Tanaami

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