Economia

Rumo ao novo oeste

A migração para a periferia chique aumenta a distância entre o subúrbio e o Centro

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h12.

São Paulo está crescendo para o oeste. Municípios como Embu-Guaçu, Itapevi e Jandira, localizados a oeste da região metropolitana, estão entre os que mais cresceram entre 1996 e 2000, todos mais de 5% ao ano. Em conjunto, os 15 municípios do oeste cresceram nesse período 2,7% ao ano, muito acima do 1,8% da Grande São Paulo. Assim, a população dessa região atingiu 2,3 milhões de habitantes em 2000, o dobro, por exemplo, da população de Campinas.

Diferentemente de outras áreas periféricas, a novidade na região oeste é a presença de sítios e condomínios fechados, com famílias de alta renda em municípios como Barueri (onde se encontra o condomínio de Alphaville), Cotia, Santana de Parnaíba (condomínio de Tamboré) e oeste de Embu. Tais características têm importante repercussão para o mercado consumidor local e para a dinâmica econômica e social de toda a região metropolitana. O principal efeito econômico do crescimento da região oeste está na significativa evasão fiscal em curso no município de São Paulo. Contribuintes de alta renda deixam de recolher IPTU na capital e empresas migram para novos centros de serviços, como os de Alphaville, estimuladas por generosas alíquotas de ISS. A perda de contribuintes mais ricos é uma péssima notícia para a cidade de São Paulo, que tem de prover de serviços mais de 10 milhões de habitantes.

Do ponto de vista social, esse processo de suburbanização -- que imita a forte expansão dos subúrbios americanos -- implica também uma crescente separação física entre as classes, com o aumento da distância social entre indivíduos de mesma área urbana. É possível imaginar que crianças criadas na elite do condomínio de Tamboré cresçam sem nenhum contato com a realidade social de nossa cidade.

Mas será que São Paulo realmente evoluirá para um modelo urbanístico similar ao dos Estados Unidos, com rígida separação social entre o subúrbio e o centro urbano? A tendência existente parece forte. Por um lado, há um legítimo anseio de famílias de alta renda por espaço, segurança e qualidade ambiental. Por outro, investimentos na área de transporte (como o Rodoanel) certamente contribuem para essa situação, uma vez que o tráfego continua sendo a principal dificuldade para os moradores dos condomínios.

É preciso, porém, refletir sobre os significados desse fenômeno. Analistas da vida social americana apontam a suburbanização como elemento corrosivo para as relações de solidariedade. Esse processo levaria ao aumento da polarização econômica e da segregação social. Os antigos centros urbanos -- as chamadas inner cities -- são muitas vezes áreas decadentes, marcadas pela pobreza e pelo baixo investimento privado e público.

Que cidade queremos no século 21? Paradoxalmente, a legítima reivindicação da classe média por mais espaço e por melhor qualidade de vida pode contribuir para o esvaziamento das áreas centrais e para o aumento da crise metropolitana.

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