Reunião do FMI: críticas aos EUA e temor na zona do euro
FMI remarcou os efeitos negativos que poderia ter a baixa inflação, ao reduzir a demanda e a produção, em uma recuperação econômica ainda frágil na zona do euro
Da Redação
Publicado em 12 de abril de 2014 às 20h08.
Washington - Os potenciais desafios derivados da baixa inflação na zona do euro , e as críticas ao atraso da reforma do sistema de cotas pelos EUA foram os principais temas da assembleia de metade de ano do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BM) que terminou neste sábado.
'O BCE manteve condições monetárias expansivas e deveria considerar mais ações se a baixa inflação persistir', apontou o comunicado do Comitê Financeiro e Monetário do organismo internacional na conclusão de sua reunião de metade de ano.
Durante a semana de conferências e relatórios, o FMI remarcou os efeitos negativos que poderia ter a baixa inflação, ao reduzir a demanda e a produção, em uma recuperação econômica ainda frágil na zona do euro.
O último dado do índice de preços na zona do euro de março se situou em uma taxa anual de 0,5%, muito abaixo do objetivo do BCE de 2%.
O próprio presidente do BCE, Mario Draghi, reiterou em sua participação nas reuniões em Washington que o organismo reitor da política monetária na zona do euro 'mantém sua determinação para atuar rapidamente se for necessário' e que 'não exclui medidas adicionais de expansão monetária'.
Entre elas, são ventiladas 'medidas não convencionais' como os programas de compra de bônus e injeções de liquidez similares às aplicadas pelo Federal Reserve (Fed) nos EUA
Também as políticas do Fed, cujo programa de estímulo monetário já começou a dar marcha ré por conta da melhoria nos EUA, foi objeto de análise pelos líderes econômicos congregados na capital americana.
Por isso, o FMI recomendou que as medidas de política monetária nas economias avançadas devem ser 'cuidadosamente calibradas e claramente informadas', ao apontar suas possíveis consequências nos mercados emergentes que encararão 'condições de financiamento externa menos favoráveis'.
Os mercados emergentes viram diminuir ligeiramente suas economias, após vários anos sendo os motores da economia global perante a recessão dos países avançados, embora ainda seja previsto o crescimento de taxas saudáveis.
Após confirmar que a economia global 'saiu do buraco' produzido pela crise de 2008, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde apontou em entrevista coletiva que o desafio agora é consolidar o crescimento global que ainda qualificou de 'frágil'.
O outro grande tema tanto da reunião do FMI, como do encontro paralelo de ministros de Economia do G20, foi a incapacidade mostrada pelos EUA para tirar adiante a reforma de cotas da instituição internacional, ao ser o único país que ainda não a ratificou.
Neste sentido, o presidente do Comitê Internacional Financeiro e Monetário, o ministro cingapuriano Tharman Shanmugaratnam, assegurou que a reforma de cotas, que envolve outorgar mais peso aos países emergentes, é nossa 'prioridade principal' e pediu aos EUA que ratifiquem esta reforma 'o mais rápido possível'.
Shanmugaratnam ressaltou que se Washington não adotar esta medida como o maior contribuinte do FMI, 'afetaria o sistema multilateral' e marcou como limite até o final deste ano para desenhar alternativas se o Congresso dos EUA seguir sem aprová-la.
Finalmente, as tensões geopolíticas após a anexação da Crimeia à Rússia, e suas possíveis consequências econômicas, não passaram despercebidas no encontro.
Lagarde assinalou que espera que o pacote de assistência financeira a Kiev por parte do Fundo, sobre o qual se chegou um princípio de acordo de entre US$ 14 e 18 bilhões, esteja pronto para final de abril ou começo de maio.
Por sua parte, o secretário do Tesouro de EUA, Jack Lew aproveitou a ocasião para se reunir com seu colega russo Anton Siluanov e transmitir que Washington está preparado para impor 'sanções adicionais significativas' a Moscou se continuar uma 'escalada' da situação na Ucrânia.