Economia

Renda do brasileiro barra expansão dos têxteis

Embora o setor emita sinais claros de recuperação, o poder de compra dos consumidores pode ser afetado pelos futuros reajustes de tarifas públicas

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h55.

A recuperação do nível de renda dos brasileiros ainda é o fator mais crítico para a recuperação das vendas de produtos têxteis e de vestuário no mercado interno. Embora o rendimento médio esteja crescendo, os reajustes nos preços dos serviços públicos, previstos para os próximos meses, podem comprometer o poder de compra dos consumidores.

Em setembro e novembro, os brasileiros sentirão o peso do aumento de até 8,7% nas tarifas telefônicas, que será aplicado em duas parcelas. Segundo a economista Mônica Baer, da consultoria MB Associados, o preço dos combustíveis também pode aumentar até dezembro, pressionado pela alta mundial do petróleo. E, após as eleições municipais, espera-se um encarecimento das tarifas do transporte público. "Parte da renda será absorvida por estes aumentos, reduzindo o dinheiro disponível para consumo", afirmou Mônica.

Para a economista, o problema se agrava, quando se constata que a massa salarial está crescendo pela contratação de pessoas com salários menores, ou seja, sujeitas a sentirem mais no bolso qualquer variação de preços.

Crescimento consistente

O economista Haroldo Silva, da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), concorda que a renda é o principal impulso para ampliar a demanda interna. Mas afirma que os sucessivos números de aumento de vendas, produção e nível de emprego do setor são consistentes e também mostram que os brasileiros não estão apenas consumindo produtos têxteis devido a fatores sazonais, como o forte inverno deste ano.

Por isso, acredita que o bom desempenho do setor irá se manter. "Nos próximos seis meses, as vendas de têxteis e vestuário vão manter o ritmo de recuperação", diz. Segundo Silva, o primeiro sinal de que o crescimento do setor, neste ano, não é passageiro é a abertura de novas vagas nas linhas de produção. Baseado em dados do Ministério do Trabalho, ele lembra que, no primeiro semestre, a indústria têxtil contratou 34 849 funcionários. Em igual período de 2003, o volume foi bem menor: 6 395 contratações. "Esses números são de empregos formais. Isso mostra que a conjuntura está melhor, porque contratar com carteira assinada sai mais caro", afirma Silva.

A indústria têxtil opera, atualmente, com 88% de sua capacidade instalada. Em maio (últimos dados disponíveis), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção física do setor cresceu 2,6% e a de vestuário, 0,9%. A Abit projeta um crescimento de 5% no faturamento que, em 2003, somou 22,7 bilhões de dólares. No ano retrasado, a cifra foi praticamente a mesma: 22 bilhões de dólares.

Comércio

O comércio varejista, principal termômetro do mercado interno, também exibe números positivos. Segundo o IBGE, as vendas físicas de tecidos, roupas e calçados subiram 22,47% em maio, sobre igual mês do ano passado. Foi a primeira vez, neste ano, que esses itens apresentaram desempenho acima da média geral do comércio (10,01%). As exportações irão contribuir para o crescimento do setor. A Abit projeta que as vendas externas aumentarão 25% neste ano.

Em São Paulo, o faturamento do varejo vem crescendo a uma média mensal de 14% neste ano, na comparação com os mesmos meses de 2003. Um dos motivos é que o primeiro semestre do ano passado foi muito ruim, o que deixou a base de comparação muito baixa. Isso significa que, no segundo semestre, a tendência é que as taxas de crescimento sejam menores, quando comparadas com o ano passado. Para 2004, a Federação de Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio) projeta um aumento de 3% nas vendas.

Para a diretora da assessoria econômica da Fecomercio, Fernanda Della Rosa, não há dúvidas de que o mercado interno está mais forte neste ano. Ela também concorda com a avaliação de que o aumento da renda per capita tende a ser comprometida, ao longo do ano, pelos reajustes de tarifas públicas e de preços em geral. Por isso, enfatiza o papel do crediário. "As grandes lojas e magazines operam muito com crédito e é isso que tem ajudado as vendas", diz.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

Recuperação econômica impulsiona índice de confiança em Xangai no último trimestre

Pequim define meta ambiciosa de crescimento econômico com prioridade na qualidade de vida

Cidade de SP abriu 674 mil novas empresas entre 2021 e 2024 — e atraiu 69 mil, diz Nunes

Reforma Tributária será sancionada com vetos em cerimônia no Planalto nesta quinta