Brasil precisa de R$ 1 tri em infraestrutura de transportes
País precisa investir R$ 1 trilhão até 2030 em rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos - o equivalente a 1,17% do PIB, diz estudo da Poli-USP
João Pedro Caleiro
Publicado em 22 de setembro de 2014 às 15h58.
São Paulo - Um trilhão de reais: é este o valor que o Brasil precisa investir em infraestrutura de transportes até 2030 para se equiparar ao padrão de países como Rússia e Austrália.
A conclusão é de um estudo do núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da USP assinado pelos professores Claudio Tavares de Alencar e João da Rocha Lima Júnior com o mestrando Flávio Abdalla Lage e apresentado no final da semana passada na 14ª Conferência Internacional da LARES (Latin American Real Estate Society).
Este número parte de cálculos do ITF (Fórum Internacional de Transportes) em 47 países do mundo, que mostram uma média de investimento em infraestrutura de transportes de 1,17% do PIB anuais entre 2002 e 2013.
No Brasil, este 1,17% do PIB por ano equivale a um total de R$ 1,09 trilhão até 2030, já considerando o crescimento estimado para o período.
O Programa de Investimento em Logística (PIL) lançado em meados de 2012 prevê dobrar os investimentos na área, mas com um valor total de cerca de R$ 240 bilhões – ou seja, só um quarto do necessário.
Mesmo com menos recursos previstos, o plano do governo parte das mesmas conclusões do estudo. A primeira é que o financiamento público não será suficiente para melhorar nossa infraestrutura.
Os aportes do Tesouro para o BNDES já aumentaram muito nos últimos anos, então a única solução possível é melhorar o ambiente institucional para turbinar o mercado de crédito de longo prazo, além de multiplicar as concessões.
A segunda conclusão é que o Brasil precisa variar seu foco. O país depende demais do modal rodoviário, que sempre foi o foco dos nossos investimentos públicos apesar do alto custo relativo.
Como ele responde por 58% do transporte de cargas, no entanto, ainda precisa ser o maior destino de recursos, já que a malha é deficitária e pouco pavimentada:
Malha total (Km) | % pavimentada | Movimentação anual de cargas (Milhões T*Km) | |
---|---|---|---|
Brasil | 1,5 milhão | 14% | 485.625 |
China | 4,1 milhões | 64% | 5.137.474 |
Rússia | 1 milhão | 80% | 247.936 |
Canadá | 1,4 milhão | 40% | 136.393 |
Alemanha | 643 mil | 100% | 468.900 |
Austrália | 823 mil | 43% | 194.906 |
E nem assim tudo estaria resolvido: “para se chegar em níveis mundiais de qualidade seriam necessárias a construção e pavimentação de 814 mil e 772 mil quilômetros de rodovia, respectivamente. Dado que o país levou cerca de 86 anos para construir e pavimentar 221 mil quilômetros, torna-se impossível executar tudo no período”, diz o estudo.
Uma alternativa interessante para países de dimensões continentais e grande volume de produção de produtos de baixo valor agregado como o nosso é o transporte ferroviário.
É por isso que o estudo recomenda duplicar a malha de 30 mil para 60 mil quilômetros ao custo de R$ 364 bilhões, além de investir cerca de um quarto desse valor no transporte por rios e mar.
Transporte | Investimento necessário (em R$) |
---|---|
Rodoviário | 607 bilhões |
Ferroviário | 364 bilhões |
Hidroviário/Marítimo | 85,5 bilhões |
Aéreo | 33,3 bilhões |
Total | 1,09 trilhão |