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Queda de investimento estrangeiro no Brasil obedece à tendência global

O entusiasmo do investidor estrangeiro despencou no último ano, mas não foi apenas com o Brasil. De acordo com números divulgados pelo United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD) no último final de semana, a queda dos investimentos diretos estrangeiros no país está dentro das tendências globais. O Unctad é um órgão intergovernamental ligado […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h02.

O entusiasmo do investidor estrangeiro despencou no último ano, mas não foi apenas com o Brasil. De acordo com números divulgados pelo United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD) no último final de semana, a queda dos investimentos diretos estrangeiros no país está dentro das tendências globais. O Unctad é um órgão intergovernamental ligado à Assembléia Geral das Nações Unidas.

Em 2001, os investimentos diretos para o Brasil sofreram redução de 31,5%, enquanto o fluxo mundial de investimentos estrangeiros caiu 50,7%. Para os países em desenvolvimento, a queda foi de 13,9%. Sem contar a China, a queda é maior: 19,9%.

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"Os dados mostram que a redução dos fluxos de investimentos diretos para o Brasil decorre muito mais de uma queda generalizada do que de problemas domésticos específicos, como as eleições ou uma suposta - e equivocada - menor atratividade da economia brasileira para o investidor", afirmam os analistas da área de pesquisa e estudos macroeconômicos do BBV Banco. "Não questionamos a existência de uma influência dos fatores domésticos, porém não acreditamos que seja causa da maior parte da redução dos fluxos."

Outro levantamento, apresentado ontem pela consultoria americana A.T. Kearney, reforça essa posição. Realizado entre as mil maiores empresas do mundo, apenas 13% dos investidores entrevistados mencionaram as eleições presidenciais como causa da falta de interesse no Brasil. O ranking de confiança preparado pela A.T. Kearney mostra que o país deixou de ser ano um dos que mais atrai a atenção dos investidores estrangeiros, caindo da terceira posição (em 2001) para o 13olugar.

Em primeiro lugar ficou a China, desbancando pela primeira vez os Estados Unidos, que ficaram em segundo.

Já no ranking da UNCTAD, que mede o volume de investimento estrangeiro recebido, o Brasil passou do 2oem 1999 para 3oem 2000 e 4oem 2001 -- entre os países em desenvolvimento.

O BBV Banco faz uma análise destes números e dos tipos de fluxos diretos tratados na pesquisa. Veja os principais pontos do relatório:

Os fluxos para países desenvolvidos sofreram maior redução que os para países em desenvolvimento: 59% contra 13,9%. Grande parte desta diferença se explica pela queda dos processos de fusões e aquisições, que foi de 48,1% no mundo todo. Como 90% das operações realizadas nos países desenvolvidos são fusões e aquisições, é natural que o fluxo de investimento esteja mais reduzido naquelas nações.

Os processos de fusão e aquisição, por sua vez, diminuíram devido à redução do valor de mercado das companhias, à crise generalizada da economia global e à crise da governança corporativa. Esses fatores colocaram em riso o lucro das empresas e seu poder de investimento. Assim, os países desenvolvidos deixaram de colocar dinheiro em empreendimentos exteriores. As maiores reduções em 2001 foram EUA (-30,9%), França

(-52,8%), Bélgica-Luxemburgo (-72,2%), Holanda (-38,3), Reino Unido (-84,5%), Canadá (-25,3%) e Espanha (-49,1%).

  • A queda do Brasil para quarto lugar no ranking de volume tem duas ponderações: o México, que assumiu a terceira colocação, teve uma operação de apenas uma instituição, no valor de 12 bilhões de reais. Isso desloca de forma considerável o resultado. Além disso, em 2001 estavam encerrados os processos de privatização. Descontada a redução do fluxo destinado às privatizações, a queda de investimento direto no país é mais branda: passa de 31,5% para 16,9%.
  • Nos primeiros sete meses de 2002, deixaram de entrar no Brasil 1,8 bilhão de dólares em investimentos estrangeiros, em comparação com o mesmo período do ano passado. Entretanto, ao levar em consideração apenas os fluxos diretos genuínos (fora, por exemplo, fluxos de empréstimos entre matriz e subsidiária ou troca de dívida por investimento), esse valor sobre para 3,3 bilhões -- ou redução de 35%. Explica-se: O país com maior estoque de investimento no Brasil são os EUA, que cortou em 26,2% seu orçamento para investir em outros países (de 2,6 bilhões nos primeiros sete meses de 2001 para 1,4 bilhão). Da mesma forma, a Espanha - segunda maior estoquista de investimento no Brasil. A redução dos espanhóis foi de mais de 57%, passando de 2 bilhões de dólares para 400 milhões. Só estes dois países causaram uma baixa de 2,8 bilhões de dólares no volume de capital estrangeiro que entra no Brasil.
  • Em relação aos setores de destino dos investimentos diretos, a mudança de preços relativos observada na economia brasileira desde 1999 tem favorecido o investimento na indústria. Isso pode trazer benefícios para a balança comercial.
  • Os fluxos de investimentos serão ainda menores no ano que vem - tanto para o Brasil como de forma geral. Para o ano passado, o BBV Banco calculou 16 bilhões em investimentos diretos para o Brasil em 2002. A expectativa parece se confirmar. Para 2003, a projeção do banco é de investimentos entre 12 bilhões e 14 bilhões - nada muito diferente do que se espera para o déficit em conta corrente.
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