Protesto nos portos afeta exportações agrícolas do Brasil
A manifestação de seis horas atingiu importantes portos do país, interrompendo as exportações de soja, milho, açúcar e outras mercadorias
Da Redação
Publicado em 22 de fevereiro de 2013 às 15h03.
Santos - O porto de Santos, que responde por mais de um quarto das exportações e importações do Brasil, amanheceu com seus guindastes e esteiras carregadoras parados nesta sexta-feira, num dia de protesto de trabalhadores portuários contra as reformas propostas pelo governo para o setor.
A manifestação de seis horas, que foi encerrada às 13 horas, como previsto, atingiu outros importantes portos do país, interrompendo as exportações de soja, milho, açúcar e outras mercadorias nos principais terminais brasileiros.
O protesto prejudicou especialmente os embarques de soja, milho e açúcar nos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), os dois principais centros de embarque de produtos agropecuários do país, num momento em que começa o escoamento de uma safra brasileira recorde de grãos.
A movimentação dos trabalhadores acendeu um sinal de alerta no mercado externo, num ano em que problemas logísticos brasileiros já têm atuado como fatores de alta para os preços futuros dos grãos negociados na bolsa de Chicago. Importadores mais cautelosos já têm trocado a origem de alguns carregamentos de soja do Brasil para os EUA.
A paralisação ocorreu contra a Medida Provisória 595, editada pelo governo no ano passado, que muda as regulamentações portuárias e incentiva investimentos privados no setor, com o objetivo de reduzir o custo do frete no país. Mas, na visão dos sindicalistas, a MP fragiliza as relações trabalhistas.
"Estamos tensos. O empresário é forte e o trabalhador é fraco nessas negociações", disse o estivar Geraldo Ventura, que atua como estivador desde 1974 em Santos. Depois de participar da paralisação pela manhã, ele buscava se encaixar na escala de trabalho do turno da tarde no porto do litoral paulista. Mas ele não era o único.
Em um salão quente e abafado, estivadores se aglomeravam em torno de painéis com informações dos navios no porto santista, em busca de uma vaga para trabalhar depois do protesto.
Muitos se diziam satisfeitos com o movimento, mas ainda manifestavam preocupação com os rumos da discussão da MP 595 no Congresso.
Os trabalhadores portuários cancelaram a paralisação prevista para terça-feira da próxima semana, depois que arrancaram do governo em reunião em Brasília, nesta sexta, a promessa de negociação em torno das reformas.
O ministro-chefe da Secretaria dos Portos, José Leônidas Cristino, disse, contudo, que o governo não deverá permitir nenhuma mudança na "essência do projeto".
Os sindicalistas argumentam que as mudanças propostas pelo governo --dentro da MP que visa aumentar a eficiência dos terminais brasileiros e realizar investimentos públicos e privados de 54,2 bilhões de reais no setor-- poderão flexibilizar as exigências trabalhistas para empresas que vierem a operar nos portos.
Para a Força Sindical, cerca de 30 mil trabalhadores se envolveram na manifestações deste manhã em vários portos do país.
EXPORTAÇÃO DE SOJA - O protesto paralisou por seis horas os embarques de soja e milho no porto de Santos, segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).
No porto de Paranaguá, o protesto também parou todas as operações dos 16 navios atracados no porto, sendo três de grãos e farelo de soja.
"Tem um lineup (fila programada para embarques e desembarques) de mais de 90 navios em Paranaguá, mais de 50 em Santos, tudo isso já começa a atrapalhar sim", disse o diretor-geral da Anec, Sérgio Mendes, à Reuters.
Segundo ele, mesmo sem qualquer paralisação, o setor já enfrentaria desafios adicionais para escoar uma safra recorde de grãos, considerando a logística e infraestrutura deficitárias do país.
"Com a quantidade adicional que temos que exportar este ano, não podemos prescindir de nenhuma brecha", afirmou o executivo da Anec.
A safra brasileira deve ajudar a reforçar os estoques globais da soja, após uma quebra da colheita dos Estados Unidos em 2012, tradicionalmente o maior produtor da oleaginosa.
Estima-se que o Brasil deverá liderar a produção e a exportação global de soja na temporada 2012/13.
A manifestação também ocorreu no porto de Vitória.
Segundo o vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquaviários e Aéreos, na Pesca e nos Portos (Conttmaf), José Adilson Pereira, apenas no porto capixaba pararam 1.700 trabalhadores do Órgão Gestor de Mão de Obra (Ogmo), o que teria afetado o trabalho de outros 10 mil trabalhadores do porto público e dos terminais privados.
TRABALHADOR PREOCUPADO - Na visão do estivador Ventura, de Santos, a MP permite que os terminais privados, a serem concedidos pelo governo, contratem trabalhadores de fora do grupo Ogmo, entidade que organiza a escala dos trabalhadores avulsos nos portos.
"Nosso trabalho é por tarefa. Se eu for registrado, vou ter que cumprir horário. A cultura aqui é essa. Difícil mudar." Já o estivador Marco Aurelio Nascimento, que trabalha no porto de Santos desde 1993, teme a concorrência dos novos terminais privados possa reduzir o volume de carga dos terminais públicos.
"Hoje eu tenho trabalho. Mas se não tiver navio naquele ponto (terminal público), eu não tenho trabalho", disse ele, enquanto aguardava a escala no salão do Ogmo.
Santos - O porto de Santos, que responde por mais de um quarto das exportações e importações do Brasil, amanheceu com seus guindastes e esteiras carregadoras parados nesta sexta-feira, num dia de protesto de trabalhadores portuários contra as reformas propostas pelo governo para o setor.
A manifestação de seis horas, que foi encerrada às 13 horas, como previsto, atingiu outros importantes portos do país, interrompendo as exportações de soja, milho, açúcar e outras mercadorias nos principais terminais brasileiros.
O protesto prejudicou especialmente os embarques de soja, milho e açúcar nos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), os dois principais centros de embarque de produtos agropecuários do país, num momento em que começa o escoamento de uma safra brasileira recorde de grãos.
A movimentação dos trabalhadores acendeu um sinal de alerta no mercado externo, num ano em que problemas logísticos brasileiros já têm atuado como fatores de alta para os preços futuros dos grãos negociados na bolsa de Chicago. Importadores mais cautelosos já têm trocado a origem de alguns carregamentos de soja do Brasil para os EUA.
A paralisação ocorreu contra a Medida Provisória 595, editada pelo governo no ano passado, que muda as regulamentações portuárias e incentiva investimentos privados no setor, com o objetivo de reduzir o custo do frete no país. Mas, na visão dos sindicalistas, a MP fragiliza as relações trabalhistas.
"Estamos tensos. O empresário é forte e o trabalhador é fraco nessas negociações", disse o estivar Geraldo Ventura, que atua como estivador desde 1974 em Santos. Depois de participar da paralisação pela manhã, ele buscava se encaixar na escala de trabalho do turno da tarde no porto do litoral paulista. Mas ele não era o único.
Em um salão quente e abafado, estivadores se aglomeravam em torno de painéis com informações dos navios no porto santista, em busca de uma vaga para trabalhar depois do protesto.
Muitos se diziam satisfeitos com o movimento, mas ainda manifestavam preocupação com os rumos da discussão da MP 595 no Congresso.
Os trabalhadores portuários cancelaram a paralisação prevista para terça-feira da próxima semana, depois que arrancaram do governo em reunião em Brasília, nesta sexta, a promessa de negociação em torno das reformas.
O ministro-chefe da Secretaria dos Portos, José Leônidas Cristino, disse, contudo, que o governo não deverá permitir nenhuma mudança na "essência do projeto".
Os sindicalistas argumentam que as mudanças propostas pelo governo --dentro da MP que visa aumentar a eficiência dos terminais brasileiros e realizar investimentos públicos e privados de 54,2 bilhões de reais no setor-- poderão flexibilizar as exigências trabalhistas para empresas que vierem a operar nos portos.
Para a Força Sindical, cerca de 30 mil trabalhadores se envolveram na manifestações deste manhã em vários portos do país.
EXPORTAÇÃO DE SOJA - O protesto paralisou por seis horas os embarques de soja e milho no porto de Santos, segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).
No porto de Paranaguá, o protesto também parou todas as operações dos 16 navios atracados no porto, sendo três de grãos e farelo de soja.
"Tem um lineup (fila programada para embarques e desembarques) de mais de 90 navios em Paranaguá, mais de 50 em Santos, tudo isso já começa a atrapalhar sim", disse o diretor-geral da Anec, Sérgio Mendes, à Reuters.
Segundo ele, mesmo sem qualquer paralisação, o setor já enfrentaria desafios adicionais para escoar uma safra recorde de grãos, considerando a logística e infraestrutura deficitárias do país.
"Com a quantidade adicional que temos que exportar este ano, não podemos prescindir de nenhuma brecha", afirmou o executivo da Anec.
A safra brasileira deve ajudar a reforçar os estoques globais da soja, após uma quebra da colheita dos Estados Unidos em 2012, tradicionalmente o maior produtor da oleaginosa.
Estima-se que o Brasil deverá liderar a produção e a exportação global de soja na temporada 2012/13.
A manifestação também ocorreu no porto de Vitória.
Segundo o vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes Aquaviários e Aéreos, na Pesca e nos Portos (Conttmaf), José Adilson Pereira, apenas no porto capixaba pararam 1.700 trabalhadores do Órgão Gestor de Mão de Obra (Ogmo), o que teria afetado o trabalho de outros 10 mil trabalhadores do porto público e dos terminais privados.
TRABALHADOR PREOCUPADO - Na visão do estivador Ventura, de Santos, a MP permite que os terminais privados, a serem concedidos pelo governo, contratem trabalhadores de fora do grupo Ogmo, entidade que organiza a escala dos trabalhadores avulsos nos portos.
"Nosso trabalho é por tarefa. Se eu for registrado, vou ter que cumprir horário. A cultura aqui é essa. Difícil mudar." Já o estivador Marco Aurelio Nascimento, que trabalha no porto de Santos desde 1993, teme a concorrência dos novos terminais privados possa reduzir o volume de carga dos terminais públicos.
"Hoje eu tenho trabalho. Mas se não tiver navio naquele ponto (terminal público), eu não tenho trabalho", disse ele, enquanto aguardava a escala no salão do Ogmo.