Projeções do PIB caminham para aumento apenas estatístico, diz economista
As sucessivas reduções da previsão de crescimento da economia pelo Banco Central apontam para nível de atividade similar ao do último trimestre de 2020
Fabiane Stefano
Publicado em 20 de abril de 2021 às 13h53.
Última atualização em 23 de abril de 2021 às 09h52.
Com a redução, semana a semana, da expectativa do mercado para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, a projeção do relatório Focus do Banco Central divulgado na segunda-feira, 19, estimou um crescimento de 3,04% da economia nacional neste ano. O valor, que vem sofrendo com as seguidas pioras do prognóstico de recuperação da atividade econômica, se aproxima de uma perspectiva de crescimento meramente estatístico no ano, ou um "zero técnico", como define o economista Arthur Mota, da Exame Invest PRO, braço de análise de investimentos da Exame.
O aumento em torno de 3% do PIB em 2021 significaria que o ano registrou uma média de atividade constante em relação ao último trimestre de 2020, pondera o analista. "Se a economia se mantivesse no mesmo nível do quarto semestre do ano passado em 2021, haveria um crescimento de praticamente 3% em relação à média de 2020", afirma.
Depois da queda íngreme da economia do país a partir de abril do ano passado, o último trimestre registrou um aumento de 10,4% em relação ao período do pico dos efeitos econômicos da pandemia, no segundo tri. Mesmo assim, a atividade era 1,2% mais baixa do que a do ano de 2019 e não impediu o PIB de 2020 de ter uma queda acumulada de 4,1%.
"É puramente um efeito estatístico. Mesmo que não tenha crescimento real e fique travado no mesmo ritmo do final do ano, ainda teria um aumento de 3%. É uma vantagem numérica, basicamente, que não condiz necessariamente com a percepção da vida real, de melhora e retomada de atividade", explica.
Na semana passada, foram divulgados números positivos da atividade dos setores de serviço, que cresceu 3,7% em fevereiro, e do varejo, que teve uma alta de 0,6% no mês. Mesmo assim, o mercado seguiu revendo para baixo o crescimento esperado para o ano. Há quatro semanas, a projeção do relatório do BC que leva em consideração a análise de cerca de 100 economistas, previa um PIB 3,22% maior do que em 2020.
O principal fator que tem levado a esse pessimismo, segundo Mota, segue sendo a rápida escalada da pandemia a partir de março.
Mesmo com o baque provocado pelos meses de disparada de mortes e internações pela covid-19 em março e abril, no entanto, o economista aponta que números positivos de atividade econômica em fevereiro podem mostrar uma perspectiva de queda menor do que a esperada para o primeiro trimestre do ano.
O Índice de Atividade (IBC-Br) de fevereiro, divulgado também na segunda pelo Banco Central, mostrou alta acima do esperado, de 1,7% no mês em comparação a janeiro. O aumento pode dar uma margem melhor para os números do trimestre, que devem ser afetados pela redução das atividades econômicas devido às restrições em março. "A consequência imediata disso é que a gente vai ter uma suavização desse choque no trimestre", avalia.
Com isso, um retorno às projeções de alta para valores próximos às expectativas do mercado de um mês atrás ainda é possível, avalia o economista, dependendo dos resultados do início do ano. "Mas nada surpreendente, é um crescimento para o ano relativamente baixo, dado o carrego estatístico", afirma. Altas maiores, avalia, apenas devem ocorrer se houver aceleração da vacinação e da redução do ritmo da pandemia além do esperado para os próximos meses.
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