Economia

Presidente há 2 dias, Fernández começa a renegociar dívida com FMI

Argentina tem desde 2018 um acordo de ajuste fiscal com órgão, que concedeu crédito de US$ 57 bi, dos quais já utilizou cerca de 44 bilhões

Alberto Fernández: já conversamos com o FMI e já há o reconhecimento do fracasso (Luis Cortes/Reuters)

Alberto Fernández: já conversamos com o FMI e já há o reconhecimento do fracasso (Luis Cortes/Reuters)

A

AFP

Publicado em 12 de dezembro de 2019 às 06h42.

Última atualização em 12 de dezembro de 2019 às 06h43.

São Paulo — Com o desejo de renegociar a dívida e promover o crescimento econômico na Argentina, o governo de Alberto Fernández anunciou que inciará negociações com o FMI nesta quarta-feira.

"Já conversamos com o FMI e já há o reconhecimento do fracasso. O que falta é reconhecer a necessidade de um programa diferente", disse o ministro da Economia, Martin Guzman, um acadêmico de 37 anos e colaborador do Prêmio Nobel Joseph Stiglitz.

Em sua primeira declaração no cargo, Guzman fez um diagnóstico sombrio da economia argentina: "Temos que resolver uma crise econômica e social muito profunda. A situação é extremamente frágil", advertiu, prevendo uma inflação de 55% para este ano no país.

O economista anunciou, sem dar detalhes, um "plano macroeconômico integral" para sair da crise. "Para poder pagar tem que ter capacidade de pagamento e para isso temos que crescer".

A Argentina tem desde 2018 um acordo de ajuste fiscal com o organismo multilateral, que concedeu um crédito de 57 bilhões de dólares, dos quais já utilizou cerca de 44 bilhões.

Mas Fernandez já disse que não solicitará a última parcela desse empréstimo.

Imediatamente, Kristalina Georgieva, chefe do FMI, informou que já havia se encontrado com Guzman antes do argentino assumir o cargo. Naquela reunião, Guzman disse que o FMI reconheceu que o programa anterior com o governo do então presidente Mauricio Macri havia falhado.

"Anos de frustração"

A projeção do FMI para a economia argentina este ano prevê uma queda de 3,1% e inflação acima de 50%, enquanto a taxa de pobreza é próxima de 40%, segundo outras estimativas.

"Temos que dizer isso com todas as letras: a economia e o tecido social estão em um estado de extrema fragilidade, como produto dessa aventura que levou à fuga de capitais, destruiu a indústria e sobrecarregou as famílias. Em vez de gerar dinamismo, passamo da estagnação à queda livre", afirmou Fernandez na terça-feira em seu discurso de posse.

Para o analista político Rosendo Fraga, "o primeiro problema a ser enfrentado por Alberto Fernández é que a sociedade acumula oito anos de frustração".

"No segundo mandato de Cristina Kirchner (2011-2015), em média, o Produto Interno Bruto cresceu 0% e nos quatro anos do (ex-presidente liberal Mauricio) Macri foi de -2%. São oito anos consecutivos de queda do PIB per capita ", disse Fraga, alertando que o presidente deve lidar com as expectativas da população com sabedoria.

Fernández, que foi chefe de gabinete de Néstor Kirchner (2003-2007) e, durante 2008, de Cristina Kirchner, frequentemente evoca a renegociação da dívida alcançada na época, após a Argentina ter declarado em 2001 a moratória sobre 100 bilhões de dólares, a maior da história.

No entanto, o contexto global mudou e está longe do boom de matérias-primas da época, afirmam os analistas.

Para a empresa Capital Economics, "o plano de Alberto Fernández para resolver a crise da dívida argentina aumentando a economia não é uma opção realista...".

Em seu discurso, Fernandez lembrou: se algum dia eu me afastar do compromisso que assumo, saiam às ruas para me lembrar".

Acompanhe tudo sobre:Alberto FernándezArgentinaFMI

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor