Os brasileiros estão mudando seus padrões de consumo, em função de novos hábitos como alimentar-se mais fora de casa e também da tentativa de manter o orçamento familiar sob controle, trocando marcas mais caras por similares baratos. A conclusão é de pesquisa da empresa de consultoria Target Marketing, que analisou o potencial de consumo do país. "Nossos dados não mostram apenas em que o consumidor gastará mais, mas também que o custo de vida está pesando mais no bolso dos brasileiros", diz Marcos Pazzini, diretor da Target.

O potencial de consumo das famílias brasileiras é de 969,4 bilhões de reais, sendo que o consumo urbano responde por 933,626 bilhões e o rural, por 35,871 bilhões. Os dados são da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2002-2003 (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e servem de base para a Target. A partir deles, a consultoria simulou, por meio de modelos estatísticos, o potencial de consumo de 21 itens para este ano e o comparou com 2003.

A conclusão é que, mesmo mantido o nível total de consumo em 969,4 bilhões de reais, foram verificadas grandes variações na demanda por produtos e serviços em relação a 2003. Os gastos com veículos próprios, por exemplo, podem crescer 58,92% de 2003 para 2004, passando de 28,7 bilhões de reais para 45,6 bilhões. As despesas com esse item aumentarão mais para as classes C e D, com altas de 128,35% e 187,34%, respectivamente. Já para a classe A1 (famílias com renda mensal acima de 45 salários mínimos), o item pesará 4,95% a mais neste ano.

Não é somente o aumento dos combustíveis que fez o item veículos próprios se destacar. Segundo Pazzini, os brasileiros também estão trocando o transporte coletivo pelo automóvel próprio. Um indício seria a queda de 57,49% nas despesas com transportes urbanos neste ano, em relação a 2003. Conforme a pesquisa da Target, os brasileiros gastarão, em 2004, 24,439 bilhões de reais com ônibus, trem e metrô, enquanto, no ano passado, gastaram 57,492 bilhões.

Outros itens

Novos hábitos também estão mudando o perfil de consumo neste ano. É o caso da alimentação. As famílias encerrarão 2004 gastando 30,68% menos para se alimentar dentro de casa, somando 115,795 bilhões de reais. Conforme Pazzini, parte desse corte virá do aumento da freqüência com que as pessoas comem fora de casa. A prova é que o país pode chegar em dezembro gastando 12,3% mais com alimentação fora do domicílio. Mas o restante da economia dentro de casa decorre da escolha de marcas mais baratas para consumir. "Para controlar seu orçamento, o consumidor está buscando marcas menos caras", diz Pazzini (leia ainda reportagem de EXAME sobre as armas das empresas líderes para combater as marcas mais baratas).

Em relação aos valores, os gastos com manutenção do lar são os que mais consomem o orçamento das famílias, atingindo 241,343 bilhões de reais. O valor é 31,5% maior que os 183,529 bilhões do ano passado. Conforme a Target, a classe C (famílias com renda mensal entre quatro e dez salários mínimos) responde pelo maior potencial de consumo desse item, com demanda para 75,154 bilhões de reais. O valor é 42,67% maior do que o de 2003.