Economia

Prato de comida de US$ 1 em NY custaria US$ 321 no Sudão do Sul

Essa foi a conclusão dos cálculos realizados pelo Programa Alimentar Mundial da ONU, que analisa o custo relativo de um prato de comida em 33 países

Sudão do Sul: uma pessoa no país necessita gastar até 155% dos seus investimentos diários para conseguir essa mesma comida (Dan Kitwood/Getty Images)

Sudão do Sul: uma pessoa no país necessita gastar até 155% dos seus investimentos diários para conseguir essa mesma comida (Dan Kitwood/Getty Images)

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EFE

Publicado em 18 de outubro de 2017 às 17h05.

Última atualização em 18 de outubro de 2017 às 17h15.

Roma - Um prato de comida que um morador de Nova York paga US$ 1,2 custaria US$ 321 se tivesse que ser feito na mesma quantidade com os investimentos diários que uma pessoa destina em média no Sudão do Sul.

Essa foi a conclusão dos cálculos realizados pelo Programa Alimentar Mundial (PMA) da Organização das Nações Unidas (ONU) em um relatório que analisa o custo relativo de um prato de comida em 33 países.

Em vez de utilizar os preços nominais dos alimentos, o estudo mede a proporção de investimentos diários que uma pessoa em um país pobre ou afetado por conflitos deveria destinar para obter um prato básico de comida e o compara com os esforços de um cidadão de um país desenvolvido.

A referência é o caso concreto de um habitante do estado de Nova York, que usa apenas 0,6% do seu investimento diário nos ingredientes necessários para fazer uma sopa de feijão de 600 calorias.

Segundo o estudo, uma pessoa no Sudão do Sul, que atualmente está em guerra, necessita gastar até 155% dos seus investimentos diários para conseguir essa mesma comida, o que - ajustando ao poder de compra nos Estados Unidos - seria como se um nova-iorquino tivesse que pagar US$ 321 dólares pela porção.

O coordenador do relatório, Andre Vornic, explicou hoje à Agência Efe que, com essa comparação, o objetivo é fazer as pessoas do mundo rico "se colocarem no lugar" de quem tenta se alimentar da forma mais básica em regiões do mundo em desenvolvimento.

Conforme esses cálculos, muitas pessoas em zonas de conflito dependem totalmente da ajuda humanitária, já que não têm nem mesmo recursos suficientes para comprar um prato de comida por dia, cujo custo pode chegar a ser "astronômico".

No nordeste da Nigéria, por exemplo, região afetada pelo terrorismo do Boko Haram, a sopa de feijão demanda 121% dos investimentos diários per capita (equivalente a pagar US$ 200 em Nova York), enquanto que na província de Deir ez-Zor, na conflituosa Síria, a percentagem seria de 115% (o equivalente a gastar US$ 190).

Para refletir sobre essas grandes disparidades no acesso aos alimentos, o PMA se inspirou no Índice Big Mac, da revista britânica "The Economist", que compara o poder aquisitivo nos países onde o famoso hambúrguer é vendido.

"A fome não é necessariamente um assunto de comida. Tem a ver com o custo dos alimentos, com a forma como são produzidos e distribuídos", afirmou Vornic, lembrando que em um mundo onde são produzidos alimentos suficientes, o problema está mais relacionado com as perdas e o mau funcionamento da cadeia.

Segundo ele, no Ocidente a comida é "barata por causa do modo como o sistema alimentar é organizado", focado em conseguir a máxima eficiência, e por outros fatores como maior resiliência das sociedades e melhores padrões de governança.

No entanto, os alimentos são relativamente mais caros pelo funcionamento ruim da cadeia produtiva nos países pobres, que - inclusive em situações de paz - têm que lidar com o impacto do clima, os problemas políticos, a falta de infraestrutura ou uma agricultura ineficiente.

"O conflito exacerba os problemas do sistema alimentar", acrescentou o especialista do PMA.

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