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Por que o terrorismo custa além das mortes?

O efeito mais forte do terrorismo vem do medo e da instabilidade causada por ele nos locais de ataque

Terrorismo: o efeito mais forte do terrorismo vem do medo e da instabilidade (Spencer Platt/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 27 de novembro de 2015 às 08h43.

Ataques terroristas têm efeitos devastadores: vidas são perdidas, famílias destruídas, pânico e revolta tomam conta dos cidadãos. Mas esses efeitos podem ser ainda mais perversos. Afetam a economia do país ou da região alvo do terrorismo .

Note a existência de impactos diretos e mais óbvios do terrorismo na economia: a morte de trabalhadores e a destruição de infraestrutura (como no caso das torres gêmeas nos EUA, no histórico 11 de setembro de 2011) diminuem a capacidade produtiva do país. No entanto, do ponto de vista estritamente econômico, esse efeito negativo é pequeno.

Por maior que seja a tragédia, essas vidas levadas e o que foi destruído representam fração pequena dos insumos (conjunto de elementos fundamentais para o funcionamento da atividade produtiva) do país.

Por exemplo, nos ataques ao World Trade Center, 3 mil pessoas morreram. Trata-se de uma parte minúscula da força de trabalho total americana.

Mas o efeito mais forte do terrorismo vem do medo e da instabilidade causada por ele nos locais de ataque.

Há potenciais consequências ruins sobre setores específicos, como o turismo. Quando uma região é atingida pelo terror, menos viajantes são atraídos, temerosos em relação a novos ataques.

Governos também reagem. Aumentam os gastos em segurança para evitar novos golpes dos terroristas. E para financiar essa despesa precisam ou cobrar mais impostos da população, ou gastar menos em outras coisas, ou fazer dívida.

Ou tudo isso ao mesmo tempo. Logo, o terrorismo traz claramente um custo para a sociedade.

Portos, aeroportos e fronteiras passam por investimentos em fiscalização e na intensificação de medidas de segurança restritivas. Um dos efeitos colaterais disso: desestímulo à circulação tanto de pessoas quanto de produtos.

Isso afeta particularmente o comércio internacional. Preços podem subir para os consumidores e a produtividade da economia do país atacado é fragilizada.

No fim, toda essa instabilidade tende a afugentar investimentos. E em casos extremos pode até espantar habitantes do país atacado.

O que dizem os dados? Artigo acadêmico de Alberto Abadie e Javier Gardeazabal avalia empiricamente (a partir da análise de dados concretos) o efeito do terrorismo.

O objeto do estudo foi o País Basco, região da Espanha que há anos tenta se tornar independente.

Em meio a esta disputa, nasceu o grupo terrorista ETA, cujo motivo para a criação foi conseguir de qualquer maneira a separação da Espanha.

Ao longo dos anos, o grupo terrorista espalhou medo entre os espanhóis, sobretudo entre as décadas de 1960 e 1990. Entre 1968 e 1997, durante quase 30 anos, o ETA foi responsável por 700 mortes.

O curioso desta história sombria: a maior parte das mortes ficou concentrada no próprio País Basco.

Abadie e Guardeazabal comparam a renda per capita do País Basco à média de outras regiões espanholas. A renda per capita basca segue de perto o que acontece no restante da Espanha até 1975. Depois disso, a região começa a crescer mais lentamente. Foi a partir daí também que a atividade terrorista se intensificou.

Estima-se que o terrorismo está associado a uma baixa de 10% na renda per capita do País Basco em relação às demais regiões da Espanha.

Essa diferença aumentou justamente nos anos em que os terroristas do ETA mais atuaram.

Também o caso da Catalunha foi analisado por Abadie e Guardeazabal. A região espanhola, também separatista, não tem grupos terroristas em nome de sua causa.

No mesmo período analisado, nenhum efeito negativo na economia da região foi encontrado – ao contrário da história recente do País Basco.

Eis, portanto, outra evidência dos efeitos nocivos da atividade terrorista na economia.

São Paulo – Em 2014, o mundo perdeu 32.658 mil vidas em decorrência do terrorismo , um crescimento de 80% em relação ao que foi observado em 2013 e o maior nível já registrado. Mas embora o terrorismo esteja deixando o seu rastro de violência, no âmbito global, ele ainda mata 13 vezes menos que o homicídio . As constatações são do Global Terrorism Index 2015 (GTI), estudo anual do Instituto de Economia e Paz, organização que avalia os impactos econômicos da violência, divulgado nesta terça-feira, dias depois dos ataques do Estado Islâmico ( EI ) em Paris , França. A pesquisa revelou que é o EI, que atua principalmente na Síria e no Iraque, e o Boko Haram , cujas atividades concentram-se na Nigéria, os responsáveis por 51% dessas mortes. A maioria dos casos (78%) aconteceu em cinco países (Afeganistão, Iraque, Nigéria, Paquistão e Síria). O GTI nota, contudo, que o terrorismo está se espalhado pelo mundo. Em 2013, atividades foram registradas em 59 países. Em 2014, esse número subiu para 67, incluindo Áustria, Austrália, Bélgica, Canadá e França. A edição 2015 do estudo investigou os padrões de atividades terroristas em 162 países a partir do total de incidentes registrados em 2014, o número de mortes, o número de feridos e os danos patrimoniais decorrentes dos atos. Com base nisso, classificou os países de acordo com os impactos do terror. Quanto mais próxima de dez for a pontuação, mais afetado é o local. Confira nas imagens quais são os 25 mais impactados.
  • 2. Iraque

    2 /27(Getty Images)

  • Veja também

    Classificação geralPontuação
    10
  • 3. Afeganistão

    3 /27(REUTERS/Medecins Sans Frontieres/Handout)

  • Classificação geralPontuação
    9,233
  • 4. Nigéria

    4 /27(Afp.com / Pius Utomi Ekpei)

    Classificação geralPontuação
    9,213
  • 5. Paquistão

    5 /27(Reuters)

    Classificação geralPontuação
    9,065
  • 6. Síria

    6 /27(Bassam Khabieh / Reuters)

    Classificação geralPontuação
    8,108
  • 7. Índia

    7 /27(Reuters/STRINGER/INDIA)

    Classificação geralPontuação
    7,747
  • 8. Iêmen

    8 /27(REUTERS/Khaled Abdullah)

    Classificação geralPontuação
    7,642
  • 9. Somália

    9 /27(Omar Faruk/Reuters)

    Classificação geralPontuação
    7,6
  • 10. Líbia

    10 /27(Esam Omran Al-Fetori/Reuters)

    Classificação geralPontuação
    7,29
  • 11. Tailândia

    11 /27(REUTERS/Athit Perawongmetha)

    Classificação geralPontuação
    10º7,729
  • 12. Filipinas

    12 /27(Erik De Castro/Reuters)

    Classificação geralPontuação
    11º7,27
  • 13. Ucrânia

    13 /27(Reuters)

    Classificação geralPontuação
    12º7,2
  • 14. Egito

    14 /27(AFP)

    Classificação geralPontuação
    13º6,813
  • 15. República Centro-Africana

    15 /27(Ivan Lieman/AFP/Getty Images)

    Classificação geralPontuação
    14º6,721
  • 16. Sudão do Sul

    16 /27(REUTERS/Goran Tomasevic)

    Classificação geralPontuação
    15º6,712
  • 17. Sudão

    17 /27(EBRAHIM HAMID/AFP/Getty Images)

    Classificação geralPontuação
    16º6,686
  • 18. Colômbia

    18 /27(Pedro Ugarte/AFP)

    Classificação geralPontuação
    17º6,662
  • 19. Quênia

    19 /27(Getty Images)

    Classificação geralPontuação
    18º6,66
  • 20. República Democrática do Congo

    20 /27(Luc Gnago/Reuters)

    Classificação geralPontuação
    19º6,487
  • 21. Camarões

    21 /27(Ali Kaya/AFP)

    Classificação geralPontuação
    20º6,466
  • 22. Líbano

    22 /27(Khalil Hassan/ Reuters)

    Classificação geralPontuação
    21º6,376
  • 23. China

    23 /27(Goh Chai Hin/AFP)

    Classificação geralPontuação
    22º6,294
  • 24. Rússia

    24 /27(AFP)

    Classificação geralPontuação
    23º6,207
  • 25. Israel

    25 /27(REUTERS/Ammar Awad)

    Classificação geralPontuação
    24º6,034
  • 26. Bangladesh

    26 /27(REUTERS/Stringer)

    Classificação geralPontuação
    25º5,921
  • 27. Agora veja as homenagens às vítimas do ataque em Paris

    27 /27(Reuters)

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