Exame Logo

Por que as reservas são tão importantes?

Os chamados fluxos de capitais são um animal bipolar: muito otimistas às vezes, muito pessimistas em outros momentos

Real e dólar: outro motivo para ter reservas internacionais é impedir que a moeda nacional se fortaleça muito quando as exportações do país sobem (REUTERS/Gregg Newton)
DR

Da Redação

Publicado em 14 de janeiro de 2016 às 17h26.

São Paulo - As reservas internacionais servem como “colchão de segurança” do país. Em tempos bons, a entrada de dinheiro vindo do exterior numa economia emergente como o Brasil é normalmente grande.

Já em tempos ruins, essa grana voa de volta para casa, muitas vezes freneticamente.

Ocorre que nem sempre essas idas e vindas podem ser explicadas pela situação econômica interna de um país. Os chamados fluxos de capitais são um animal bipolar: muito otimistas às vezes, muito pessimistas em outros momentos.

É para fazer frente a esse comportamento temperamental, que gera instabilidade na economia , que o governo reserva dinheiro que vem de fora nos dias de vacas gordas. Essas reservas internacionais diminuem a chance de ataques especulativos.

Há outro motivo para ter reservas internacionais: impedir que a moeda nacional se fortaleça muito quando as exportações do país sobem – quando, por exemplo, os chineses ficam louquinhos por nosso aço.

Vejamos como pode ser na prática.

Os chineses, animados com nosso aço, compram, compram, compram e elevam o preço do produto, o que faz com entrem mais dólares no Brasil para um mesmo volume exportado.

Isso, por sua vez, faz com a nossa moeda, o real, fique mais cara, mais forte. Isso atrapalha um bocado a vida dos outros exportadores , que vendem outros produtos para outros países, prejudicados pelo fortalecimento do real.

Assim, em certas situações, o governo opta por comprar esses dólares em excesso, devolvendo reais para o mercado. E, desse modo, o real se valoriza menos.

Essa operação tem um custo importante: o dólar que o governo compra é investido lá fora com juro de uns 2%.

E o real que o governo vende aqui dentro para comprar esses dólares não pode ficar circulando por aí. Por quê? Isso geraria inflação. E o que governo faz então? Recompra esses reais e vende os chamados títulos de dívida em troca.

Note o que se passa no fim da operação: o governo fica com dólares de um lado e aumenta a sua dívida do outro. Como o juro da dívida dele é bem maior que 2%, a operação implica em expressivo custo financeiro.

Hoje em dia, portanto, manter reservas é de fato algo que sai caro. Afinal, o juro interno anda bem alto e o externo bem baixo.

Dito tudo isso, o Brasil tem reservas de mais ou de menos? Difícil dizer. Ao que tudo indica, o nível atual é até um pouco elevado, mas, num mundo turbulento como o nosso, uma gordurinha a mais não faz tão mal.

Reservas internacionais servem para pagar dívida?

Andam dizendo nas paragens de Brasília que gente do governo planeja usar parte de suas reservas internacionais (totalizam a dinheirama de 370 bilhões de dólares hoje) para repagar um pedacinho da dívida interna.

A medida tem um lado ruim e um lado bom.

Antes de falarmos destes dois lados, o que a operação implica: o governo vende os dólares dele no mercado, mete reais no bolso e, com esses reais, recompra a própria dívida.

Ao vender dólares e comprar reais, consequentemente, a economia fica com menos reais e mais dólares. Mas o governo pega esses reais aí e troca por dívida.

Do outro lado, claro, os mercados devolvem a dívida para o governo e ficam os reais. Ou seja, os reais que fluíram primeiro para o governo refluíram depois para a economia.

Contabilizando tudo: a economia fica com a mesma quantidade de reais e com mais dólares. O governo fica com menos dólares, mas também com menos dívida interna.

Pronto, entendida a contabilidade da operação!

Dado que há mais dólares na economia e a mesma quantidade de reais em circulação, o dólar se enfraquece um pouco. Ou seja, a operação leva a uma valorização do real. Isso ajuda na inflação, mas atrapalha o exportador – como explicamos mais acima.

Além disso, o governo teria um ganho financeiro. Os tais dólares rendiam muito pouco e a dívida doméstica custava muito caro. Como a quantidade de reais circulando não mudaria, não é verdade que a operação mete fogo na inflação, como dizem alguns.

O problema não é esse. Só seria se a coisa fosse feita em larga escala.

O lado ruim da coisa: o país fica com colchão menor e o governo manda um sinal ruim para os mercados. Isso é mais perigoso. Ao enfrentar sua dívida assim – o que, repetindo, não seria uma operação descabida –, o governo envia um sinal de fragilidade. Mostra que não tem como lutar por um superávit maior nas contas públicas e, por isso, é obrigado a recorrer às reservas.

Se as pessoas entenderem as coisas assim e revisarem para baixo suas expectativas de superávits primários para os anos vindouros, o bicho pega.

Desse modo, o possível impacto positivo da operação sobre o risco-país (diminuição do custo da dívida e melhora das expectativas) pode nem mesmo ocorrer.

Veja também

São Paulo - As reservas internacionais servem como “colchão de segurança” do país. Em tempos bons, a entrada de dinheiro vindo do exterior numa economia emergente como o Brasil é normalmente grande.

Já em tempos ruins, essa grana voa de volta para casa, muitas vezes freneticamente.

Ocorre que nem sempre essas idas e vindas podem ser explicadas pela situação econômica interna de um país. Os chamados fluxos de capitais são um animal bipolar: muito otimistas às vezes, muito pessimistas em outros momentos.

É para fazer frente a esse comportamento temperamental, que gera instabilidade na economia , que o governo reserva dinheiro que vem de fora nos dias de vacas gordas. Essas reservas internacionais diminuem a chance de ataques especulativos.

Há outro motivo para ter reservas internacionais: impedir que a moeda nacional se fortaleça muito quando as exportações do país sobem – quando, por exemplo, os chineses ficam louquinhos por nosso aço.

Vejamos como pode ser na prática.

Os chineses, animados com nosso aço, compram, compram, compram e elevam o preço do produto, o que faz com entrem mais dólares no Brasil para um mesmo volume exportado.

Isso, por sua vez, faz com a nossa moeda, o real, fique mais cara, mais forte. Isso atrapalha um bocado a vida dos outros exportadores , que vendem outros produtos para outros países, prejudicados pelo fortalecimento do real.

Assim, em certas situações, o governo opta por comprar esses dólares em excesso, devolvendo reais para o mercado. E, desse modo, o real se valoriza menos.

Essa operação tem um custo importante: o dólar que o governo compra é investido lá fora com juro de uns 2%.

E o real que o governo vende aqui dentro para comprar esses dólares não pode ficar circulando por aí. Por quê? Isso geraria inflação. E o que governo faz então? Recompra esses reais e vende os chamados títulos de dívida em troca.

Note o que se passa no fim da operação: o governo fica com dólares de um lado e aumenta a sua dívida do outro. Como o juro da dívida dele é bem maior que 2%, a operação implica em expressivo custo financeiro.

Hoje em dia, portanto, manter reservas é de fato algo que sai caro. Afinal, o juro interno anda bem alto e o externo bem baixo.

Dito tudo isso, o Brasil tem reservas de mais ou de menos? Difícil dizer. Ao que tudo indica, o nível atual é até um pouco elevado, mas, num mundo turbulento como o nosso, uma gordurinha a mais não faz tão mal.

Reservas internacionais servem para pagar dívida?

Andam dizendo nas paragens de Brasília que gente do governo planeja usar parte de suas reservas internacionais (totalizam a dinheirama de 370 bilhões de dólares hoje) para repagar um pedacinho da dívida interna.

A medida tem um lado ruim e um lado bom.

Antes de falarmos destes dois lados, o que a operação implica: o governo vende os dólares dele no mercado, mete reais no bolso e, com esses reais, recompra a própria dívida.

Ao vender dólares e comprar reais, consequentemente, a economia fica com menos reais e mais dólares. Mas o governo pega esses reais aí e troca por dívida.

Do outro lado, claro, os mercados devolvem a dívida para o governo e ficam os reais. Ou seja, os reais que fluíram primeiro para o governo refluíram depois para a economia.

Contabilizando tudo: a economia fica com a mesma quantidade de reais e com mais dólares. O governo fica com menos dólares, mas também com menos dívida interna.

Pronto, entendida a contabilidade da operação!

Dado que há mais dólares na economia e a mesma quantidade de reais em circulação, o dólar se enfraquece um pouco. Ou seja, a operação leva a uma valorização do real. Isso ajuda na inflação, mas atrapalha o exportador – como explicamos mais acima.

Além disso, o governo teria um ganho financeiro. Os tais dólares rendiam muito pouco e a dívida doméstica custava muito caro. Como a quantidade de reais circulando não mudaria, não é verdade que a operação mete fogo na inflação, como dizem alguns.

O problema não é esse. Só seria se a coisa fosse feita em larga escala.

O lado ruim da coisa: o país fica com colchão menor e o governo manda um sinal ruim para os mercados. Isso é mais perigoso. Ao enfrentar sua dívida assim – o que, repetindo, não seria uma operação descabida –, o governo envia um sinal de fragilidade. Mostra que não tem como lutar por um superávit maior nas contas públicas e, por isso, é obrigado a recorrer às reservas.

Se as pessoas entenderem as coisas assim e revisarem para baixo suas expectativas de superávits primários para os anos vindouros, o bicho pega.

Desse modo, o possível impacto positivo da operação sobre o risco-país (diminuição do custo da dívida e melhora das expectativas) pode nem mesmo ocorrer.

Acompanhe tudo sobre:Balança comercialComércio exteriorCrise econômicaDinheiroeconomia-brasileiraExportaçõesMoedas

Mais lidas

exame no whatsapp

Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

Inscreva-se

Mais de Economia

Mais na Exame