Brasil: país alcançou PIB máximo no primeiro trimestre de 2014, antes da crise econômica (Getty Images/Getty Images)
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de agosto de 2019 às 15h19.
São Paulo — O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro ainda está 4,8% abaixo do pico de crescimento alcançado no primeiro trimestre de 2014. O resultado positivo para o segundo trimestre de 2019, apresentado no período da manhã desta quinta-feira, 29, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), representa uma recuperação em relação à crise enfrentada pela economia no período recente, mas ainda lenta e gradual, segundo a coordenadora do IBGE para contas trimestrais, Rebeca Palis.
"É claro que a economia vem se recuperando, mas ainda não recuperou tudo. Está recuperando em relação ao ponto mais baixo que a gente teve, mas ainda não chegou aos mesmos patamares de 2014, que seria o pré-crise", disse em entrevista coletiva.
O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 0,4% no segundo trimestre de 2019 em relação ao trimestre anterior, segundo dados divulgados nesta quinta.
O movimento é de fato gradual. O PIB tinha voltado ao patamar de 2010, depois atingiu o patamar de 2011 e, segundo Rebeca Palis, está agora no patamar de 2012.
Neste momento, o PIB está 3,7% acima do ponto mais baixo do PIB, alcançado no 4º trimestre de 2016.
A demanda doméstica, via consumo das famílias e investimentos, sustentou o crescimento de 1,0% no PIB no segundo trimestre ante igual período de 2018, segundo Claudia Dionísio, gerente de Contas Nacionais do IBGE.
"A demanda doméstica é o que está sustentando esse resultado", afirmou Claudia.
A pesquisadora lembrou que o setor externo teve contribuição negativa para o PIB, com alta de 4,7% nas importações e avanço de apenas 1,8% nas exportações, sempre na comparação com o segundo trimestre de 2018. A crise econômica na Argentina, que impacta negativamente as exportações de manufaturados, é um dos problemas do setor externo.
O consumo das famílias, maior componente do PIB pela ótica da demanda, avançou 1,6% no segundo trimestre ante igual período de 2018. Foi o nono trimestre seguido de alta. Inflação dentro da meta, três trimestres seguidos de crescimento real do crédito e uma "leve melhora no mercado de trabalho" sustentaram o avanço no consumo das famílias.
"O consumo das famílias já foi muito maior no passado, mas ele pesa bastante e tem tido crescimentos seguidos, mesmo sendo num patamar menor", afirmou Claudia.
Ainda na demanda interna, a alta de 5,2% na Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, conta dos investimentos no PIB) ante o segundo trimestre de 2018, a sétima seguida nessa base de comparação, está ligada ao avanço das importações, disse Claudia.
"No caso das importações, o crescimento tem a ver com o crescimento da indústria. Os itens que mais puxaram foram relacionados com investimentos, como bens de capital", afirmou a pesquisadora do IBGE.
Segundo Claudia, os principais componentes da FBCF, a produção interna de bens de capital, a importação de bens de capital e a construção civil, registraram desempenho melhor no segundo trimestre do que nos três primeiros meses do ano. No caso da construção, o movimento foi puxado pelo setor imobiliário, já que as obras de infraestrutura continuam com desempenho negativo especialmente por causa dos investimento públicos.
"No investimento, houve essa virada da construção. Construção tem o maior peso nos investimentos", afirmou Rebeca Palis.
O cenário externo e a crise argentina afetaram o resultado do setor externo no PIB. Na comparação com o segundo trimestre de 2018 as exportações cresceram 1,8%, um ritmo bem menor que o das importações (4,7% de alta). Apesar do resultado positivo, as vendas externas já foram mais robustas em trimestres anteriores. "A gente tem todo o cenário externo e a crise argentina justificando um crescimento mais achatado das exportações", disse Claudia Dionísio.
Entre os destaques na exportação estão petróleo e gás, derivados de petróleo, produtos alimentícios e metalurgia. "Em outras épocas a indústria automotiva estaria ali", chamou a atenção. A Argentina é o principal parceiro comercial do Brasil no setor automotivo.
Do lado da importação, a alta de 4,7% na comparação com o mesmo trimestre do ano passado foi puxada por produtos relacionados a bens de capitais (máquinas e equipamentos) e petróleo e gás.
A queda recorde de 9,4% nas indústrias extrativas contribuiu com cerca de -0,3 ponto porcentual para o resultado do PIB brasileiro no segundo trimestre, em relação ao segundo trimestre de 2018, calculou Rebeca Palis. Ou seja, o PIB poderia ter crescido 1,3% no segundo trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, caso as extrativas tivessem apresentado estabilidade.
"Mas realmente tem um efeito em cadeia, porque a economia toda está relacionada. Essas atividades são todas correlacionadas", lembrou Rebeca, confirmando que o impacto na economia pode ter sido ainda mais negativo, se consideradas as atividades correlacionadas às indústrias extrativas que foram indiretamente afetadas.
O segmento extrativo foi impactado negativamente pelo rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho, em Minas Gerais, no fim de janeiro.
Segundo Claudia Dionísio, outras unidades de produção também foram paralisadas, porque houve aumento na fiscalização. "Petróleo e gás também ficaram com queda (no segundo trimestre), mas o que foi mais determinante foi a extração de minério de ferro", lembrou Claudia.