Para metade dos brasileiros, novo presidente terá que abordar Previdência
Mais da metade dos brasileiros acredita que o sistema ainda é sustentável por muitos anos, diz pesquisa da Ipsos para a Fenaprevi
João Pedro Caleiro
Publicado em 12 de junho de 2018 às 11h52.
Última atualização em 12 de junho de 2018 às 12h50.
São Paulo - 49% dos brasileiros acham que o próximo presidente deve tratar da questão da Previdência enquanto 33% acham que o assunto não deve estar na agenda e 19% não têm opinião.
Os resultados são de uma pesquisa da Ipsos para a Fenaprevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida) divulgada nesta terça-feira (12) em um fórum da Fenaprevi em São Paulo.
Foram ouvidas 1.200 pessoas em 72 municípios na primeira quinzena do mês de abril, e a margem de erro é de três pontos percentuais.
43% daqueles ouvidos acham que uma reforma da Previdência será necessária no futuro, taxa próxima dos 38% que não veem necessidade de alterar o sistema.
“Os brasileiros continuam divididos sobre o tema. Mas na pesquisa anterior, de 18 meses atrás, quase ninguém tinha ouvido falar da reforma e hoje todo mundo tem uma opinião”, diz Edson Franco, presidente da Fenaprevi.
A visão de que uma reforma é necessária é mais alta na região Sul (58%) e mais baixa na região Norte (31%, e mais alta entre os homens (46%) do que entre as mulheres (40%).
O governo de Michel Temer apresentou sua proposta de reforma do sistema em dezembro de 2016. Novas versões diluíram as mudanças, mas não foram capazes de angariar o apoio necessário.
Por ser uma emenda constitucional, o projeto precisa ser aprovada em dois turnos por dois terços da Câmara (308 dos 513 deputados), e em duas votações no Senado, também por maioria de dois terços (49 dos 81 senadores).
Com a aprovação da intervenção federal de segurança pública no Rio de Janeiro em fevereiro, ficou suspensa a tramitação de qualquer emenda constitucional e a reforma ficou para o próximo governo.
Sustentabilidade e corrupção
Mais da metade dos brasileiros (51%) acreditam que o modelo brasileiro de Previdência ainda é sustentável por muitos anos, na contramão do diagnóstico da maior parte dos economistas.
21% não tem opinião formada e apenas 28% acreditam que o modelo não sobrevive por muito mais anos.
Ao mesmo tempo em que veem o sistema como sustentável, mais da metade (53%) aponta que a Previdência deve se manter apenas com verbas arrecadadas pelo INSS para este fim - o que já não acontece.
"Isso é muito preocupante. Há uma clara conclusão de que as pessoas não entendem o tamanho e a importância do déficit", diz Franco.
A Previdência consumiu 63% das receitas tributárias de 2017, ou 57% de todas as despesas primárias, e teve rombo recorde de 268,799 bilhões de reais em 2017, alta de 18,5% sobre o ano anterior.
Estes dados do governo somam o déficit dos sistemas urbano (R$ 71,709 bilhões) com o rural (R$ 110,740 bilhões) e o do regime próprio de servidores públicos e militares (R$ 86,349 bilhões).
Três quartos dos ouvidos apontam a corrupção, e não o modelo de sistema ou o envelhecimento da população, como o maior problema da Previdência no Brasil.
"A corrupção virou uma desculpa para tudo, também pelo momento que a reforma foi discutida. É um mito que precisa ser desconstruído", diz Danilo Cersosimo, diretor da Ipsos.
A despesa com Previdência já supera 13% do PIB, mas a população com 65 anos ou mais é de apenas 8%. Países com mesmo nível de gasto costumam ter população idosa acima dos 14%.
"A gente tem o hábito de olhar para o Brasil como se fosse muito diferente dos outros países. Em Previdência, realmente somos", disse Marcos Lisboa, presidente do Insper, na abertura do evento.
"Postergamos a reforma da Previdência por tempo demasiado. O mundo inteiro fez e nós não; fomos irresponsáveis", completou.